A glamourização do home office

Autor: Fernando Eduardo Mesadri (*)

O mundo do trabalho sofreu grandes mudanças com a pandemia Covid-19 e o isolamento social que se impôs devido ao elevado nível de contágio do vírus e a sua letalidade. Foram feitas acentuadas transformações no campo laboral, que ainda estão em fase de modificações, pois a grande maioria das organizações espalhadas pelo mundo tiveram que rever seus procedimentos de atuação, suas políticas e práticas de gestão e de pessoas.

O contexto pandêmico, especialmente em seu período mais crítico e frente aos desafios inéditos, obrigou muitas empresas a tomar medidas de preservação de seus funcionários e o home office se apresentou como uma delas. Tais procedimentos tornaram-se geradores de emoções como o medo, a ansiedade e as inseguranças advindas da incerteza frente a essa nova realidade. Rapidamente, foram providenciados recursos como equipamentos e o suporte tecnológico suficiente, visando a segurança de que as atividades estavam sendo executadas a contento e de forma eficaz.

Houve um tempo em que trabalhar no conforto do lar era considerado um privilégio de poucos, um indicativo de qualidade de vida. Em muitos casos, isso se provou o contrário. A adaptação de muitos funcionários acabou sendo forçada. Aquele que não possuía um espaço propício ao home office precisou improvisar na sala de estar ou na cozinha de casa as condições necessárias ao trabalho. Verificou-se um aumento na produtividade impulsionado pelas horas sem a necessidade de deslocamento e pela ameaça da perda do emprego em um momento globalmente difícil.

Esta modalidade de trabalho, caso não tenha sido bem planejada, interferiu diretamente na dinâmica de funcionamento das famílias, influenciando nos relacionamentos e provocando conflitos, desacordos e separações ao longo do tempo. O nível de estresse aumentou sobremaneira, as funcionárias se sobrecarregaram, especialmente pelas funções da maternidade, pois também precisavam orientar seus filhos nas tarefas escolares, além dos afazeres domésticos e o distanciamento do convívio social no trabalho como fonte primária de relacionamento.

Essa profusão de situações, entre tantas outras, fez descer ladeira abaixo o “glamour” atribuído ao teletrabalho. Pois, para muitos profissionais, passa a representar um aumento de custos pessoais, a falta de delimitação entre a vida pessoal e profissional, a perda de benefícios sociais, como o transporte da empresa, o vale refeição, o possível carro fornecido pela empresa.

Surpreendentemente, no presente momento, observa-se que grandes corporações da tecnologia têm voltado atrás no formato de trabalho remoto adotado. Talvez pela percepção da falta do sentimento de pertencimento por parte de trabalhador e da menor identificação com a cultura da empresa, prejudicando a identidade organizacional. A própria incapacidade de controlar permanentemente o empregado, o descompromisso para com o alcance dos objetivos organizacionais, que certamente inferem na perenidade de seus valores, no cumprimento de sua missão e na visão de futuro.

No Brasil, com a retomada do crescimento da economia, também se nota a volta dos empregados aos escritórios, estratégia essa atrelada ao modelo de negócio desenvolvido pelas empresas, que pode tanto contemplar o sistema híbrido de trabalho ou uma jornada integral na estrutura organizacional. Somente o tempo e o estudo desses sistemas de trabalho poderão definir as vantagens e desvantagens desta tendência no mercado de trabalho. É esperar para ver.

* Fernando Eduardo Mesadri é Professor dos Cursos de Administração, Gestão de Recursos Humanos e Ciências Contábeis no Centro Universitário Internacional Uninter. É formado em Estudos Sociais, Psicologia e Mestre em Educação.

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Autor: Fernando Eduardo Mesadri (*)
Créditos do Fotógrafo: Yasmina H/Unsplash


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