Adapte-se ou te devoro. Uma lição da transformação digital

Autor: Poliana Almeida - Estagiária de Jornalismo

Quem está na casa dos 40 anos certamente se lembra das máquinas de escrever, dos charmosos telefones de discos ou dos documentos enviados via fax. Esse mundo pré-redes sociais não é tão distante. O que aconteceu é que tivemos ao longo do caminho uma rápida transformação digital. Esse “passado bem recente” deixou muitos pessimistas da inovação tecnológica boquiabertos.

O professor Ney Queiroz atua há mais de 20 anos na comunicação, 10 destes dedicados à área digital. Ele próprio sentiu na pele o que as novas tecnologias trouxeram ao cotidiano dos brasileiros. “Ao entrar na faculdade, as aulas de redação eram com máquinas de escrever. Tempos depois, construí uma agência totalmente digital. Uma das minhas colegas de trabalho estava fazendo um mochilão pela Europa. Quando entravámos em reunião, ela se adequava ao horário local e participava”, relembra.

Essa migração do analógico para o digital já vinha sendo discutida há muito tempo. Em 1965, o então presidente da Intel, Gordon Earle Moore, vislumbrou que o número de transistores que poderiam ser colocados em uma mesma área dobraria a cada 18 meses, mantendo o custo de fabricação. Isso significa que teríamos uma aceleração de informações e processos, deixando a vida das pessoas com um ritmo diferente. Hoje sabemos que ele estava certo.

Não se pode negar que quem não nasceu na época dos smartphones, precisou de uma atualização para entender e estar inserido no atual modelo de produção. Ney Queiroz chama isso de Life Long Learning, ou seja, a nossa necessidade de continuar aprendendo. “O próprio mercado hoje busca por pessoas que estejam dispostas e predispostas a aprender”, explica.

A questão do estudo vai muito além de obter conhecimento do passado ou saber manusear as ferramentas do presente. É preciso manter-se atualizado para projetar um futuro. Pensando de maneira individualista: como posso ser um profissional relevante daqui a 5 anos? Esse tipo de questionamento é fundamental, pois, como vimos, a transformação digital tende a ocorrer de maneira cada vez mais rápida. “Um profissional que combate a transformação digital, talvez seja um profissional sem futuro”, destaca Ney.

O palestrante salienta que a Uninter já prepara seus alunos para a transformação digital. “Na Uninter, nós conseguimos pensar nesse futuro, estudar sobre ele. Afinal, alunos e professores também são pesquisadores. Com isso, conseguimos refletir sobre o futuro dentro da sala de aula”, destaca.

Tem robôs no meio do caminho

Além do pensamento visionário, Ney acrescenta que para ser um profissional relevante em sua área, os trabalhadores do futuro não poderão ser apenas operacionais. As operações, se já não estão, ficarão a cargo de robôs. Isso significa que não haverá espaço para os humanos? Claro que não. Nós entraremos na parte estratégica. Traçar alternativas que inovem e otimizem o funcionamento da empresa serão itens bem recorrentes daqui para frente. A grande questão aqui é que “aqueles que se adaptaram as novas tecnologias, estão bem. Enquanto os que se prenderam as ferramentas, quebraram”, exemplifica.

Um grande exemplo disso é a empresa Kodak. A gigante de fotografia vendia para o mundo inteiro, até que chegaram novas tendências fotográficas. Apesar de estarem cientes sobre a novidade, eles decidiram bater o pé e mantiveram seus produtos. Sem inovar, sem buscar melhorias, sem se adequar à transformação digital. O desfecho foi um pedido de falência em 2012.

Outro fator muito importante que nos ajuda a entender na prática a transformação digital é a definição do negócio. Por exemplo, professores não precisam ir até a escola e ministrar uma aula. Considerando que o negócio é educação, levar conhecimento para as pessoas independente do modo como isso ia ser feito, surgiram as aulas a distância e semipresenciais. Apesar de terem sido maximizadas pela pandemia, este é um modelo sobre como a educação conseguiu se manter ativa dentro de um universo tecnológico.

Mais um exemplo acelerado pela pandemia foi o home office. Ney explica que os “novos empreendimentos terão tendência ao home office”, pois a gente “pode trabalhar em qualquer lugar”, completa. Lembra quando comentamos sobre a colega de trabalho dele na Europa? É justamente essa liberação geográfica que possibilitou que muitas pessoas trabalhassem sem a etiqueta do ambiente formal de trabalho, por exemplo. Agora, as pessoas precisarão aprender sobre como se portar em lives, aprender a definir um horário de trabalho e outro de lazer e, principalmente, encontrar um ambiente adequado.

O escritório em casa

Não por acaso, o público tem tido preferência por empreendimentos imobiliários mais novos e que já contam com espaço compartilhado para trabalho remoto. A outra opção é um quartinho extra para criar o escritório. Percebe como a transformação digital afetou inúmeras áreas ao nosso redor?

Foi por isso que Ney afirmou que a verdadeira transformação digital é, na verdade, cultural. Quase que inconscientemente, nós acabamos trocando o pneu com o carro andando. Cada vez mais, estamos buscando por soluções que sejam práticas, úteis e, acima de tudo, rápidas. Em nosso tempo, tudo deve acontecer agora e quem não consegue se adaptar, acaba ficando de lado.

Pensando nisso, durante a fala, Ney reforçou que para se dar bem neste mundo conectado será preciso deixar de lado o modelo tradicional de trabalho. Isso traz uma forte tendência ao home office e uma boa dose de autodisciplina. Apesar de algumas pessoas não estarem se acostumando com o novo ambiente de trabalho e com a nova rotina, é preciso estar de olhos bem abertos para futuras vagas. Há grandes chances de empresas contratarem apenas para trabalhos remotos.

Falando em empresas, basta uma breve análise da hierarquia das grandes instituições. De uns tempos para cá, surgiu um setor chamado inovação. Pensar em inovar dentro de uma empresa é um grande diferencial: trazer informações, otimizar as ferramentas, propor uma nova forma de trabalho, entre outras situações se encaixam neste segmento. “Existem muitas empresas hoje que pagam por inovação”, exemplifica o professor. “Para não sermos engolidos e nem temer a transformação digital é fundamental pensarmos que aquilo que nos trouxe até aqui, não vai nos levar adiante”, conclui.

Este conteúdo foi apresentado na Aula Inaugural de 2021 da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter, que convidou o professor Ney Queiroz para falar sobre transformação digital aos calouros dos cursos da instituição. A conversa foi mediada pelo coordenador do curso de Publicidade e Propaganda, Alexandre Correia dos Santos.

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Autor: Poliana Almeida - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Patricio González/Pixabay


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