A vacina contra a Covid é segura? Ouça quem fez parte do grupo de testagem

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Desde que surgiram os primeiros casos de Covid-19, em dezembro de 2019, a comunidade científica ficou em alerta e todos e iniciaram buscas para responder ao mundo os questionamentos sobre como e onde surgiu a doença, assim como pesquisas para soluções de contenção das mortes e infecções. O momento pandêmico gerou inseguranças e incertezas, e com as primeiras aprovações de vacinas não foi diferente. Alguns meses depois das primeiras aplicações e com alguns países tendo as atividades normalizadas, muitos ainda carregam dúvidas a respeito da prevenção.

Liliam Martinelli, doutora em Educação e pesquisadora nas áreas de meio ambiente, ensino voltado à área científica e formação de profissionais, faz parte do grupo de testagem de Curitiba (PR) da vacina produzida pela Janssen, braço da farmacêutica Johnson & Johnson. A professora afirma que é preciso ter conhecimento com o que se lida, mas é fundamental ter criticidade em relação a notícias com que somos bombardeados o tempo todo.

“Não adianta a gente passar as informações a respeito das vacinas se a gente não tiver bem claro a necessidade dessa compreensão desse espírito crítico. E o que é espírito crítico? É ser contra? Não, não é. Desenvolver o espírito crítico é justamente a gente, dentro de um contexto, elaborar perguntas a respeito disso. E a gente ter coragem de perguntar, ‘o que mais tem para oferecer?”, explica.

É possível confiar na eficácia das vacinas?

O vírus da Covid-19 já existia e era estudado antes mesmo da explosão da pandemia, mas era encontrado apenas em animais. Em determinado momento, por via alimentar, ele migrou para a espécie humana. A partir de então, os cientistas precisaram se desdobrar para, em tempo recorde, conseguir descobrir qual a melhor forma de tratar a doença. “O que não se sabia era a profundidade do alcance e estragos que podia acontecer com os seres humanos”, diz Liliam.

Até agora, algumas vacinas receberam maior destaque, mas há grupos envolvidos pelo mundo todo. A da Aztrazeneca, por exemplo, apesar de estar ligada à Universidade de Oxford (em Londres, na Inglaterra), possui centros de pesquisa em vários outros países que acompanham e fazem parte do processo. Neste caso, no Brasil quem comanda é a Fiocruz. Assim como a Janssen, que tem um grupo de pesquisadores na capital paranaense. Como parte do grupo de testagem, Liliam disse que não teve sintomas maiores do que o local de aplicação avermelhado por cinco dias e dor de cabeça leve.

“Pesquisas dessa natureza têm um acompanhamento muito sério, a ciência tem um protocolo, passos a serem seguidos, que transformam aquelas ideias em ideias que precisam sim ser questionadas, que estão em constante transformação, mas que são construídas em bases sólidas”, salienta a professora.

Para Liliam, uma grande barreira que causa o negacionismo é a desinformação, ocasionada pela falta de educação para a ciência. Além do mais, as pessoas têm dificuldade de compreensão dos resultados divulgados das pesquisas.

“Por exemplo, a vacina da qual eu faço parte do grupo de testagem tem 66% de eficácia contra pegar o coronavírus, de não desenvolver a doença. Então eu posso ficar doente? Posso, mas se eu ficar doente, eu tenho 80% de desenvolver os sintomas levemente, 20% de chances de ter que me internar por algum motivo. Mas eu tenho 100% de chances de não ir para uma UTI e não desenvolver o processo de maneira grave. Quer dizer, eu tenho, sim, uma segurança”.

A vacina, segundo a pesquisadora, é uma composição de substâncias que foram obtidas não somente de experimentação no ser humano, pois essa é a última etapa do processo. Por isso, a importância de buscar informações confiáveis para não se deixar ser manipulado e poder questionar ideias duvidosas. Ela ainda afirma que as pesquisas e testagens são feitas “com todo respeito possível a vida e, de um modo especial, ao ser humano”.

Em relação à imunização de crianças, a profissional diz que tem “boas notícias”. Há centros de pesquisas em processo de articulação para iniciar as pesquisas. Os pequenos não podem receber a mesma composição aplicada em adultos, pois têm o sistema imunológico em formação, o corpo está em desenvolvimento e funciona de maneira diferente.

A profissional também dá destaque para a necessidade de reconhecer os cientistas e a ciência brasileira como um todo, já que o país “tem todas as condições para dar continuidade nesse processo”. Seja por instituições bem conhecidas ou mesmo aquelas que as pessoas sequer sabem da existência. “A gente acha que só lá fora tem isso. Não, gente, aqui nós temos muita coisa, a gente precisa apenas voltar esse olhar e saber que a gente pode contribuir também para que isso possa acontecer”.

A Central de Notícias Uninter (CNU) já falou sobre o ciclo da pandemia e o desenvolvimento de vacinas e tratamentos neste link. Assim como realizou uma entrevista com o biomédico Benisio Ferreira Filho, coordenador do curso de Biomedicina da Uninter, que desmistificou algumas crenças e sanou duvidas a respeito das vacinas neste link.

Educação para a ciência

Mais do que não negar a ciência, é preciso entender o papel dela em uma sociedade. Liliam afirma que há um “imaginário coletivo” de que o cientista é um profissional “top”, “superinteligente”, que não é possível entender o que diz, “porque ele sabe muito, muito, muito”. Mas que não se pode mais permitir enxergar a ciência como algo distante, principalmente em um período pandêmico.

“Hoje precisamos da ciência e, de repente, a gente não tem acesso a essa ciência. Não porque ela não está presente, ela está completamente presente no nosso cotidiano, mas a gente não soube criar esse caminho. Nós somos fruto de uma sociedade que trabalhou sempre com as coisas muito fragmentadas, muito quebradas em pedacinhos. Então, por exemplo, o que a física estuda é só da física, o que a química estuda é só da química, o que a história estuda é só da história. Nós temos que entender que essa visão de mundo fragmentada prejudica a gente, porque ela nos impede de enxergar aquilo que é essencial na nossa educação como cidadão”.

A docente comenta que a ciência faz parte do dia a dia, a própria tecnologia que precisou ser empregada de forma mais intensa no último ano, surgiu de estudos que agrupam todas as áreas de conhecimento. Compreender essa proximidade é importante mesmo para assimilar o porquê de respeitar algumas regras e limites impostos, como os protocolos de distanciamento social, o uso de máscaras, a não aglomeração.

Para isso, é necessário questionar, pesquisar diferentes fontes, articular ideias, entender as notícias que chegam, para assim estabelecer uma opinião. Educar para a ciência ajuda a não aceitar informações falsas ou algumas ideias como única verdade. “Ajuda a desenvolver senso colaborativo”, completa Liliam.

“O professor também tem um papel muito forte nisso, de incentivo mesmo, de formar as pessoas para entender esse processo. Os demais profissionais não têm nada a ver? Tem tudo a ver, gente. Qualquer profissional, que trabalhe em qualquer área, tem sim a responsabilidade de procurar conhecer melhor o que isso significa e também de procurar ajudar a questionar.”

Liliam participou do curso de extensão Exatamente acerca do tema A vacina da Covid, realizado pela área de Exatas da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter. A apresentação e mediação do evento foram realizadas pelo coordenador de área, Paulo Martinelli, e o professor Élcio Miguel. O evento foi transmitido ao vivo e pode ser acessado pela página do Facebook e canal do Youtube.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König


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