“A Invenção do Outro” traz abordagem poética à luta pela sobrevivência de povos originários

Autor: Matheus Cavalheiro - Especial para a CNU

Já vencedor de prêmios como de melhor filme no Festival de Cinema de Brasília, e retrato de uma das maiores expedições do indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho de 2022 por motivos ligados a seu trabalho,  “A Invenção do Outro” agora é destaque na mostra de Exibições Especiais do 12º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. A categoria, que abre espaço para filmes com diversos temas, exibe justamente produções que obtiveram visibilidade no último ano.

A sessão desta quinta-feira (15) ocorreu no Cineplex  Batel, no Shopping Novo Batel, lugar em que acontece grande parte das exibições e reuniões do evento, com reexibição na sexta-feira (16).

O documentário causou impacto no público que, em diversos momentos, tira expressões de espanto, desconforto e, por vezes, até risos de um público atento. A imersão profunda em uma cultura tão alheia ao espectador, tão distante, ainda que pertencente ao mesmo país, é central em uma narrativa que relata o reencontro de indígenas da etnia Korubo com seus parentes, separados por conta de conflitos regionais que envolvem outras etnias, incentivados principalmente por grupos de extração ilegal de madeira que atuam em terras indígenas.

O filme, de quase duas horas e meia de duração, inicia com uma descrição de um panorama geral da situação em que este grupo de indígenas se encontra, e o trabalho árduo da Funai para ajudar a preservar a vida e a cultura desses povos. A montagem intercala cenas do cotidiano desse grupo, que muitas vezes pode chocar um público não acostumado com essa realidade (ouviam-se interjeições toda vez que macacos e preguiças eram mortos, escaldados e tinham seu pêlo retirado para a ingestão de sua carne, por exemplo), com longos momentos de poesia, de contemplação da natureza em enquadramentos impecáveis ou tomadas em câmera lenta dos rituais e emoções da população indígena. Momentos esses que funcionam quase como um tempo de respiro para que o espectador consiga refletir e absorver a quantidade brutal de informação recém adquirida.

Apesar de ser uma expedição guiada pela Funai, o documentário se esforça em colocar o protagonismo no indígena, inclusive na escolha dos diálogos apresentados, que estão em sua maior parte na língua nativa dos Korubo  e traduzida por intérpretes aos integrantes da tropa. O homem não-indígena (muitas vezes branco) representado na figura de Bruno Pereira, dos médicos e de funcionários da Funai, são retratados como de fato são, os estrangeiros naquela terra – de maneira inusitada para o espectador, inclusive, são seus hábitos que são questionados pelos indígenas, e não o contrário.

O filme acaba sendo, portanto, um pesado exercício de alteridade. Exercício esse que evoca uma reflexão necessária a respeito da maneira como são vistos e tratados os povos originários e suas terras no país, especialmente em um ano em que o assunto ganha destaque com os mais recentes debates públicos sobre problemas que, além de tudo, culminaram na morte do indigenista responsável pela expedição retratada.

 

As reflexões como a proposta pelo filme são constantes nos tópicos abordados nesta edição do festival, da qual a Uninter é uma das patrocinadoras. A programação completa, assim como os ingressos, você pode encontrar no site do evento e a Central de Notícias Uninter (CNU) fará a cobertura até seu encerramento, no dia 23 de junho.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Matheus Cavalheiro - Especial para a CNU
Edição: Larissa Drabeski


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *