Burnout e empatia – qual a relação?

Autor: Alessandra de Paula*

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o burnout, cujo significado é exaurir e esgotar, como um “fenômeno ocupacional”. Mas, só recentemente a síndrome foi oficializada e incluída na revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que entrou em vigor em 1.º de janeiro de 2022.

“O burnout é um transtorno de ansiedade com contexto exclusivamente laboral, ou seja, a causa do estresse é a relação com o trabalho”, diz Ana Paula Tognotti, psicóloga. Daniele Nazari, também psicóloga, completa: “Os sintomas passam a interferir em todas as áreas da nossa vida. É como uma sensação de cansaço extremo, falta de energia e motivação para realizar tarefas diárias”, que acarretam perda da eficiência e baixa produtividade.

Os principais fatores que contribuem para desencadear as crises da síndrome de burnout são os horários de trabalho muito desorganizados, com excesso de horas trabalhadas e prazos não flexíveis, não dando quase espaço ao descanso e ao lazer. Além disso, a falta de integração entre os membros da equipe, a presença de chefes autocráticos e abusivos, ameaças e inseguranças quanto à estabilidade no emprego contribuem para desequilibrar psicologicamente o profissional.

Marilda Lipp, pesquisadora sobre burnout e fundadora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS), relata que a síndrome de burnout impõe uma barreira entre o indivíduo e o exercício profissional e aponta que “quanto mais sofrimento o paciente apresenta, mais indiferente o profissional parece se tornar, como se existisse uma barreira poderosa”.

Não existem dados estatísticos precisos em relação ao número de brasileiros que são afastados do trabalho devido à síndrome de burnout, mas, entre 2017 e 2018, o índice de solicitação de auxílio-doença cresceu de 196 para 421, e pode-se levantar a hipótese que um grande número dessas solicitações foi devido ao burnout.

International Stress Management Association (Isma-BR) calcula que 32% dos trabalhadores no país padecem de burnout, ou seja, cerca de 33 milhões de cidadãos brasileiros. Entre os profissionais mais atingidos podem ser elencados policiais, professores, jornalistas, médicos e enfermeiros.

Como a síndrome está relacionada ao trabalho, a empatia, que pode ser entendida como a capacidade que o indivíduo apresenta de se colocar no lugar do outro, de compreender (ou tentar compreender) os sentimentos e emoções dos colegas, num ambiente em que haja escuta ativa, pode contribuir para a redução dos sintomas.

Na empresa em que há empatia, as pessoas procuram ajudar-se, demonstram interesse umas pelas outras, dividem o “fardo”, tentam compreender melhor o comportamento dos colegas.

Aplicada no ambiente de trabalho, a empatia contribui para uma melhor conexão entre as pessoas, torna o ambiente corporativo mais agradável, retendo talentos e fortalecendo a equipe por meio da conciliação de interesses e necessidades individuais com os interesses da empresa.

Para ter um bom clima organizacional, evitando o desenvolvimento da síndrome, deve haver mudanças culturais e gerenciais na empresa, com líderes verdadeiramente empáticos, que saibam ouvir os colaboradores, valorizem suas opiniões e criem canais de comunicação eficazes.

Em resumo, deve-se buscar a humanização do ambiente de trabalho, tornando-o inclusivo e com respeito à diversidade, com flexibilização de horários, se houver necessidade, promovendo diálogos, com troca e valorização de ideias.

* Alessandra de Paula é professora da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter.

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Autor: Alessandra de Paula*
Revisão Textual: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Karolina Grabowska/Pexels


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