Um desafio chamado conectividade

Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo*

Jovens altamente conectados, que escrevem com os polegares devido aos smartphones e que buscam respostas em tempo real, acostumados aos aplicativos de mensagem instantânea. Dos professores, exigem soluções melhores que as disponíveis nos apps.

Esse é o cenário no Brasil, como observa o doutor em Ciências Humanas e sócio consultor da Hoper Educação, João Vianney, que acompanha o desenvolvimento e o comportamento especialmente dos estudantes jovens.

As transformações observadas entre os estudantes são resultantes do que o pesquisador Manuel Castells chama de sociedade em rede. Nela, as experiências, o poder e a cultura são transformados por um novo tipo de funcionamento da sociedade, em que tudo se conecta.

Nessa sociedade, cada vez mais aberta e interligada, o cenário educacional é desafiador. Por um lado, o desafio agora é criar uma educação que incorpore as novas ferramentas digitais. “A solução é usar suas dimensões para alcançar mais aprendizagem”, aponta Vianney.

Mas, o avanço tecnológico reserva outras dificuldades do ponto de vista educacional: como alcançar os jovens que estão fora do contexto altamente conectado e interligado?

O uso de tecnologia digital em sala de aula, que é amplamente encorajado por profissionais da área de tecnologia, esbarra em uma problemática fundamental, já que o acesso à internet e às próprias tecnologias digitais é muito desigual no Brasil.

O Mapa da Conectividade na Educação de 2022 aponta que pelos menos 30 mil escolas municipais não estão conectadas à internet no país. O acesso a essas ferramentas nas casas dos brasileiros também é limitada.

Dados do Censo Escolar 2020, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelam que a rede de ensino fundamental dos municípios tem menor capacidade tecnológica em relação a outras instituições de ensino. Somente 23,8% contam com computadores portáteis, 52% possuem internet banda larga e 23,8% oferecem internet para uso dos estudantes.

Isso evidencia o ainda dificultoso avanço tecnológico nas metodologias de educação. Apesar de muitos professores terem o acesso à ferramenta e estarem inseridos em processos de aprimoramento profissional, seus alunos não têm condição de desfrutar disso.

Situação é pior no Norte e Nordeste

A desigualdade entre as regiões brasileiras, resultado direto do processo de industrialização tardia e incoerente do país, se manifesta também no acesso que alunos e cidadãos têm a ferramentas digitais capazes de ampliar horizontes e proporcionar o acesso à educação.

Dados disponíveis no site do Ministério da Educação mostram o acesso à tecnologia digital na educação em diferentes regiões do país. O Centro-Oeste, por exemplo, revelou ter 83,4% das escolas de ensino fundamental com internet banda larga. Em seguida estão as regiões Sudeste (81,2%) e Sul (78,7%).

Já nas regiões da porção norte do país, os resultados preocupam. Nestes locais, os índices de aprimoramento tecnológica ainda são baixos. As regiões Norte (31,4%) e Nordeste (54,7%) são as que têm a menor conectividade.

Educação a distância avança no país

Apesar das dificuldades da população acerca da conectividade, tem sido expressivo o avanço da educação a distância em relação ao ensino presencial. Seja pela facilidade de estudar onde e quando quiser, seja pelo menor custo, a educação a distância representa mais da metade dos alunos do ensino superior no brasil.

Segundo o Censo da Educação Superior 2021, entre 2020 e 2021, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação a distância aumentou 474%, enquanto a quantidade de ingressantes em cursos presenciais diminuiu 23,4%. Muito disso se deve ao grande número de instituições privadas que oferecem cursos nessa modalidade.

“Esse movimento aconteceu no Brasil inteiro. Quando expandiu a rede de polos [de apoio presencial das instituições de EAD] e expandiu o portfólio de produtos, chegou verdadeiramente no Brasil com um catálogo muito grande (…) revolucionou a educação brasileira. A EAD deu uma chave de braço nessa dificuldade de educação que tinha no interior do Brasil”, afirma Vianney.

Aprimoramento sem conectividade

Os esforços de profissionais da educação inseridos na educação a distância não são poucos, na busca por oferecer um ensino de qualidade e que dialogue com a realidade dos alunos. Mas esses esforços continuam esbarrando nos baixos índices de conectividade da população, principalmente em regiões com menos investimento público.

A Doutora em Educação na linha de Cultura, Escola, Ensino na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Helenice Ramires Jamur, afirma que durante a pandemia, o despreparo relacionado a educação a distância ficou escancarado.

Durante o período, mais de 99% das escolas brasileiras suspenderam as aulas presenciais em 2020 e apenas cerca de 53% das instituições públicas conseguiram manter o calendário e planejamento para o ano letivo, como mostra a pesquisa Resposta Educacional à Pandemia de Covid-19 no Brasil, do Censo Escolar 2020.

“Algo que já tínhamos sinalizado é que os professores da educação básica precisavam de uma formação para o uso das tecnologias. As dificuldades não foram poucas durante o isolamento”, afirma Helenice.

O mesmo estudo aponta ainda que mais de 2,6 mil escolas ficaram impossibilitadas de aplicar métodos de ensino-aprendizagem remotos, devido à falta de infraestrutura escolar e domiciliar.

Evasão escolar também aumenta

As diversas dificuldades enfrentadas principalmente por alunos da rede pública refletem a profunda crise da educação brasileira. Um estudo inédito, realizado pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) para o UNICEF, revela que 2 milhões de meninas e meninos de 11 a 19 anos que ainda não haviam terminado a educação básica deixaram a escola no Brasil. Eles representam 11% do total da amostra pesquisada.

A evasão escolar apresentou um aumento de 171% em relação a 2019, antes do surto de Covid-19. O cenário é um dos reflexos da pandemia, mas não é produto somente dessa. O desmonte de políticas públicas aliado a cortes abruptos e expressivos na educação também são responsáveis pelo baixo grau de acessibilidade e pela evasão de alunos da rede pública.

Ao focar na questão do profissional da educação, Helenice defende que é preciso refletir e dialogar com os alunos e a sociedade. Para isso, é fundamental a capacitação de professores e alunos e o acesso à tecnologia que os permita desenvolver um processo adequado de aprendizagem.

“Precisamos ter um olhar mais profundo acerca do acesso à tecnologia por parte dos alunos”, ressalta.

*Colaboração de Nayara Rosolen (jornalista)

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Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo*
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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