Brasil poderá ser o epicentro de novas doenças pandêmicas

Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo

A 2ª Maratona de Saúde da Uninter, promovida pela Escola de Saúde e transmitida no dia 30.abr.2021, contou com 12 horas de palestras sobre assuntos diversos relacionados a bem-estar, saúde, ciência e meio ambiente. Na palestra “Meio Ambiente no pós-pandemia: o que nos espera?”, o professor Rodrigo Silva, coordenador do curso de Gestão Ambiental, falou sobre as principais causas para a propagação de vírus e novas doenças.

Segundo ele, a globalização e o nosso comportamento de consumo são fatores chave para a disseminação de novas doenças pelo mundo. O professor cita um estudo de 2007 que já alertava para o potencial pandêmico do coronavírus. A pesquisa “Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus como Agente de Infecção Emergente e Reemergente” aponta que os morcegos-ferradura são reservatórios naturais do vírus SARS-CoV, e que as civetas (mamífero usado para produzir o café mais caro do mundo por meio de suas fezes) são os hospedeiros da amplificação desse vírus. O levantamento destaca a importância da preservação da vida selvagem e da biossegurança em fazendas e mercados úmidos, que podem servir como fonte e centros de propagação de infecções emergentes em seres humanos.

Rodrigo ainda cita que o documento já revelava outros fatores que são uma bomba-relógio de contaminação e mutação de vírus. São eles: tráfico e consumo de animais selvagens; avanço de fronteiras florestais; mudanças climáticas; e vírus pouco conhecidos e letais. De acordo com o professor, lamentavelmente, o Brasil possui todos esses aspectos.

“Essas condições para surgimento de novas doenças são muito clássicas do Brasil. O Brasil é um dos principais lugares em que se trafica e consome animais silvestres no mundo. Nós estamos avançando com nossas fronteiras florestais, nós estamos desmatando e entrando numa grande caixa preta. As mudanças climáticas já estão fazendo com que haja uma nova forma de interação entre homem e animal”, explica Rodrigo.

Sobre os vírus poucos conhecidos e letais, o Brasil possui micro-organismo diversos em seus biomas que possuem alto grau de contaminação em seres humanos. O professor aponta o estudo científico “Gestão imprópria do ecossistema natural na Amazônia brasileira resulta na emergência e reermegência de arbovírus”, que constatou que existem 187 diferentes arborvírus com potencial infectante na região amazônica. Os arbovírus são vírus hospedados essencialmente por artrópodes, como os mosquitos, sendo os principais as espécies Culex e Aedes aegypti.

Além disso, há um estudo de 2010 que comprova que os “ribeirinhos” (pessoas que vivem na bacia amazônica) já tiveram contato com diversos arboviroses. O professor ressalta que mesmo que esses vírus estejam na região Norte, o desmatamento e o avanço de fronteiras florestais podem facilitar a infecção em seres humanos. “Quanto mais a gente avança para dentro dos ambientes naturais, mais próximos nós estaremos desses animais e, consequentemente, nós estaremos mais próximos dos vírus”, salienta.

Hantavírus

Um vírus que tem alta letalidade e está presente no Brasil é o hantavírus, que causa febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR). No país, a taxa de letalidade é de 50%. A transmissão acontece por meio de contato com roedores e morcegos, principalmente pela inalação dos odores da urina e fezes desses animais. As principais vítimas são trabalhadores do campo.

Rodrigo relembra que o Brasil é um dos principais produtores do setor agrícola e pecuária e salienta a necessidade de políticas públicas eficientes para o controle sanitário, afim de evitar o surgimento de zoonoses.

O que nos espera até 2030?

O professor aponta um estudo de 2007 que prevê a destruição da Amazônia até 2030, divulgado pelo grupo de cientistas do Woods Hole Research Center, no Estados Unidos, em uma conferência da ONU. A pesquisa diz que 55% da Amazônia pode ser destruída até 2030 por uma combinação de agricultura, pecuária, atividade madeireira, queimadas e secas.

Diante desse cenário, Rodrigo diz que podemos enfrentar problemas como mudanças climáticas, desmatamento e invasões de espécies exóticas, poluição da água e do solo. “Se nós não levarmos isso como política pública de preservação ambiental, nós temos todo o potencial para sermos o epicentro de uma nova pandemia. Isso é fato. A ciência está dizendo isso”, enfatiza o professor.

Estudos de mais de 10 anos atrás já alertavam para o que estamos vivenciando hoje. Rodrigo faz um alerta: “Acreditem na ciência. Não é que a ciência tenha certeza das coisas, mas quando a ciência fala alguma coisa é porque ela tem evidência sobre aquilo, e evidências fortes”. O professor conclui sua fala com uma menção à frase do renomado cientista francês Louis Pasteur: “Os benefícios da ciência não são para os cientistas, e sim para humanidade.”

Para conferir a palestra completa de Rodrigo Silva, acesse a página oficial do evento, no Facebook.

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Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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