A revolução da Universidade dos Pés Descalços

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo

Chegar ao ensino superior é um sonho para muitos estudantes. Frequentemente representado por instituições de longa tradição e prestígio, o ensino universitário costuma seguir modelos tradicionais de educação, nos quais se exige dedicação ao estudo de diversas teorias que fundamentam um determinado campo de conhecimento.

Recentemente, tem crescido no mundo todo iniciativas que buscam popularizar o ensino universitário, aproximando-o de faixas da população tradicionalmente excluídas dos bancos das universidades, normalmente por dificuldades financeiras ou geográficas. Um exemplo disso é o movimento de expansão da educação a distância no Brasil, para o qual a Uninter contribuiu de forma muito significativa.

Uma iniciativa nesse campo que já conta com uma longa história é a “Universidade dos Pés Descalços”, criada pelo ativista social e educador indiano Sanjit “Bunker” Roy (foto). Nascido em uma família rica, Roy teve acesso a uma educação bastante tradicional e elitista, que lhe deu a oportunidade de escolher uma carreira universitária. No entanto, durante uma grave crise de fome na Índia, em 1965, decidiu viajar para as regiões mais pobres de seu país e ver de perto a realidade de seus cidadãos.

A partir dessa experiência, passou a se dedicar à causa da educação, buscando democratizar o aprendizado dentro de comunidades pobres que foram abandonadas pelo governo e onde pessoas vivem com menos de 1 dólar por dia. Em 1972, a ideia de uma faculdade popular recebeu o pontapé inicial. A proposta inicial era valorizar conhecimentos e habilidades práticas, implementando elementos educacionais personalizados para as necessidades de cada comunidade. Aquilo que as pessoas considerassem importante para suas vidas passaria a ser abordado, gerando retorno social concreto.

A Pés Descalços não possui professores renomados, aliás, ela nem sequer possui professores formados da maneira que acontece nas demais universidades. Alunos e professores trabalham juntos, e todo conhecimento útil à comunidade é compartilhado pelas pessoas durante o período de estudo.

“O currículo usa uma alfabetização opcional para ensinar a literacia digital e financeira, direitos civis e humanos, saúde e produções de microempresas”, explica Jeremias Fontinele, professor e pesquisador da Universidade Federal de Tocantins (UFT), que estudou a Pés Descalços.

A universidade funciona seguindo o estilo de vida e de trabalho do grande líder indiano Mahatma Ghandi (1869-1948), obedecendo aos princípios de igualdade, autoconfiança, coletividade e descentralização. Roy defende que qualquer pessoa, independentemente de sua origem ou histórico escolar, deve ter a oportunidade de estudar engenharia, medicina ou qualquer outra área que sirva para mudar sua vida.

Outro aspecto bastante curioso dessa forma de ensinar é que a Pés Descalços não distribui diplomas para seus alunos. Não é necessário ter uma comprovação formal do conhecimento daqueles indivíduos, já que suas habilidades são amplamente comprovadas por meio dos benefícios gerados às comunidades.

Capacidade e diversidade

A primeira estrutura física da Universidade dos Pés Descalços foi construída em 1986, na vila de Tilonia, no Rajastão, Índia, desenhada por 12 arquitetos analfabetos, ao custo de 1,50 dólares por metro quadrado. A instituição recebe pessoas de diferentes culturas e falantes de diferentes línguas que, mesmo com essa barreira, conseguem se comunicar através da linguagem de sinais e expressões corporais, tornando possível a disseminação do conhecimento. Trata-se de valorizar o conhecimento popular, que mesmo sem passar pelas estruturas formais de educação é capaz de grandes feitos.

Energia solar

A questão do fornecimento de energia é um aspecto muito importante para a qualidade de vida das comunidades mais carentes. Milhões de pessoas na Índia não têm acesso à energia elétrica. Por isso a Pés Descalços entendeu que era fundamental investir no ensino da engenharia, e passou a treinar mulheres de uma comunidade remota como engenheiras solares, fornecendo a elas ferramentas para eletrificar suas comunidades.

A partir disso, comunidades na Índia e no Afeganistão passaram a ter acesso à água potável e ao saneamento básico, além de conseguir cozinhar e iluminar toda a localidade utilizando a energia solar. As comunidades também contam com um sistema de captação de água que assegura o abastecimento e o não desperdício. O conhecimento promoveu melhoras significativas nas condições de vida dessas pessoas, dando liberdade e independência às populações.

Sanjit “Bunker” Roy foi selecionado como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo pela publicação “Time 100”, em 2010, graças ao seu trabalho em educar pessoas analfabetas em comunidades rurais.

Seu trabalho foi tema do programa Atualidades da Educação, transmitido em 5 de outubro de 2021, pela Rádio Uninter. Além de Jeremias Fontinele, o programa contou com as presenças de José Lauro Martins, professor na Universidade Federal do Tocantins (UFT), e Alvino Moser, professor decano da Uninter. Você pode conferir o programa completo clicando aqui.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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