Educação como ato de resistência dos povos originários brasileiros

Autor: Evandro Tosin - jornalista

Na reserva indígena de Rio Branco, em Rondônia, habita o povo Tupari. Constituindo uma reserva multiétnica, também convivem outras seis etnias: Aikanã, Arkapú, Aruá, Dejeoromitxí, Kanoê e Makurap. A população Tupari também está presente na reserva Guaporé e em outras aldeias.

Estima-se que no início da década de XX, existiam cerca 3 mil Tuparis. O etnólogo suíço Franz Casper avaliou que o primeiro contato com o homem branco tenha ocorrido na década de 1920. Caspar conviveu com os indígenas, e em 1948, contabilizou 200 indivíduos. Ao retornar à tribo, em 1955, encontrou 66 integrantes da etnia, meses após uma epidemia de sarampo. De acordo com último levantamento de 2015, publicado pelo Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena, foram contabilizados 607 índios Tupari.

Os Tupari e demais outros povos indígenas enfrentaram a exploração e espoliação de seringalistas no século XX e, posteriormente, na década de 1980, passaram a lutar contra garimpeiros. Com início na década de 1990, foram construídas oito pequenas hidrelétricas acima das terras da reserva, o que promove a seca do rio Branco, a mortalidade de peixes e dificulta a navegação dos indígenas.

A questão foi abordada no dia 15 de fevereiro no Global Meeting Uninter,   que teve transmissão ao vivo na página oficial do Youtube Grupo Uninter (clique aqui). O tema da mesa-redonda foi “Educação e os Povos Originários Brasileiros” e contou com mediação da professora Caroline Cordeiro Viana e Silva, tendo como convidados o professor Adam Roth Singerman, da Universidade de Syracuse, localizada em Nova Iorque (EUA) – e a professora da Thiana Maria Becker da Escola de Educação (ESE) da Uninter.

Singerman é norte-americano, possui mestrado e doutorado pela Universidade de Chicago. Sua pesquisa de doutorado contou com o apoio do Fundo Nacional de Ciências, do Fundo de Pesquisa Jacobs no Museu Whatcom. É pesquisador de documentação e análise de línguas nativas da Amazônia com ênfase em fenômenos morfossintáticos de interesse tipológico e teórico. A sua dissertação descreveu e analisou a língua Tupari de Rondônia. Em 2013, visitou a tribo para a realização da pesquisa acadêmica. Desde janeiro de 2023 é professor-assistente no Departamento de Línguas, Literaturas e Linguística da Syracuse University.

O trabalho desenvolvido por ele recebeu o prêmio Mary R. Haas Book Award 2020 da Sociedade para o Estudo das Línguas Indígenas das Américas (SSILA). A tese está disponível clicando aqui. Desde julho de 2020 é editor associado para linguística para o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi e Ciências Humanas (clique aqui).

“Entre os Tuparis, diria que você pode ouvir o português ou o tupari falado diariamente. Isso vai depender de que vila você está. Linguisticamente é um lugar bem complexo. As pessoas têm acesso à internet agora. O português está acessível. Quando os funcionários de saúde ou de educação chegam, eles falam português. Nas terras indígenas há uma compreensão que o português é língua nacional, do avanço social, da educação ou da cidadania, para interagir com os serviços públicos”, relata Singerman.

“Quero que as línguas indígenas continuem sendo faladas. O que significa na prática, que continuem sendo ensinadas às próximas gerações. Vemos os mesmos desafios na América do Norte e no Brasil. O Tupari é o único povo da terra indígena do Rio Branco que continua usando a língua materna. Muitas pessoas desta etnia, querem que os filhos saibam o português para falar com os não-indígenas. Tem a pressão socioeconômica e política que incentiva o abandono das línguas maternas ao favor do português. Mas também tem ao contrário. Para continuarem sendo reconhecidos pela sociedade como povos originários, a linguagem é instrumento importante para esse objetivo”, explica o pesquisador.

Para falar sobre o assunto também foi convidada Thiana, que é doutoranda do Programa de pós-graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Mestre em Educação e Novas Tecnologias da Uninter. Thiana falou sobre o conceito de multiculturalismo, diferentes culturas que convivem pacificamente, e que não necessariamente realizam trocas entre si.

“Isso vai formar um olhar mais crítico, humanizado, como vou compreender o outro sem saber da cultura dele? Por exemplo, a cultura indígena tem muito da mitologia. Deixar de lado os preconceitos. Nem sempre aquilo que eles contam talvez faça sentido para você. Isso não significa que você não vai respeitar. Trazer o multiculturalismo, o intercultural e a hibridização para dentro da sala de aula para novas perspectivas, para que isso, seja um diferencial na vida e na formação destes estudantes”, explica Thiana.

As leis 10. 639/2003 e 11.645/2008 instituem nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

É importante explicar sobre como funciona a educação dentro das comunidades indígenas. A “Educação Escolar Indígena” é a educação básica ofertada pelo sistema de ensino das Secretarias de Educação às comunidades indígenas, com transmissão de conhecimentos universais e indígenas na escola.

A educação indígena é aquela que acontece dentro da comunidade, sem necessidade de aprendizado da escrita ou conhecimentos universais, mas sim, uma educação realizada pelas próprias comunidades indígenas de acordo com seus costumes e tradições.

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Autor: Evandro Tosin - jornalista
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução do Youtube


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