Dessalinização da água do mar: uma solução para a crise hídrica?

Autor: Kethlyn Saibert - estagiária de jornalismo

A escassez de água potável na Terra é um problema que vem sendo discutido há muito tempo. Apesar de 71% da superfície terrestre ser formada por água, a maior parte se concentra no mar. Ou seja, é salgada. Apenas 2,5% são de água doce, sendo que desta, a maior parte está congelada nas geleiras, e somente 1% está disponível para consumo humano. Por isso, uma das alternativas para resolver o problema é a dessalinização da água do mar.

A dessalinização é um processo físico-químico para retirar o sal da água que vem dos oceanos. Porém, o método é caro e pouco sustentável, já que gasta muita energia proveniente de combustíveis fósseis que contribuem para o aquecimento global. Para discutir a viabilidade dessa técnica no Brasil, a Supermaratona Uninter: Terra – Planeta Água, uma série de palestras que aconteceu entre os dias 18 e 19 de março, recebeu o professor e biólogo Rodrigo Silva. A live, “Dessalinização da água do mar: um futuro possível para o Brasil”, foi transmitida no dia 18.mar.2022, no Youtube do Grupo Uninter.

Rodrigo afirma que o consumo global de água por pessoa ao ano é de 1.200 litros, sendo que “os países industrializados usam significativamente mais água do que os países em desenvolvimento”. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que os seres humanos precisam de pelo menos 20 litros de água por dia para preparar refeições e higiene básica – lavanderia e banho não estão incluídos. Para se ter uma ideia, nos países desenvolvidos como a Alemanha, o consumo médio diário por pessoa chega em até 140 litros por dia.

O desperdício, a poluição, as mudanças climáticas e, principalmente, o crescimento populacional colocam em xeque a distribuição de água potável. Diante desse cenário, a dessalinização parece ser uma alternativa plausível, mas o professor Rodrigo explica que as técnicas disponíveis hoje são custosas para produção em larga escala, como a destilação e a osmose reversa.

Destilação:

A destilação térmica, ou evaporação, simula o ciclo natural da chuva para realizar a dessalinização. Basicamente, a água do mar é aquecida até atingir o ponto de ebulição passando para o estado de vapor. Depois disso, vai para um condensador onde é resfriada e retorna ao estado líquido. A água é coletada e os sais e outros componentes ficam retidos num recipiente.

Osmose reversa:

Osmose é um processo natural que ocorre dentro das células através de uma membrana semipermeável. A água flui de um meio menos concentrado (hipotônico) para outro meio mais concentrado (hipertônico). Na osmose reversa, o processo ocorre inversamente. Nesse caso, o solvente flui do meio mais concentrado para o menos concentrado e isola-se do soluto, por uma membrana que permite a sua passagem.

Na dessalinização, a passagem da água pela membrana ocorre porque a pressão externa é maior do que a pressão osmótica existente, o que faz o líquido se deslocar do lado com maior concentração de sais para aquele com menos concentração dos componentes. A membrana utilizada promove uma ultrafiltração, pois é feita de material semipermeável e sintético, com espessura inferior a 1 mícron. Assim, quando a água se desloca pela membrana, as impurezas ficam retidas e a água se torna pura para consumo.

Rodrigo aponta que esses processos de dessalinização são caros, pois gastam muita energia e manutenção. Ele cita valores para entendermos a dimensão dos custos no Brasil: “Para atender 700 mil pessoas são necessários R$ 480 milhões. Hoje, pagamos 3 reais por m³ pela água tratada. Para termos água dessalinizada, o custo fica em 10 reais por m³. É três vezes mais do que pagamos atualmente”, exemplifica. “Além disso, não produzimos grafenos [um dos materiais utilizados no processo], não produzimos membrana de osmose reversa, tem que vir tudo de fora e o dólar está alto”, pontua o professor.

Além da utilização de combustíveis fósseis que tornam o processo não sustentável, há a questão do descarte da salmoura – e outras substâncias tóxicas para o meio ambiente, tanto para o solo quanto para o oceano. “Pode haver degradação dos corpos hídricos, por assoreamento ou contaminação”, diz.

Atualmente, segundo o site International Desalination Assossiation (IDA), existem 150 países que usam o método de dessalinização para abastecimento de água, especialmente regiões desérticas ou com climas secos, como os países do Oriente Médio e do norte da África. Um dos pioneiros em dessalinização é Israel, onde cerca de 80% da água potável do país é proveniente do mar.

No Brasil, a dessalinização já é praticada em regiões semiáridas, como Ceará, Paraíba, Bahia, Rio Grande do Norte, entre outros. Porém, o processo é realizado em pequenas tiragens devido ao alto custo e à dificuldade de transporte para regiões distantes. Mas a boa notícia é que já existem estudos no país para produzir a técnica com energias mais sustentáveis, como a solar.

Rodrigo cita o Centro de Testes de Tecnologia de Dessalinização (CTTD), no Instituto Nacional do Semiárido (INSA) em Campina Grande, na Paraíba. E o recente projeto do governo do Ceará, que no ano passado autorizou a construção da maior usina de dessalinização de água do mar do país.

“É pesar na balança os prós e contras. Acho que no Brasil, principalmente no Nordeste, é uma possibilidade. Mas a gente tem que buscar alternativas mais sustentáveis”, conclui o professor.

Rodrigo levantou reflexões sobre a dessalinização em live da Supermaratona Uninter. Para conferir a conversa completa, clique aqui.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Kethlyn Saibert - estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *