Infância ontem e hoje: o que o tempo roubou das crianças
Autor: Bruno Luis Simão*
Quando você pensa na sua infância, o que surge primeiro? A rua cheia de vozes, as brincadeiras improvisadas, os joelhos ralados e o tempo que parecia não ter pressa? Agora, olhe ao redor: onde estão as crianças de hoje? Em parques, quintais, ruas… ou diante de telas que ocupam cada vez mais espaço em suas rotinas?
A infância sempre foi mais do que uma etapa biológica: é um espelho da sociedade. A maneira como cuidamos de nossas crianças revela prioridades, valores e até contradições. No passado, a simplicidade do brincar ao ar livre era regra. Hoje, vivemos em um cenário em que tecnologia e informação abriram novas possibilidades, mas também trouxeram dilemas. Nunca houve tantos brinquedos sofisticados, enquanto há tão pouco tempo para brincar. Não é paradoxal?
Comparar a infância de ontem e a de hoje não deve ser apenas um exercício de nostalgia. Trata-se de refletir sobre o presente e escolher caminhos para o futuro. O que ganhamos com o acesso à informação e com a valorização dos direitos da criança? O que perdemos quando a pressa do mundo adulto invade o universo infantil, antecipando responsabilidades e reduzindo momentos de imaginação e convívio? Será que estamos oferecendo às crianças espaço para serem crianças ou apenas adaptando-as às pressões de um mundo cada vez mais acelerado?
Não se trata de negar os avanços: hoje reconhecemos melhor a importância da escuta infantil, da inclusão e do cuidado emocional. Mas reconhecer conquistas não nos exime de encarar desafios. Como equilibrar a tecnologia com o contato humano? Como garantir tempo livre em meio a agendas lotadas? Como devolver à infância o que lhe é essencial — o brincar, a imaginação, a convivência?
Refletir sobre a infância é, em última instância, pensar no futuro da sociedade. Uma criança que cresce sem tempo para experimentar o mundo, sem espaço para brincar e se relacionar, torna-se um adulto com lacunas que nenhuma tecnologia pode preencher.
A pergunta que fica é inevitável: que tipo de infância queremos legar às próximas gerações? Uma infância moldada pela pressa e pelo isolamento ou uma infância que preserve o direito de viver plenamente esse tempo único da vida?
O convite é urgente: repensar nossas práticas, resgatar valores que não deveriam ter sido abandonados e, sobretudo, devolver às crianças aquilo que lhes pertence por direito — a experiência integral e saudável de ser criança.
* Bruno Luis Simão é licenciado em Pedagogia, Normal Superior com Habilitação em Educação Infantil, Educação Física, Artes visuais, Psicopedagogia e Educação Especial. Especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusiva, Ludopedagogia, Psicomotricidade e desenvolvimento Humano, Neuropsicopedagogia, Transtorno do Espectro Autista e Formação Docente para EAD, e professor da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: Bruno Luis Simão*Créditos do Fotógrafo: Rodrigo Leal/Uninter e Pexels/RDNE Stock project


