A luta sem trégua de Marcelo e Arlete para que a filha Bianca possa lutar

Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo

Viver é lutar. Para a família de Marcelo Melo Ribeiro, essa é uma palavra que tem um significado mais do que especial. Natural de São Luiz Gonzaga, no interior do Rio Grande do Sul, Marcelo atualmente mora na cidade de Viamão (RS), onde é aluno de Marketing da Uninter no polo local de apoio à educação a distância.

Há 8 anos Marcelo trabalha na farmácia São João, na parte de vendas de medicamentos, nos períodos da tarde e da noite. Por isso, optou pela educação a distância (EAD), principalmente pela disponibilidade de horário.

Mas a “luta” não está na vida do estudante apenas nas batalhas do cotidiano. Sua filha Bianca dos Santos Ribeiro (11 anos), desde cedo já mostrava talento nas artes marciais, e Marcelo e sua esposa, Arlete, decidiram embarcar de vez nesta batalha. “Eu e minha esposa fizemos um sacrifício financeiro para poder pagar a mensalidade pra ela. Nós achávamos que era apenas uma brincadeira e que ela iria desistir naturalmente, mas não, ela foi evoluindo e melhorando cada vez mais”, conta.

E para quem pensa que o pai foi influência determinante para a filha se interessar por artes marciais, nada mais distante da realidade. Marcelo nunca teve a oportunidade de praticar esportes. A vontade existia, mas faltavam condições financeiras, e é isso o que buscou proporcionar para a filha. Ele afirma que a vontade de lutar é natural para Bianca. “Isso aí já veio com ela, acredito que é um dom que Deus deu pra vida dela”, afirma.

Bianca é muito jovem, mas já tem um currículo recheado de títulos no jiu-jitsu. Foi bicampeã mundial (2019 e 2020) na categoria sub 12 da faixa cinza. Marcelo conta que sua filha praticamente cresceu no mundo da luta. “Ela começou a treinar aos 4 anos, treinou kung fu, karatê e outras artes marciais, mas o intuito sempre foi a competição, e como essas artes não tinham competição para a idade dela, acabamos migrando para o jiu-jitsu aos 7 anos”, completa.

Para manter a filha firme em sua trajetória campeã, Marcelo e a esposa precisaram investir tudo o que podiam. Em Viamão não há academias de competição. Então, para treinar, Bianca precisa ir até Cachoeirinha (cidade distante 18km), e o custo de transporte é mais um obstáculo a ser superado. Além disso, sua esposa, Arlete dos Santos Ribeiro, se dedica de maneira integral para ajudar a talentosa filha em sua jornada de treinos.

“Quando a Bianca começou, era complicado até a gasolina para ir treinar, então a gente ia de bicicleta, mas quando ela começou a competir em cidades mais distantes, indo pra Gramado, para Caxias, pro litoral, aí nós tivemos que pensar em alternativas. Começamos a vender bolo de pote, minha esposa fazia os bolos e eu e a Bianca saímos vender, e de tanto esforço nós conseguimos até patrocínios”, afirma.

Conforme as distâncias foram aumentando, a família se virava como podia para garantir que a filha participasse das competições. “Quando minha filha queria ir competir em São Paulo, nós fizemos uma rifa e vendemos mil números para custear a viagem. Na segunda vez que ela precisou ir nós vendemos bala. Minha filha vendia bala na rua, de kimono, aqui na frente da farmácia onde eu trabalho, no centro de Viamão. Até que certo dia um rapaz, empresário da região, a viu, conheceu a história dela e deu a passagem pra gente, então nós conseguimos ir. E fomos evoluindo assim, conforme ela foi conquistando títulos a gente foi conseguindo patrocínios,” ressalta.

O jiu-jitsu é um esporte elitizado, as competições são caras. Deslocamentos, viagens, kimono, tudo isso representa um alto custo, e participar de todos os campeonatos se tornou um desafio devido à condição financeira da família. Para conseguir uma renda extra, Marcelo começou a confeccionar produtos com a marca de sua filha (Bianca Nega Touro), e a ideia vem dando um ótimo resultado: “Conseguimos renda através da venda de produtos com a marca dela, pela rede social. Fazemos camisetas, cuia de chimarrão, garfo e faca de churrasco. Além disso, temos vários apoiadores que nos ajudam para que a gente consiga participar desses campeonatos”, conta.

A tecnologia também virou aliada. Marcelo criou uma conta no Instagram (@biancaribeirobjj) para divulgar todo o trabalho da Bianca, dos treinos e atividades do dia a dia, e tentar conseguir patrocínio. “Começamos do zero, eu não tinha nenhuma noção, foi tudo de uma maneira autodidata. Começamos a mostrar seu dia a dia, as lutas, os campeonatos, e pedir auxílio. Nós conseguimos rapidamente mais de mil seguidores, e conforme ela foi ganhando e se desenvolvendo nas artes marciais, ela conseguiu chegar até os Estados Unidos”.

Foi pensando em promover a carreira da filha que Marcelo ingressou no curso de Marketing da Uninter. “Eu decidi fazer esse curso porque todo mundo dizia que eu tinha esse dom, esse feeling para marketing, porque sem conhecimento nós já conseguimos tanta coisa. E aí decidi me aprofundar no marketing, decidi fazer o curso para ajudar minha filha, para tentar alavancar ainda mais a marca dela. Pensando em um futuro, se ela tiver uma academia, ou se tornar uma atleta profissional, é necessário um acompanhamento de marketing para poder alavancar a carreira dela, para que ela se destaque ainda mais”, ressalta.

Marcelo está no primeiro semestre da graduação e conta que faz um trabalho extra para conseguir pagar o curso: “Ingressei nesse curso pela fé, com fé que iria conseguir pagar, e para isso faço um trabalho extra de manhã cortando grama, trabalho para uma vizinha da região, onde eu corto a grama e ela paga a mensalidade da minha graduação na Uninter”, completa.

Para a família de Marcelo, parar de lutar nunca será opção.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


1 thought on “A luta sem trégua de Marcelo e Arlete para que a filha Bianca possa lutar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *