A semana de 22 e a ruptura na cultura nacional

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo

Sempre lembrada ao longo dos anos, a Semana de Arte Moderna de 1922 foi um dos marcos mais importantes na história cultural do Brasil. Realizada no ano do Centenário da independência do Brasil, o evento reuniu importantes artistas da época e provocou uma ruptura na cultura e na mentalidade nacional.

“O evento foi muito criticado na época. Ele representou uma grande revolução na linguagem artística e uma ruptura na arte erudita que predominava até então”, explica o doutor em Estudos Literários Cleber Araújo Cabral.

A manifestação artística ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro daquele ano reuniu artistas de diversas vertentes como música, poesia, pintura, dança, entre outros. Importantes nomes como o maestro Heitor Villa-Lobos e o escritor Graça Aranha participaram do evento.

Mas, a influência da semana de arte não permaneceu somente no mundo das artes. O impacto da manifestação na sociedade como um todo é algo destacado por Cleber Araújo Cabral, que nos explica como a ruptura artística causou também profundas mudança na sociedade.

Profundas mudanças na sociedade brasileira

“O Brasil não era uma sociedade moderna, mas ansiava pela modernização em relação à mentalidade, cultura, arte, ciência”, afirma Cleber, que atua no Mestrado Profissional em Educação e Novas Tecnologias (PPGENT) da Uninter.

A necessidade de atualização da produção artística foi a principal pauta defendida por artistas da época. Artistas ligados ao movimento modernista desenvolveram uma mentalidade artística que buscava captar as questões do contexto da época.

“Eles tinham propósito construtivo e buscavam a releitura da arte do presente e o diálogo com as tradições artísticas, além da atualização das artes”, diz o acadêmico.

Ele conta que a sociedade brasileira passava por intensas transformações políticas e sociais na época, em especial após a Proclamação da República, em 1889.  Durante o século XIX, a produção de café foi fundamental no processo de urbanização, com a vinda de trabalhadores para ocuparem novas áreas.

No século XX, a indústria foi um instrumento de povoamento, principalmente em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, que começavam a se industrializar e se urbanizar rapidamente.

Segundo Cleber, o Brasil era de maioria rural e de estrutura de pensamento rígida e arcaica. E essa mentalidade era refletida no movimento artístico predominante na época, o parnasianismo- pensamento bastante formal.

“Essa modernização advinda do movimento modernista na semana de 1922 promoveu uma rápida mudança de valores e comportamentos na sociedade brasileira”, diz.

A influência permanente

Idealizada pelos escritores Mario de Andrade e Oswald de Andrade, juntamente com o pintor Di Cavalcante, a Semana de Arte Moderna tinha o objetivo de desenvolver uma nova estética para representar a realidade local.

O nome de Di Cavalcanti esteve em evidência durante o último mês devido à destruição de sua obra exposta no senado durante a invasão aos 3 poderes, em 8 de janeiro. Isso fez com que as produções dele fossem destaque nas redes.

Valorizar a identidade e a cultura brasileira estava entre as prioridades de Di Cavalcante e de outros artistas que integravam o movimento modernista na década de 1920 – Sérgio Milliet, Manuel Bandeira, Anita Malfatti, entre outros.

Segundo a jornalista Bárbara Carvalho, o debate promovido pelo evento percorreu por questões sociais e históricas do Brasil. A abolição da escravidão, por exemplo, ganhou destaque nas obras de diversos artistas na época.

Cleber Araújo destaca que a influência da manifestação artística em 1922 permaneceu ao longo dos anos, servindo como base para que muitos músicos e artistas desenvolvessem seus trabalhos

inspirados na perspectiva modernista.

“A influência artística pode ser sentida nos anos 1960, com a bossa nova e o tropicalismo”, ressalta.

Um dos marcos mais importantes na história cultural do Brasil, a Semana de Arte Moderna de 1922 foi o tema do programa Art&Cultura, exibido pela Rádio Uninter em 14 de fevereiro.

Apresentado pelos jornalistas Barbara Carvalho e Arthur Salles, o programa recebeu o doutor em Estudos Literários Cleber Araújo Cabral para debater a influência da manifestação artística na mentalidade da sociedade brasileira.

Assista ao programa Art&Cultura pelo canal de Youtube da Rádio Uninter.

 

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Wikimedia Commons/Reprodução Youtube


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