Amanda transforma fé em propósito na educação

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

“Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos”. É através dessa passagem da Bíblia (Provérbios 16:9) que Amanda Milanez Leite enxerga a trajetória que trilhou até o momento, aos 31 anos de idade. A jovem, que se via como “uma improvável”, passou a acreditar ser usada por Deus para aprender e espalhar o conhecimento no auxílio a outras pessoas.

Curiosa por natureza e hiperfocada nos propósitos que recebe através da fé que possui, Amanda foi conduzida, a cada escolha, para a missão de divulgar e dar suporte a pais, mães e responsáveis no acolhimento de crianças neurodivergentes. 

Após o nascimento dos três filhos, dois deles com laudos dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), ela busca agora a profissionalização no curso de Psicopedagogia da Uninter para ampliar cada vez mais o alcance dos projetos em desenvolvimento, no polo em Itapetininga (SP).

Amanda se formou em uma graduação pela primeira vez em 2014, na área de Administração de Empresas. Na época, já havia trabalhado como colaboradora em dois negócios, mas após a conclusão, se dedicou à empresa familiar que o marido, Gustavo, tinha em sociedade com os pais. Dois anos depois, com a chegada da primeira filha, tudo se transformou.  

“Deus muitas vezes nos revela o caminho, mas não dá detalhes da caminhada. [Como diz em] Jeremias 29:11: ‘Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro’. Precisamos apenas confiar e mudar de rota, sempre que necessário, mesmo que não seja agradável a nós e aos que nos rodeiam”, afirma.  

A primogênita Laura, hoje com nove anos, nasceu prematura, com 36 semanas de gestação, 1,7 quilos e 41 centímetros. Depois de um sofrimento fetal, Amanda deu à luz em um parto de emergência, considerado pelos médicos “um milagre”. Devido aos cuidados necessários, a mãe passou a se dedicar mais à casa e à família que ela e Gustavo começaram a construir naquele momento. Juntos há 16 anos, o casal agora tem o lar mais preenchido, com a chega de Davi, de cinco anos e 11 meses, e Manuela, de dois anos de idade.  

O primeiro laudo, de Davi, que confirmou o TEA, foi recebido em abril de 2023, há pouco mais de dois anos. No entanto, a mãe conta que já existiam desconfianças desde o primeiro ano e meio de idade, por questões de atrasos no desenvolvimento, em especial a fala e a interação social. Mesmo com um atraso, quando veio o diagnóstico, o filho já estava em tratamento multidisciplinar.  

Laura, pelo contrário, se desenvolveu rápido. Com um ano e oito meses de idade, cantava músicas de uma forma que todos compreendiam e a comunicação se mostrava para além do esperado para a idade. Sempre agitada, falante, curiosa, hiperativa e apegada ao pai. Ao buscarem recursos médicos, em junho de 2024, veio a confirmação de TDAH com interfaces emocionais e altas habilidade (quando o quociente de inteligência, o QI, é considerado acima da média). 

Amanda comenta sobre o “baque” que a família sente ao receber, mas também da tristeza ao ver famílias negligenciando o tratamento e bem-estar dos filhos por meio da negação. Essa postura, de acordo com ela, apenas prejudica o desenvolvimento e acessos para que a criança seja acompanhada, investigada e instruída por profissionais capacitados. 

“Tanto de um quanto do outros, eu tinha praticamente certeza do laudo, mas só me tranquilizei quando estive com o papel em mãos […] As pessoas costumam dizer que passamos por um luto, mas as pessoas precisam entender que nenhum laudo vai definir seu filho e a forma que ele vai viver”, salienta. 

Para Amanda, “o laudo é uma segurança. Através desse documento, podemos exigir coisas que são de direitos deles, podemos buscar entender, buscar informações para auxiliá-los no desenvolvimento, social, educacional e emocional”. Ela acrescenta que, com o suporte e a disposição da família para mudar a realidade que a sociedade impõe à crianças com laudos, “tudo muda”.  

No caso da caçula Manuela, os pais ainda não iniciaram nenhuma investigação com acompanhamento médico, mas já observam e estão atentos a comportamentos de rigidez, compulsividade e hiperatividade. 

“A sociedade não está preparada” 

Devido a situações vividas na antiga escola, Amanda e Gustavo transferiram Davi para uma outra instituição. Públicas ou privadas, a mãe acredita que a maior parte das escolas, e mesmo da sociedade, não estão preparadas para a atenção e adaptações que as crianças necessitam. Pois não possuem profissionais especializados que recebem e dão apoio à alunos com laudo.  

Os três filhos estudam na rede pública de ensino e, de acordo com Amanda, Davi “teve um salto de desenvolvimento gritante”, já que a equipe da instituição atual o acolheu e conta com professores voltados para educação especial. Da mesma forma, Laura também foi transferida para uma escola de período integral e tem apresentado desenvolvimentos significativos.  

“Já fui chamada de louca quando quis que meu filho aprendesse a pegar corretamente em um lápis e aprendesse a escrever seu nome. Ouvi que ele tinha o tempo dele. Entendo que cada criança tem seu tempo, mas não é por isso que eu não posso enxergar a capacidade deles, em se desenvolver e aprender. Com estímulo ele pode, sim, se desenvolver, aprender e interagir” explica Amanda.  

A estudante de Psicopedagogia ressalta que entende as dificuldades de infraestrutura e recursos internos necessários para as mudanças, mas acredita que muito do tratamento prestado acontece de acordo com cada profissional, que se mantém atualizado com informações que hoje se encontram em fácil acesso, mesmo de forma gratuita. 

“Existem dias em que nos sentimos no limite, incapazes e até frustradas, porém quando vemos cada avanço, cada sorriso no rosto daquela criança que conseguiu vencer mais uma etapa, é gratificante, nossas forças são renovadas e restauradas”, garante a mãe.  

Arco-íris de aprendizados  

Foi nesse caminho que Amanda disse sentir queimar no coração “a vontade de levar ensino, conhecimento e amor ao próximo”. Mesmo sem uma formação concluída, a experiência que adquiriu com os filhos a fez tomar esse propósito como uma missão. Por isso, já possui um arquivo digital para auxiliar pais, educadores, terapeutas e demais profissionais, a partir do que já vivenciou e enfrentou como mãe de crianças neurodivergentes. O livro interativo de atividades, nomeado Arco-íris de aprendizado – atividades para pequenos brilhantes, está disponível na plataforma Hotmart.  

Com os resultados que observa no próprio filho, Amanda decidiu levar o conhecimento para frente e auxiliar outras crianças com alguma dificuldade ou atraso de aprendizagem. De acordo com a professora de Davi, grande parte da evolução que obteve se dá pelas atividades que a mãe realiza com o filho em casa todos os dias. 

Assim nasceu o Asas da esperança (@asasdaesperanca.oficial), no qual busca prestar “acolhimento até a transformação”. Com o portfólio que construiu, a ação foi aceita no projeto “Sexta é nois” (@sexta.e.nois), em uma comunidade carente de Itapetininga. A organização social recebe crianças em estado de vulnerabilidade, que são acompanhadas por diferentes voluntários. Amanda foi recebida junto com uma amiga, que estuda Pedagogia, e lá começaram a atuar em duas turmas, cada uma com cinco crianças.  

“A ideia é que, apesar de não termos a formação, temos a vivência e podemos passar conhecimento, apoio, amor e esperança para muitas crianças que, muitas vezes, não têm apoio emocional dentro de casa. […] Claramente nosso trabalho não vai substituir o acompanhamento de profissionais qualificados, com especialização e formação, mas se podemos compartilhar um pouco do nosso saber, por que não fazer?”, destaca Amanda. 

Com a profissionalização, Amanda sonha com uma clínica de atendimento multidisciplinar, com atendimentos em grupo e individuais, para as famílias que não encontram “profissionais comprometidos e que querem fazer a diferença”. O desejo vai além quando a estudante revela a vontade de levar o conhecimento a nível exterior, como agente de transformação na vida de crianças imigrantes.  

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Arquivo Pessoal


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *