A indústria do turismo sobreviverá à crise do Covid-19?

Autor: Valéria Alves - Assistente de produção multimídia

Com o crescimento do número de pessoas infectadas pelo Covid-19, as medidas de prevenção que incluem o isolamento e a quarentena foram adotadas em diversas partes do mundo, tornando-se a principal medida para conter a propagação do vírus.

Porém, o isolamento em massa pode ter como efeito colateral uma crise econômica sem precedentes. A indústria do turismo é uma das mais afetadas pela pandemia. A ONU prevê um retrocesso de até 30% no turismo internacional após a pandemia. Não somente as companhias aéreas estão sendo afetadas com o cancelamento dos voos, mas também as pessoas de diferentes lugares que não conseguem retornar às suas casas por causa do fechamento de fronteiras.

Vários hotéis ao redor do mundo, sem hóspedes, se uniram à luta contra o Covid-19. Muitos estão sendo transformados em alas hospitalares para tratar os afetados pelo vírus, e outros como abrigo para profissionais da saúde.

Até mesmo os animais estão sofrendo com estas mudanças. Na Tailândia, por exemplo, os elefantes, que são o animal-símbolo do país, estão sofrendo com a falta de turistas que visitam diariamente o Parque de Elefantes Maetaeng. Sem os visitantes, os animais correm risco de passar fome (seus gastos de alimentação são de US$ 40 por dia), e podem acabar arrastando troncos em madeireiras ilegais.

Segundo Grazielle Ueno Maccoppi, coordenadora dos cursos de Gestão de Turismo e Gestão Empreendedora de Serviços da Uninter, o setor do turismo está apelando ao público para que não cancele seus planos de viagem, e que procure remarcar.

Existem campanhas de informação sobre essa crise desde o início do ano, quando surgiram os primeiros casos do coronavírus. A principal ideia dessas campanhas é conscientizar os consumidores sobre a importância de manter seus planos de viagem vivos, pois qualquer cancelamento desses serviços compromete o futuro do setor.

“Ações imediatas já foram tomadas pelas companhias áreas com a isenção de custos para remarcação das passagens nacionais ou internacionais, e outros setores trabalham na mesma orientação”, explica Grazielle. “Os ajustes de datas e a dilatação dos prazos de remarcação para até um ano são providenciais para que as pessoas aguardem a passagem do estado de emergência e sigam se protegendo adequadamente neste período”.

Grazielle conversou com o Uninter Notícias sobre o coronavírus e os efeitos que ele trará para o setor no futuro. Acompanhe:

  1. Foi possível perceber os efeitos do Coronavírus no turismo do Brasil, logo após a divulgação de casos na China?

Sim, os efeitos foram sentidos de forma imediata no turismo em todos os continentes do planeta, especialmente porque a China é o principal país emissor de turistas para todo o mundo. Com o bloqueio da fronteira chinesa, automaticamente todos os destinos turísticos passaram a lidar com a ausência de turistas chineses, o que significou queda brusca no valor arrecadado pela demanda. Além do maior público emissor, os chineses são amplamente conhecidos como consumidores assíduos de produtos de alto valor, como marcas de luxo e produtos exclusivos.

Certamente a ausência do turista chinês foi mais significativa nos países europeus (os preferidos por estes públicos), mas não se menosprezam os efeitos iniciais no Brasil. No caso da pandemia, os bloqueios das fronteiras são ações imediatas e geram por consequência a impossibilidade de movimento natural das pessoas e de mercadorias. Assim, as consequências negativas não são apenas no turismo, mas em todo o comércio brasileiro.

  1. Quais efeitos podemos esperar a longo prazo no turismo, aqui e no mundo?

Difícil prever quais serão os efeitos reais de uma pandemia de tamanha proporção. O que se pode afirmar é que as pessoas estão sendo convidadas a modificar seus padrões comportamentais, suas formas de interagir, de trabalhar e até de se comunicar de maneira ampla e efetiva. As mudanças nos padrões são reais, e todos nós estamos vivenciando as alterações de se manter em quarentena, numa realidade totalmente nova.

Com isso o consumo de viagens e pelo turismo também está sendo modificado. O sol, a brisa do mar, o cheiro da terra e a conexão com os elementos da natureza estão sendo recalculados por todos nós. Como efeito de toda crise que estamos vivenciando, espera-se que o consumidor adquira maior consciência dos elementos reais que formam uma viagem. Para além da escolha dos meios de transporte e de hospedagem, a viagem tem por fundamento a conexão interna consigo, com aqueles em que se escolhe como companhia e com o destino que se visita.  Espera-se como impacto direto do Covid-19 viagens mais intimistas, com menor impacto aos recursos naturais e com mais valor, não econômico, mas viagens com mais significado. Espera-se que o consumo do turismo em larga escala seja revisitado e modificado de maneira ampla e definitiva e que as viagens sejam eminentemente formas de fortalecimento das relações humanas em detrimento de formas de consumo exacerbado ou de reprodução de status ou posição social.

  1. O que as pessoas que atuam na área do turismo, e têm negócios em pontos turísticos, podem fazer para se recuperar após o fim do distanciamento social?

Toda a cadeia turística está sofrendo de forma direta pelos impactos da pandemia e muitas discussões buscam contribuir com as possíveis formas de se recuperar. Tudo ainda é incipiente, não há respostas prontas ou fórmulas mágicas. O que se sabe em relação aos negócios turísticos é que eles sofrerão uma modificação estrutural no que se refere aos cuidados sanitários, aos controles de número de visitantes e até em relação aos padrões de consumo. Empreendimentos que se voltarem para a oferta de experiências únicas com o destino, com respeito ao ambiente natural e às tradições locais, parecem mais apropriados a esta nova realidade mundial.

  1. Como é possível se preparar para situações como essas no futuro?

Não há como se preparar para situações semelhantes. Acredito na modificação estrutural do consumo e da oferta de produtos e serviços de forma diferenciada e inovadora. No turismo, o cenário nacional se configura como uma oportunidade de desenvolvimento único. Muitos turistas darão preferência para trechos internos, para pequenos deslocamentos e para a segurança de permanecer em seu território. O desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais estão sendo potencializados com o isolamento, é da natureza humana a necessidade de descoberta e de encantamento. O turismo nacional poderia ser alavancado de forma especial e o turista estaria mais interessado em fomentar a descoberta das potencialidades locais e de valorizar os espaços e os atrativos nacionais.

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Autor: Valéria Alves - Assistente de produção multimídia
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


8 thoughts on “A indústria do turismo sobreviverá à crise do Covid-19?

  1. O texto faz total sentido, vejo por meu campo de trabalho (aviação) onde vários funcionários estão sendo dispensados por falta de voos (cancelamentos e aeroportos fechados); não há precedente na história de algo tão crítico economicamente falando quando o assunto é atingimento global. O turismo realmente é um dos primeiros afetados, devido aglomeração que se gera no transporte, e as pessoas sendo condicionadas a ficarem em casa torna a realidade de voltar a viajar sem medos, distante. Outro ponto é que, com as pessoas em casa estão afastadas de seus trabalhos ou o perderam, portanto o número de pessoas que não terão condições financeiras de viajar e gastar com turismo em curto e longo prazo é significativo. A redução da demanda já caiu espantosamente e uma vez que o número de afetados pelo vírus ainda está em ascensão torna o futuro do turismo muito mais incerto e assustador.

  2. Pesquisa bem elaborada. Mas é obvio que haverá uma reestruturação pós pandemia e por etapas. Conhecer o próprio País será muito positivo, mas isso está ligado ao fato da alta do dólar e da recuperação da economia e dos empregos que levará um tempo para serem recriados, mas assim que isso ocorrer os brasileiros correrão para o exterior novamente.

  3. Com certeza, todo o Texto e as Inteligêntes respostas enfim, falaram tudo o que dizer então. Viajar é uma das coisas mais gostosas da vida e com certeza, com o tempo tudo retornará e mais forte.

    Um abração e sucesso para todos nós.

    Homero Freitas

  4. O lado positivo e otimista da retomada do Turismo, pós pandemia, vai ser o crescimento do turismo doméstico, até porque as pessoas vão ficar um bom tempo confinadas dentro de casas, que vão querer sentir o cheiro de liberdade, e aquela sensação, de ” Essa fase passou” mas não podemos fugir da realidade, quando sabemos que nosso país economicamente e socialmente não tem um poder de compra tão bom, e as medidas politicas que estão sendo tomadas, vão atrair poucos turistas de fora, as empresas devem criar estratégias de ofertas que cabem no bolso do cliente, tomar medidas sanitárias, os próprios brasileiros devem conscientizarem das medidas sustentáveis, e os órgãos públicos e privados , promoveram o Turismo nacional de forma eficiente, abaixar mais os preços exorbitantes, e medidas publicas e turística, como capacidade de carga turística.

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