Ensino híbrido é mais do que só misturar aulas presenciais e online

Autor: Mariane Kraviski*

Desde meados do mês de março, início da quarentena no Brasil, escolas e faculdades estão fechadas para evitar aglomerações e manter o isolamento social, para assim inibir a propagação do coronavírus.

Posto isto, professores e estudantes iniciaram, de forma virtual, um ensino emergencial, realizado de suas casas através do uso de TDIC (Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação), usufruindo de plataformas já utilizadas na educação a distância. Passados alguns meses, o ensino emergencial passou a ser um ensino intencional e fomos nos acostumando com o “novo normal” da educação, pois já nos encontramos há um semestre trabalhando neste modelo, que foi denominado de ensino não presencial.

Por diversos fatores, sejam políticos, sociais ou financeiros, algumas escolas e faculdades estão planejando para o segundo semestre o retorno das aulas presenciais no ambiente físico, com metade das turmas presentes e a outra metade permanece com aulas online. Mas, o que tem me preocupado, é que estão denominando este retorno às aulas de ensino híbrido.

O principal objetivo do ensino híbrido é colocar o estudante no centro de sua aprendizagem, protagonista do seu próprio conhecimento, desenvolvendo nele capacidades como: ser ativo, participativo, pensante e colaborativo. Não podemos confundir o ensino híbrido (que é uma metodologia ativa) com o que as escolas estão querendo implantar, mesclando aulas presenciais com aulas virtuais. Se o papel do aluno não mudar, não será ensino híbrido.

O que é ensino híbrido?

É muito mais do que a mistura da aula presencial com a aula online. São combinações de atividades, com diferentes propostas, que se baseiam em deixar o estudante no centro de sua aprendizagem e o professor, neste caso, deixa de ser um mero transmissor do conteúdo, como tradicionalmente exerce, e passa a ser o mediador da aprendizagem.

Nessa abordagem, o estudante realiza seus estudos em diferentes ambientes, executa estratégias mais ativas de atividades práticas, nas quais participa ativamente na resolução de projetos, problemas, estudos de caso, discussões, dentre outros. Realiza pesquisas, fundamenta suas ações com o apoio dos professores, que serão mediadores destas ações, aprende com o trabalho colaborativo e mão na massa com os demais estudantes, em sala de aula ou no ambiente que for estipulado ou conveniente para essa aplicação. O professor tem o papel de incentivar, mediar e problematizar o ensino e aprendizagem, unindo o melhor do presencial e da educação a distância e dará o direcionamento dos estudos, conduzindo o aluno ao aprendizado ativo e autônomo.

O ensino híbrido é uma metodologia, um modelo que faz a integração das TDIC nas atividades de docência. As tecnologias digitais servirão como suporte, pois serão utilizadas com o objetivo de gerar uma aprendizagem significativa no estudante, e que sirvam de complemento e interação e não substituição da aula presencial. As tecnologias são apenas recursos, sendo até mesmo dispensáveis em algumas ocasiões, pois elas precisam alterar a dinâmica da sala de aula, organizando espaços e tempos e interação entre os estudantes.

Inovação na sala de aula e não mistura de modalidades

O ensino online, fiel aos padrões de inovações disruptivas, avançou firmemente de forma ascendente para alcançar uma variedade mais ampla de estudantes e, em certos casos, até começou a substituir o ensino tradicional. Um dos avanços mais significativos foi se basear mais fortemente em experiências físicas, ou presenciais, para fornecer apoio e sustentação para estudantes que aprendem nesta modalidade. A localização física simplesmente não importa, desde que o aluno tenha boa conexão com a internet e disposição para uma experiência totalmente virtual.

São fatores de rupturas almejados há uma década, que hoje estão em momento de implementação e geram mudanças na educação, para uma sala de aula centrada no aluno, para o ensino online no currículo escolar e, principalmente, o hibridismo. Entretanto, visando uma transformação pós-pandemia, este cenário seria o ideal para uma evolução metodológica da educação, desde que mantenha as premissas de personalização do ensino e centralização do aluno no processo de aprendizagem e não continue com a educação tradicionalista transmitida online.

Pós-pandemia

Depois que tudo isso passar, os professores e a gestão das escolas poderão enxergar uma nova maneira de ensinar, quando perceberem que os estudantes são capazes de estudar e aprender muitos dos conteúdos sozinhos, em suas casas, e aproveitar o momento presencial na escola para realizar atividades ativas que desenvolvam uma aprendizagem mais significativa.

Certamente teremos um grande avanço nas competências digitais, levaremos para o presencial a aula invertida, de que muito se fala, mas até então era difícil de ser implementada. Ficará claro para muitos que não há por que explicar determinado conteúdo que o estudante poderá ler, ver e estudar antes, mas trabalhar muito mais na sala de aula presencial, através de projetos de aprendizagem mais ativa, trabalhos em grupo, projetos mais personalizados e uma avaliação mais processual.

São avanços que não faremos de uma só vez, mas será uma tendência em colocar tudo “mais na prática”, usar das metodologias ativas, preparar o estudante antes do encontro presencial e personalizar o processo de aprendizagem. Não somente trabalhar com videoaulas e exercícios, mas realizar nos momentos online, uma série de dinâmicas diferenciadas que gerem engajamento, viabilizando as competências, o desenvolvimento profissional e o projeto de vida do estudante.

A médio prazo, sem dúvida, teremos um forte crescimento dos modelos híbridos e do online mais ativo, com modelos mais flexíveis, mais personalizados, em que os alunos precisarão escolher mais; o que se faz de bom no presencial, que é aprender colaborativamente quando estamos juntos, também será possível fazer no online. São modelos que se integram, quebraremos a barreira entre o presencial e o online, os modelos presenciais serão híbridos e o online terão modelos mais adaptados.

Isso é uma tendência no mundo inteiro e haverá mais o uso da inteligência artificial, de plataformas adaptadas às necessidades de cada aluno, uma formação de professores mais mão na massa, para que ele possa dar conta, tanto para trabalhar no presencial quanto no online.

Com base no exposto sobre o que é e como funciona o ensino híbrido, continuar com aulas tradicionalistas, divididas em momentos presenciais e momentos online não é ensino híbrido, mas, sim, poderíamos chamar de educação híbrida, apenas para aproveitar o significado do “hibridismo”.

* Mariane Kraviski é mestre em Educação e Novas Tecnologias e professora da Área de Educação, da Escola Superior de Educação da Uninter.

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Autor: Mariane Kraviski*


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