Como as ações humanas produzem impactos ambientais

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Com tanta oscilação climática e fenômenos que acontecem em decorrência da exploração desmedida de recursos naturais, as discussões sobre meio ambiente e sustentabilidade se tornam cada vez mais necessárias. Além da pandemia, os desmatamentos, queimadas e poluição do meio ambiente em todas as formas estão acarretando uma série de acontecimentos que afetam a vida humana.

Pensando nisso, a última edição do programa Dialogando com a Geociências centrou-se na temática. Junto aos alunos dos cursos de Geografia e Ciências Biológicas da Uninter, as professoras Vera Rocha e Nicole Witt sanaram dúvidas e discutiram sobre pautas importantes que ligam a ação humana ao desenvolvimento sustentável.

Uso racional de energia e modernização dos processos

A estudante Jane Ferreira, do curso de Ciências Biológicas do polo de Palmeiras dos Índios (AL), observa que falta conscientização da população no gasto de energia, assim como ações do governo que invistam em projetos na área. Ela cita as energias fotovoltaica, eólica e solar como alternativas “muitos eficientes, que diminuiriam a questão da energia elétrica”.

A professora Vera enxerga que há sim uma racionalidade no uso por parte da população, mas por causa do alto custo gerado pela energia. A profissional diz que a questão é pensar em como produzir uma energia renovável de forma mais barata e que há maneiras de o governo incentivar a mudança. Ela cita o caso da Espanha, que anos atrás zerou os impostos para que a população colocasse geradores solares.

“Aqui no Brasil, daria para colocar na minha casa uma turbina eólica. Só que é extremamente caro e se eu for investir nisso, eu vou continuar tendo que pagar pelo menos o mínimo [da taxa de energia]. Eu fiz as contas, no meu caso ia dar 15 anos pagando o investimento”, explica.

Nicole lembra que o Brasil já vem diversificando a matriz energética do país, visto que “não depender só de hidrelétricas é uma coisa importante”. A docente ainda lembra do biodigestor, um sistema que “poderia vir a sanar vários problemas ambientais que nós temos em cultivos, produções agrícolas, suinocultura”. Ela completa dizendo que “cabe a gente, consumidores, a escolha de produtos que tenham uma eficiência energética melhor”.

Oscilação climática

Karina Oliveira, estudante do curso de Geografia no polo de Amambaí (MS), relata que a região onde mora costuma ser mais fria, mas este ano tem sentido temperaturas elevadas que ocasionam muitas tempestades. Além disso, a seca e a falta de água têm sido mais evidente.

Vera explica que quando há o desmatamento e tudo vira pasto, automaticamente as temperaturas se elevam. Mesmo que haja dias mais frescos, a oscilação faz parte do desequilíbrio do aquecimento global. Ela ressalta que não são ações pontuais que causam isso, mas sim a soma de décadas, e as consequências surgem todas de uma vez. A professora alerta que a estimativa para a regeneração de um bioma é de 50 anos, desde que não haja mais destruição.

“Não adianta eu começar a tomar uma atitude agora e achar que daqui dois anos eu não vou ter tempestade, que as temperaturas vão abaixar. Nós demoramos décadas para deixar a Terra dessa forma. Para fazer o trabalho contrário, nós temos que ir para a mesma linha, vai demorar décadas também”, afirma.

Segundo Nicole, talvez seja a partir deste cenário ruim que as pessoas comecem a despertar para uma consciência ambiental. “Talvez seja o momento de a gente olhar com outros olhos para a mudança que está acontecendo e tentar, de alguma maneira, construir um futuro melhor. Porque senão, daqui para frente é ladeira abaixo”, salienta.

Consumismo desenfreado

O graduando de Geografia Valdinei Luz Junior, do polo da Uninter de Campo Largo (PR), comenta que muitas empresas utilizam-se do marketing verde para atrair clientes, e o próprio avanço tecnológico ocasiona uma troca de produtos muito mais acelerada. Isso gera uma produção de lixo muito maior, muitas vezes descartado de forma que prejudica o meio ambiente.

De acordo com Nicole, as indústrias vêm deturpando a ideia de desenvolvimento sustentável, tornando a mercadoria muito mais cara e nem sempre entregando aquilo que se coloca no rótulo. Ela cita a Europa como um bom exemplo, pois lá criaram um selo verde e os Estados atribuem com a verificação dos produtos e empresas que atendam a princípios importantes. Algo que ainda não existe no Brasil.

“Mas eu acredito que parte muito da gente, enquanto consumidor, olhar esse tipo de produto, o que essa empresa de fato faz e fazer essas escolhas. Outro lado seria, de fato, termos um selo brasileiro, mas autenticado. Com critérios mais rígidos para que a gente pudesse ter esse controle”, ressalta.

Vera lembra também da obsolescência programada, produtos que são fabricados com tempo determinado de validade para estimular os clientes a comprarem outros, com novas versões. Ela diz que se as empresas realmente quisessem trabalhar em prol do meio ambiente, isso seria mudado.

Nicole, por sua vez, destaca a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Através da logística reversa, as grandes empresas de produtos tecnológicos têm obrigação de receber os produtos descartados e dar um destino correto. “Cabe a gente levar a essas empresas e elas deveriam colocar isso de uma maneira mais clara”.

Queimadas no Pantanal

As queimadas devido à seca e a limpeza da vegetação para a criação de pastos é algo que acontece com certa frequência, mas neste ano os índices chegaram a níveis muito maiores e preocupantes.

De acordo com Nicole, o levantamento é que de 20 a 23% do bioma do Pantanal foi queimado de janeiro a outubro de 2020. Isso equivale a mais de 10 vezes a extensão da cidade de São Paulo (SP). Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 98% dos focos não são de incêndios naturais.

Em julho, através de um projeto de lei, o presidente e o ministro do meio ambiente proibiram as queimadas do Pantanal por 120 dias. Mesmo assim, nos meses seguintes, muitas autoridades negavam que o bioma estava sendo tomado pelo fogo, levando além da vegetação, a morte de muitos animais.

“Se em julho se fala em proibir as queimadas, não dá para dizer que não estava se sabendo que o Pantanal estava em chamas desde janeiro. Acredito que tomar uma iniciativa a partir de setembro, com tudo acontecendo já desde antes, é um pouquinho demorado”, diz Nicole.

A professora Vera lembra que queimadas são proibidas e para realiza-las é preciso uma autorização, nem sempre solicitada antes de fazer o procedimento. “Tem lei? Tem. Então qual é o problema? É a gente, que tem que seguir para dar tudo certo. É uma questão cultural”, completa.

Guilherme Velho, estudante do curso de Geografia no polo de Araranguá (SC), acredita que a forma de cultivar através das queimadas é ultrapassada, ainda mais o Brasil sendo um país que tem o agronegócio em sua economia.

“Nós temos outros métodos para se fazer isso, que são mais sustentáveis. Reconhecidos a nível mundial como um país do agronegócio, que produz bastante alimento, podemos fazer diferente e de forma que sejamos reconhecidos não só por um país com uma agricultura forte, mas com uma agricultura forte e sustentável”, afirma.

Esses e outros assuntos foram discutidos em uma transmissão ao vivo, realizada através da página de Geociências da Uninter. As professoras Franciele Estevam e Thaisa Nadal mediaram o chat da live, que continua disponível.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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