Analfabetismo: um problema superado?

Autor: Edna Gambôa Chimenes*

Temos discutido muito sobre a educação e as novas tecnologias, novo formato da educação, acesso etc. Contudo, o analfabetismo ainda é um problema persistente da educação brasileira.

A taxa de analfabetismo tem caído ao longo dos anos, mas de forma lenta, sendo que, de acordo com o último Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Educação), realizado em 2020, ainda temos 11 milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever. É claro que devemos observar a queda considerável, já que em 2018 tínhamos 6,8% de analfabetos, e em 2019 passamos para 6,6%. Porém, apesar desses índices, isso mostra que há muitas pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não desenvolveram a capacidade de ler e escrever nem em situações/textos mais simples, do dia a dia.

Mas o que significa falar de alfabetização? Precisamos entender que não se trata apenas das competências e habilidades de leitura, escrita e cálculos matemáticos, mas, acima de tudo, é a possibilidade de avançar nas dimensões sociais, econômicas e culturais. Tudo isso está diretamente ligado às diferenças e limitações da inclusão do sujeito, comprometendo o desenvolvimento de sua cidadania, já que a sociedade contemporânea exige, cada vez mais e de forma complexa, o domínio da leitura e escrita, inclusive no ambiente digital.

No Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em 2014, o prazo para as metas, inclusive do combate ao analfabetismo era até 2024. Porém, vemos que alguns desses objetivos possivelmente não serão atingidos, devido a falta de investimento na educação, comprometendo as metas estabelecidas para a melhoria e qualidade do ensino no país.

O relatório de análise feito pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, em 2021, aponta o déficit no cumprimento das metas colocada no PNE, como por exemplo, a erradicação do analfabetismo. A meta para esse quesito era ter 93,5% dos brasileiros, acima de 15 anos, alfabetizados até 2015. Além disso, foi proposto que, até 2024, seria erradicado o analfabetismo absoluto, e reduzido em 50% o analfabetismo funcional. O que temos até hoje? A meta de 2015 foi atingida apenas em 2020! E o quadro de analfabetismo funcional aumentou! Em 2015, 27% da população de 15 a 64 anos era analfabeto funcional; e em 2018 (dados mais recentes), esse número passou para 29%, contrariando a expectativa colocada pelo PNE.

Sabemos que muito do que temos visto na educação hoje é reflexo da pandemia, que ocasionou o afastamento das crianças da escola. Mesmo com o atendimento remoto, foram notáveis as diferenças do acesso à tecnologia e as dificuldades das famílias em auxiliar os alunos no processo educacional, em especial na fase de alfabetização.

Além de toda essa problemática trazida pela covid-19, a falta de um novo censo demográfico, que deveria ter sido realizado em 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), poderá prejudicar o monitoramento dessas metas, e novos planos para a correção de ações que auxiliassem na melhoria dessas taxas.

O que é importante frisar e colocarmos em pauta permanente é que as diferenças continuam presentes e devem ser olhadas de uma forma mais crítica, mesmo que ao seu redor, onde temos real acesso e condições de atuação. Não adianta planejarmos e discutirmos o letramento digital e as novas ferramentas, se nossos alunos não tiverem condições mínimas, alfabetizados, para utilizarem tudo isso a favor de uma efetiva construção do conhecimento.

* Edna Gambôa Chimenes é graduada em Letras e Pedagogia, mestre em Estudos de Linguagens e Tutora dos cursos de pós-graduação na área de Comunicação da Uninter.

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Autor: Edna Gambôa Chimenes*
Créditos do Fotógrafo: Anher/Pixabay


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