Quando os animais viram aliados: soluções da natureza para desafios humanos
Autor: Fernanda Paula da Silva Torres*
Na Catalunha, cabras se tornaram protagonistas de uma iniciativa ambiental que chamou atenção do mundo no início de agosto. Um projeto financiado pela União Europeia prevê que rebanhos ajam como “bombeiros naturais”, consumindo a vegetação seca que, em períodos de estiagem, alimenta incêndios florestais. Ao criar aceiros naturais, elas reduzem riscos, custos e a necessidade de máquinas pesadas. A proposta pode parecer curiosa, mas ilustra uma tendência atual: reconhecer os animais como aliados na preservação ambiental.
E os exemplos não param por aí. Em Curitiba (PR), as capivaras do Parque Barigui, além de atrair turistas, mantêm a grama aparada, reduzindo cortes mecânicos que envolvem mão de obra e custo alto. Em Laguna (SC), uma parceria centenária entre pescadores e botos mostram que a cooperação entre espécies pode ser vantajosa para ambos: os golfinhos conduzem os cardumes de tainha em direção às redes, facilitando a pesca artesanal e garantindo também sua própria alimentação.
Já os castores, em diversos países, constroem represas que não apenas protegem suas tocas, mas beneficiam ecossistemas inteiros, ao melhorar a qualidade da água, reduzir enchentes e criar habitats para aves e peixes. Na República Tcheca, oito castores chegaram a erguer uma barragem em dois dias, no mesmo local onde o governo planejava uma obra há sete anos, gerando uma economia milionária.
Outro caso inspirador vem do Reino Unido, onde raças tradicionais de animais de produção, como o gado Longhorn e as ovelhas Hebridean, participam de projetos de conservação. Esses animais pastam de forma seletiva, controlando o crescimento excessivo de plantas e permitindo que outras espécies se desenvolvam. O resultado é uma paisagem equilibrada, que favorece a biodiversidade e dispensa o uso intensivo de maquinário.
Essas iniciativas funcionam porque partem de uma lógica simples: reconhecer que humanos, animais e meio ambiente estão interligados. É o princípio da abordagem One Health (“Uma Só Saúde”), que considera a saúde humana, animal e ambiental como faces de um mesmo sistema. Quando os animais vivem em equilíbrio com a natureza, toda a sociedade se beneficia.
O Brasil possui um enorme potencial para fortalecer experiências em que animais e humanos atuam em sinergia pelo equilíbrio ambiental. Em 2024, segundo o MapBiomas, o país superou a média histórica de área queimada, evidenciando que o fogo continua sendo um problema estrutural em nossos bioma. Experiências como a das cabras na Catalunha mostram que soluções inovadoras podem inspirar reflexões sobre estratégias criativas e integradas de prevenção.
Além disso, práticas de cooperação como a dos botos em Laguna podem ser incentivadas como patrimônio cultural e ambiental, reforçando a importância de práticas que unem tradição, conservação e desenvolvimento humano. É necessário dar visibilidade a essas práticas, ampliando o debate e conscientização sobre o respeito e conservação dos animais e do ambiente.
Esses exemplos mostram que os animais podem ser grandes professores de equilíbrio e cooperação. Talvez a verdadeira inovação esteja em observar e valorizar essas interações, ampliando sua visibilidade para que inspirem novas formas de convivência. A pergunta é: estaremos prontos para enxergar que é possível viver em harmonia com os animais e aprender com eles? Afinal, a natureza tem muito a nos ensinar, basta estarmos dispostos a aprender.
*Fernanda Paula da Silva Torres é médica veterinária, especialista em Saúde da Família e professora do curso Bacharelado em Medicina Veterinária do Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: Fernanda Paula da Silva Torres*Créditos do Fotógrafo: Pexels/Pixabay e Banco Uninter


