Acessibilidade ajudou Felipe a conquistar diploma de ensino superior

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

Nas instituições de ensino, as maiores barreiras encontradas por pessoas surdas são relacionadas à comunicação e à informação, devido à diversidade da língua. Felipe Almeida, 30 anos, está entre os estudantes que viveram na pele as dificuldades de se comunicar no ambiente educacional durante a infância e adolescência. Mas, a vontade e a dedicação frente aos desafios o fizeram chegar até a formação do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, na Uninter.

A conclusão da graduação aconteceu ainda em 2021 e foi formalizada com a solenidade de colação de grau, no dia 16.abr.22, realizada na Ópera de Arame, cartão postal de Curitiba (PR).

Felipe optou pelo curso devido à afinidade com a área, “desde sempre”. Já a escolha pela Uninter se deu pela acessibilidade e apoio que teria durante os estudos, graças ao trabalho realizado pelo Serviço de Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (SIANEE) do centro universitário.

“No momento em que iniciei, vi que era o que realmente eu queria, e que era possível. Isto me motivou a seguir. O diferencial foi eu ter acompanhamento com intérprete do início ao fim, sem interrupção. Me ajudou a não sofrer danos. Tive apoio de profissionais especializados, foi muito importante para a minha aprovação” afirma o egresso.

A coordenadora do SIANEE, professora Leomar Marchesini, diz que Felipe sempre foi um estudante “dedicado, esforçado, organizado e muito inteligente”.

“Tem uma compreensão rápida de lógica e outras disciplinas. Ele é proativo, faz suas provas sozinho, com autonomia de intérprete de Libras, devido à excelente compreensão da língua portuguesa”, salienta Leomar.

 

Grandes desafios

Felipe lembra que, durante a educação básica, passou por muitas dificuldades para realizar os estudos. Até a 5ª série, estudou no Colégio Estadual para Surdos Alcindo Fanaya Junior, mas quando foi transferido para o ensino regular, “veio o grande desafio”.

“Enfrentei muitos desafios na infância, como enfrento até agora. Muita dificuldade para estudar quando criança, quase não tinha intérprete nas escolas. O intérprete faltava ou não estava preparado. Isso atrapalhava nosso desenvolvimento. Foi um pouco mais difícil, mas a escola sempre prestou o melhor para os alunos. Se preciso, trocava o intérprete, oferecia reforço e todo apoio necessário para um melhor aprendizado”, afirma.

Além disso, para o jovem, seria importante a inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras), a língua oficial das comunidades surdas no Brasil, como disciplina obrigatória para todos.

“Enquanto os ouvintes usam línguas orais, faladas, os surdos se comunicam e recebem informações mediante uma língua de sinais, no Brasil, a Libras, que é uma língua espacial, tridimensional, motora, com estrutura própria, diferente da língua escrita”, explica a professora Leomar.

Na Uninter, Felipe contou com o tradutor intérprete de Libras em todas as aulas, tendo acessibilidade de comunicação e informação. Também teve tempo ampliado para efetivação de provas e, sempre que justificado, direito a prazo estendido para a entrega de trabalhos. Os docentes e tutores do curso receberam orientações do SIANEE para o trabalho com o aluno, considerando a diversidade linguística.

“Uma importante adequação efetuada no atendimento educacional especial, foi a correção diferenciada de provas e trabalhos do discente, uma vez que a Libras é a primeira língua dos surdos, sendo o português a sua segunda língua, em aprendizagem. Neste sentido os conteúdos de textos devem valer mais que a forma que apresentam”, salienta a coordenadora.

Leomar ainda ressalta outro importante desafio, que é o desempenho dos tradutores intérpretes de Libras que atuam na Uninter. “Os intérpretes do SIANEE Uninter são altamente qualificados, e proporcionaram ao aluno surdo uma legítima tradução das aulas ministradas, do português para Libras”.

“Foi uma grande experiência, pude contar com apoio de profissionais altamente qualificados, me levando à aprovação”, garante Felipe.

Planos para o futuro

Felipe não trabalha na área do estudo por enquanto, mas aguarda por uma oportunidade. No primeiro período do curso, se preparava fazendo um curso para entrar na Volvo do Brasil e no período seguinte ingressou na linha de montagem. “Em seguida, fui promovido a pintor, o qual estou até o momento”, conta.

O egresso acredita que o curso também tenha colaborado para a vida pessoal, devido ao grande avanço tecnológico e utilização das ferramentas no dia a dia. Agora, pensa em cursar uma pós-graduação ou uma nova graduação na área de Engenharia da Computação.

“Meus planos são continuar estudando, trabalhando na área, para assim continuar adquirindo mais e mais conhecimento. Gosto de aprender mais linguagem, tenho interesse na área de TI, programação e desenvolvedor”, conclui.

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Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski


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