Enade e transdisciplinaridade: o que a nova prova quer do estudante

Autor: *Andréia Jung Guidio **Márcio Luiz Jokowiski

As avaliações do Enade vêm refletindo a complexidade do mundo contemporâneo. Questões de Formação Específica (FE) evidenciam uma clara tendência: a valorização da transdisciplinaridade. Esta abordagem rompe os limites tradicionais das áreas do saber, exigindo do estudante leitura crítica e integrada da realidade.

Essa convergência é visível na área da Comunicação, em especial na Publicidade, onde articulações entre temas contemporâneos, competências essenciais e a prática comunicativa são evidentes. O modelo de questões proposto pelo INEP, em 2025, para o ENADE segue esta lógica triádica:

  • Formação Geral (FG): sustentabilidade, diversidade, direitos digitais, ética, impacto das tecnologias;
  • Núcleo Duro: teorias da comunicação, técnicas de produção, planejamento estratégico, direção de arte;
  • Contexto Socioprofissional: legislação, gestão, análise de dados, cenários de crise.

Essa composição exercita múltiplas competências, assim como uma compreensão global e interconectada. Relatórios do INEP, de 2020 a 2024, anunciam esta transdisciplinaridade em questões FE, nos cursos de comunicação:

  • Jornalismo + Direitos Humanos + Legislação;
  • Publicidade+ Greenwashing + KPI;
  • Comunicação Organizacional + Crise em redes + ESG;
  • Audiovisual + Direitos autorais + Tecnologias.

Tome-se como exemplo uma suposta questão do ENADE, para o curso de Publicidade que proponha a análise de uma peça publicitária gerada por IA. O estudante é convidado a refletir não apenas sobre a estética e a eficácia comunicacional da peça (direção de arte), mas também sobre os limites éticos e legais da autoria (direito autoral), a originalidade da produção (design gráfico) e o impacto social da tecnologia (temas contemporâneos). Trata-se de um exercício que exige múltiplas competências e uma compreensão global e interconectada.

Esse caso reflete desafios reais e destaca que ‘obras algorítmicas’ não são automaticamente domínio público. Na verdade, dados, algoritmos e outputs carregam marcas de intervenção humana. O PL 2338/2023, em tramitação, impõe deveres de identificação e remuneração sobre conteúdos protegidos.

Nesse contexto, o ENADE cumpre um papel fundamental ao estimular o pensamento crítico e a capacidade de articulação entre diferentes áreas do conhecimento. Seu objetivo vai além de avaliar conteúdos; é instigar os estudantes a refletirem como cidadãos e profissionais aptos a compreender e atuar em um mundo em transformação.

Portanto, a transdisciplinaridade não é apenas uma tendência pedagógica, mas uma necessidade formativa. Ao integrar saberes e provocar reflexões complexas, o ENADE desempenha um papel crucial na formação de indivíduos mais capacitados para enfrentar os dilemas éticos, estéticos e sociais do mundo hipermoderno.

* Andréia Jung Guidio é Pedagoga, mestranda em Educação e Novas Tecnologias, além de professora da Uninter, onde é tutora no curso de Publicidade e Propaganda.

** Márcio Luiz Jokowiski é Publicitário, Mestre em Comunicação e Linguagens e Especialista em Marketing Integrado, além de professor da Uninter no curso de Publicidade e Propaganda.

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Autor: *Andréia Jung Guidio **Márcio Luiz Jokowiski
Créditos do Fotógrafo: Banco de imagens Pexels


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