Atleta-guia, aquele que corre pelos outros

Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de Jornalismo

A atuação dos atletas brasileiros na Paralimpíada de 2021 em Tóquio atraiu a atenção de todo o país. Não somente pelo impressionante desempenho destes competidores, mas também por ter sido nessa edição dos Jogos Paralímpicos em que o Brasil chegou à sua centésima medalha de ouro na competição.

A conquista foi do atleta Yeltsin Jacques, na prova dos 1.500m da classe T11 (deficientes visuais). Como os demais competidores, Yeltsin não correu sozinho, mas acompanhado de seu atleta-guia. Com a função de servir como olhos do atleta competidor, o guia tem um papel fundamental na competição, participando dos treinos e de todo o processo de desenvolvimento do seu parceiro.

Tamy Cecy, atleta-guia, ultramaratonista e estudante de Educação Física da Uninter, enfatiza que para exercer essa função é preciso mais do que vontade, “é preciso comprometimento diário”, já que serão necessários treinos rotineiros para que ambos os atletas possam se conhecer até que estejam perfeitamente sintonizados.

Para isso, de acordo com a atleta, o mais importante é definir um objetivo e formular várias metodologias que possam ser implementadas durante os treinos, de forma que o desempenho do atleta guiado seja positivo.

“Dentro da minha ação, o objetivo não é o alto rendimento, mas sim pegar essa informação e mostrar para a sociedade tudo o que é possível fazer levando o conceito de diversidade funcional”, comenta Tamy. Segundo sua analogia, o atleta-guia pode ser colocado como um representante da sociedade. Sendo assim, a sociedade e o atleta com deficiência visual caminham juntos em um mesmo conceito de adaptação dos demais indivíduos.

Apesar de estar imersa no atletismo desde 1999, quando participou de sua primeira maratona na cidade de Curitiba, foi somente na Corrida de São Silvestre de 2004 que Tamy decidiu atuar como atleta-guia. A ultramaratonista conta que presenciou uma situação de injustiça, quando uma competidora cega foi afastada do trajeto para dar passagem para a campeã geral.

“Isso me impactou! A partir desse episódio eu comecei a fazer um estudo logo que voltei para Curitiba. Eu tinha me decidido”, conta ela, que passou a dedicar horas de pesquisa e visitas a instituições para obter conhecimento sobre o assunto. “Primeiro eu teria que fazer uma imersão no mundo das pessoas com deficiência e somente depois levar esse conhecimento para os esportes”, explica.

Buscando enriquecer cada vez mais seu trabalho, a atleta até mesmo chegou a ter experiências na Argentina. Sua primeira prova, logo de chegada, foi de montanhismo, em um cenário completamente diferente. No Brasil, era raro encontrar atletas com deficiência visual nas ruas, menos ainda em provas de montanha, e com sua experiência ela pôde desenvolver novos métodos quando voltou.

Tamy acredita que essas modalidades trazem situações multissensoriais importantíssimas aos atletas guiados. Assim eles podem estar em contato com diferentes solos e ambientes, e passar por novas experiências que serão úteis em seu dia a dia, não somente nas provas.

A atleta desenvolveu o hábito de estudar o mapa das provas para saber como orientar seu parceiro. Também, quando são realizadas em locais próximos, costuma ir previamente ao local da prova para conhecer bem o tipo de solo, se a região é úmida, como é o clima e outras informações que possam ajudar na preparação. “Eu tenho que ter essa noção para passar o estilo do tênis, por exemplo, e prepará-lo psicologicamente para os movimentos necessários, de acordo com o estilo do terreno”.

Tamy acrescenta que o entendimento entre ambos os atletas deve ser reforçado sempre, pois durante as provas é necessário estabelecer a comunicação com a qual o atleta-guiado se sente mais confortável. A atleta conta que, assim como já correu com parceiros que gostavam que ela descrevesse tudo ao seu redor, já houve aqueles que preferiam saber os detalhes do local somente quando já estivessem próximos da linha de chegada.

Unidos pela Vida

O mês de setembro é também conhecido como Setembro Roxo, mês em que ocorrem eventos de conscientização sobre a fibrose cística. Embora não seja portadora da doença, Tamy é uma das embaixadoras do projeto em prol da conscientização promovido pelo movimento Unidos pela Vida.

A etapa mais recente se chama Volta pelo Mundo e tem o objetivo de alcançar 40 mil km em diversas modalidades, seja caminhando, correndo ou até mesmo andando de bicicleta. Tudo isso como uma forma de divulgação sobre a doença. Tamy ocupa o terceiro lugar no ranking geral.

“É uma ação que faz com que você mude a visão sobre a sua própria vida. Com que passe a perceber os valores, problemas ou demais situações de uma forma diferenciada”, afirma a atleta.

Tamy Cecy foi a convidada especial do programa Entre no Jogo, transmitido pela Rádio Uninter no dia 31.ago.2021, que teve como tema “A importância do atleta-guia no esporte”. O programa foi apresentado pelo jornalista Evandro Tosin e contou com a participação de Vitor Diniz. Para acessar a transmissão completa do programa, clique aqui.

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Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Ale Cabral/CPB


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