Como seguir coexistindo?

Autor: Larissa Warnavin e Nicole Witt*

Quando falamos de ecologia, várias concepções vêm a nossa mente: o equilíbrio sistêmico entre organismos, as relações entre os indivíduos ou mesmo a perpetuação das espécies que vivem em nosso planeta. Não obstante, falar em ecologia requer o entendimento de que todos os seres vivos e elementos naturais participam de uma teia que envolve uma dinâmica de trocas para que possam continuar coexistindo.

Fritjof Capra, em seu livro “A teia da vida”, elabora uma análise profunda desses aspectos ecológicos e sobre a necessidade de uma mudança no comportamento da sociedade humana para que possamos alcançar a tão sonhada sustentabilidade. Um dos pressupostos do autor enfatiza que não podemos conceber um problema de maneira isolada, pois eles são sistêmicos, interligados e interdependentes.

Assim, ao colocarmos as ações humanas no centro da discussão sobre a devastação dos ecossistemas, é inevitável ponderar que, ao mesmo tempo que precisamos de recursos naturais para sobreviver, temos a responsabilidade de mantê-los para dar suporte à vida. Talvez uma forma de reflexão seja observar como outros seres vivos atuam sistemicamente para perpetuação das espécies e como, por meio de cooperação, esses mesmos organismos buscam um equilíbrio dinâmico. São as diversas trocas de matéria e energia na natureza que nos mostram que as relações vão além das necessidades individuais.

As florestas podem ser consideradas como superorganismos, em que os indivíduos entrelaçados por meio das suas raízes e redes de fungos trocam nutrientes entre si. Inclusive, Peter Wohlleben, autor do livro “A vida secreta das árvores”, nos conta que ao caminhar em uma floresta se deparou com o que ele achava serem pedras cobertas por musgos, quando ele os retirou, percebeu que na realidade não eram pedras, mas sim, cascas de árvores.

Ao tentar erguer o que pensou, então, ser uma madeira em decomposição, percebeu que os pedaços de madeira não estavam mortos e que, mesmo desprovidos de folhas, mantinham-se vivos. Como podem as células desse tronco permanecerem vivas sem receberem nutrientes? Afinal, nenhum organismo vivo resiste séculos em jejum.

Apesar disso, estava claro para Peter que esse tronco ancião, de mais de 500 anos, recebia, por meio das suas raízes e da rede de fungos, nutrientes das árvores vizinhas, o que mantinha a velha árvore ainda viva. Você deve se perguntar o porquê de as árvores manterem a comunicação e, até mesmo, nutrirem outros indivíduos. Para Peter, os motivos são os mesmos que movem as sociedades humanas: trabalhando juntas elas são mais fortes. Isolada, uma árvore não forma uma floresta, por outro lado, juntas criam um ecossistema.

Essa passagem do livro de Peter Wohlleben e as reflexões de Fritjof Capra apontam que cada indivíduo da comunidade é importante para a sobrevivência de todos, da mesma forma, na sociedade humana, a cooperação é vital para sobrevivência. Portanto, uma vez que almejamos um planeta com maior equilíbrio e respeito entre natureza e sociedade, nossas ações individuais devem visar um futuro comum, daí a necessidade de, nas diferentes esferas naturais e sociais, estarmos cientes que uma das premissas é de termos políticas que vão ao encontro da permanência da vida.

Neste ano, teremos eleições novamente e a pergunta que fica é: até quando vamos aceitar que indivíduos ligados ao poder ajam de maneira isolada, subjugando as comunidades e a natureza? Sem uma mudança no pensamento e nos valores individuais de políticos e eleitores, dificilmente alcançaremos um futuro de coexistência e equilíbrio.

* Larissa Warnavin é Doutora em Geografia. Docente da área de Geociências da Uninter. Nicole Witt é bióloga e especialista em Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Docente da área de Geociências da Uninter.

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Autor: Larissa Warnavin e Nicole Witt*
Créditos do Fotógrafo: Iva Castro/Pixabay


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