Entenda por que o Outubro Rosa é todo dia

Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de Jornalismo

Breast cancer month, a woman in a white T-shirt with a satin pink ribbon on her chest, a symbol for breast cancer awareness campaign in October

Outubro acabou há quase um mês, mas não a luta contra o câncer de mama. Nos últimos anos, o movimento de conscientização sobre a doença passou a ser também um momento de reflexão sobre a saúde da mulher. O tema precisa estar na pauta todos os dias, todos os meses, e até o final deste texto você vai entender o porquê.

Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), desde o início da pandemia houve uma baixa de 45% no número de exames de mamografia. Em grande parte, isso se deve porque houve uma concentração de esforços dos profissionais da saúde para o tratamento da Covid-19. A médica Elisa Gaio ressalta que agora o tempo deve ser recuperado o mais rápido possível, pois “a prevenção ainda é o melhor tratamento”.

Ela destaca a importância da reflexão sobre nossas ações. Não somente das mulheres, mas também da família que serve como fator crucial de incentivo para o enfrentamento de doenças graves. “O empoderamento da paciente é necessário, mas a família ajuda muito, até mesmo antes do diagnóstico”, explica.

Mesmo não sendo um diagnóstico simples, é a partir da mamografia que os médicos percebem os primeiros sinais do que pode vir a se tornar um câncer. Através desse método, é possível que a paciente realize os tratamentos corretos e alcance a cura antes mesmo de desenvolver a doença.

A mamografia é feita a partir dos 40 anos. Dependendo da idade da paciente, o exame pode ser adiantado, quando há casos de histórico familiar. “Para essas pacientes, é importante reforçar que embora apenas 5% dos cânceres sejam hereditários, é indispensável uma avaliação para saber se você é portadora da doença”, diz Elisa.

“Todas as vezes em que uma paciente jovem apresenta a mama densa, a mamografia é complementada com o ultrassom de mama”, diz a médica. Isso é necessário para descobrir a doença ainda no início.

Preste atenção aos sinais

Larissa Warnavin, professora integrante do curso de Geografia na Uninter, tinha 35 anos quando começou a manifestar sinais de fadiga, em 2017. “Agora as pessoas sabem o que é fadiga, por causa da Covid. Mas quando eu falava que estava fatigada, muitos diziam que era frescura”, conta. Por estar sempre muito ocupada com o trabalho, Larissa achava que não era nada grave.

“Eu fiquei seis meses nesse processo, até que em 2018 comecei a sentir uma dor terrível no ovário esquerdo”. Larissa conta que estava considerando as dores apenas uma cólica. Até que acordou em uma madrugada sentindo tanta dor que não foi possível ignorar, e então percebeu que tinha algo errado. “Nós temos que ouvir nosso corpo, ele dá os sinais”, comenta.

Mesmo o médico tendo alertado sobre o risco de ser algo mais grave, como um câncer, Larissa optou por não ficar internada. “Passei o final de semana trabalhando e na segunda-feira tive o diagnóstico de câncer no ovário”, ela conta. Logo foi encaminhada para um cirurgião e deu início aos tratamentos.

O choque veio quando soube que precisaria remover os ovários. “Aquilo foi difícil de aceitar, eu neguei o tempo todo. Mas também me permitiu enxergar a realidade de que nem tudo é como queremos”, diz. Larissa conta que chegou a visitar outros médicos, buscando alternativas, mas os diagnósticos eram sempre o mesmo.

Para ela, a parte mais chata do tratamento “é ver que sua rotina se torna somente aquilo”. O ir e vir de exames se torna cada vez mais cansativo. “Eles vão tomando conta da sua agenda e quando você vê, não tem mais espaço pra nada”.

Hoje, ainda em tratamento, ela conta que o pior de tudo sempre foi ter que contar para as pessoas. “Foi complicado lidar com tudo aquilo e ter que pensar em como falar com minha família e amigos. Essas questões pessoais são as que mais pesam”, relembra.

A professora ressalta a importância do apoio e do suporte nesses momentos. “Em algum momento a gente supera a dor, até esquece. Mas o apoio, o carinho, esses ficam guardados para o resto de nossas vidas”.

Políticas públicas contra o câncer

Implementado na Constituição de 1988, o SUS (Sistema Único de Saúde) é a principal referência para o tratamento e prevenção ao câncer de mama. A integralidade de assistência prevista no SUS contempla, além do atendimento médico e hospitalar, ações de promoção da saúde como a campanha do Outubro Rosa.

Apesar da amplitude da campanha, o número de novos casos continua aumentando no Brasil, e o câncer de mama segue sendo a principal causa de morte de mulheres. “Não podemos ficar caladas diante disso. Temos que exigir dos nossos governantes uma maior assistência e preocupação com a questão do câncer de mama”,  diz a coordenadora dos cursos de Tecnologia em Saúde Pública e Gestão Hospitalar da Uninter, Ivana Busato.

Dados de um panorama de atenção do câncer de mama no SUS, realizado pelo Instituto Avon em parceria com o Observatório de Oncologia, mostram uma situação preocupante. Segundo o levantamento, o diagnóstico de câncer de mama é feito tardiamente em 40% dos casos, e em 36% o início do tratamento só acontece 60 dias após o diagnóstico. A velocidade do diagnóstico define a forma como a doença vai ser tratada, e quanto mais tarde for feito, mais difícil será o tratamento.

“Não vou dizer que esse é um problema só do SUS. Mas nós precisamos que essa estratégia política seja repensada e ocorra uma melhora na entrega do diagnóstico precoce, com urgência”, enfatiza Ivana. Hoje, no Brasil, a cobertura de mamografia para mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos é de apenas 23%. Além disso, 98% dos municípios no país apresentam uma cobertura abaixo de 70% da população-alvo.

A região Norte se destaca entre as piores situações: apenas 13% das mulheres conseguem acesso à mamografia. “Nós temos um problema muito grave de interiorização de serviços de saúde no Brasil”, comenta Ivana, destacando que a melhora no acesso a esses serviços nas regiões mais remotas já deveria ser considerada uma prioridade.

Com base nos dados de 2015 a 2019, que ficam registrados no sistema de informação ambulatorial do SUS, Ivana destaca que do total de mulheres diagnosticadas com câncer de mama, somente 23% foram diagnósticos precoces, e 47% foram feitos quando a doença já estava agravada. “Não são só números, são vidas sendo prejudicadas”, afirma.

Outro dado preocupante é que esses diagnósticos são ainda mais desfavoráveis para mulheres de 40 a 49 anos. “Ou seja, a faixa etária em que a mulher está no mercado de trabalho, em que a maioria já teve filhos. Isso passa também uma imagem de falta de tempo e atenção com essas mulheres”, comenta.

Quando trazemos essas informações para questões de raça e cor, o cenário fica ainda pior. Das mulheres brancas, 63% conseguem o diagnóstico precoce. Já no caso de mulheres negras, esse índice fica abaixo de 50%.

Ivana encoraja a tomada de ação: “Com esses dados, a gente deve exigir mais atenção dos nossos governantes. Podemos e devemos cobrar políticas melhores e mais inclusivas”.

Como prevenir?

Fazer os exames preventivos ainda é a melhor forma de descobrir a doença ainda em estágio inicial. Outras medidas diárias também podem ser adotadas, como evitar o consumo em excesso de álcool, manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios físicos. Não é preciso correr uma maratona, uma caminhada leve de 30 minutos já pode fazer muito pela sua saúde.

Essas pequenas ações de rotina ajudam a prevenir o câncer de mama de forma bastante significativa. “São medidas simples para seu dia a dia que trazem um grande resultado para sua vida”, conclui a médica Elisa Gaio.

O evento Outubro Rosa: Elas por Elas, foi realizado pela Uninter no dia 19.out.2021. Além da oncologista Elisa Gaio e das professoras Ivana Busato e Larissa Warnavin, o evento contou ainda com as presenças de Thereza Cristina Lima, Dinamara Machado, Debora Veneral, Alessandra de Paula, Josiane Ribeiro e Fernanda Fonseca.

A live ocorreu no canal do Grupo Uninter no YouTube, e você pode conferir a transmissão completa clicando aqui.

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Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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