Servidão voluntária na era dos algoritmos

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismo

A era digital abarca a tudo e a todos. Pelo menos é essa a impressão que temos. Por mais que nem todos acessem as ferramentas digitais e as redes em si, os impactos desse universo influenciam o debate público, e deste modo, grande parte da população.

São algoritmos e redes que captam informações e facilitam o acesso e a disseminação de informações. No discurso popular, os avanços tecnológicos ajudam as pessoas. Mas ajudam a quais pessoas? E de que forma?

A temática abre espaço para o debate sobre servidão voluntaria. O conceito vem do século XVI, a partir da obra O Discurso da Servidão Voluntária, escrita em 1548 por Étienne de La Boétie, e que apresenta uma crítica à legitimidade dos governantes, chamados por ele de “tiranos”.

O conceito cunhado pelo filósofo francês expressa que muitas pessoas se submetem a sistemas opressivos e exploradores sem qualquer resistência. Neste caso, eles agem por vontade própria, demonstrando satisfação com as posições de inferioridade em que se encontram.

A servidão voluntaria no mundo contemporâneo extrapola a realidade material e se faz presente também nas telas de computadores e smartphones, segundo o doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Rodrigo Otávio dos Santos.

Algoritmos que controlam

Em meio à expansão de tecnologias digitais, entender como essas ferramentas funcionam se tornou prioridade de estudiosos das áreas de tecnologia e comunicação. De acordo com Rodrigo, tais ferramentas determinam comportamentos e agem sobre as decisões do público.

O indivíduo defende valores, desejos e pensamentos que acha que são dele, mas foram condicionados a ele por meio da influência digital das mídias e dos poderes políticos. A crença infundada em ídolos e ideias também é um aspecto presente na servidão voluntária tanto na sociedade como em mídias digitais.

“Os algoritmos controlam, mas existe alguém por trás deles. Alguém que irá levar vantagem política e econômica”, afirma o doutor em Educação e professor da área de Humanidades da Uninter Luís Fernando Lopes.

A liberdade aparente nas redes, segundo ele, está atrelada ao ato de esconder o controle das estruturas que promovem a disseminação infundada de propagandas e discursos falaciosos.

“Ao mesmo tempo em que dizemos que valorizamos o conhecimento, somos bombardeados por esse tipo de informação”, destaca Luís.

Os dados não mentem. Quatro em cada 10 pessoas afirmam receber notícias falsas todos os dias no Brasil. Os dados fazem parte de um levantamento feito pela Poynter Institute, escola de jornalismo e organização de pesquisas americana, e conta com apoio do Google.

A qualidade da democracia atual também é abordada em meio a essa discussão. Isso porque, de acordo com os acadêmicos, as ferramentas digitais auxiliam aqueles que têm poder financeiro. As máquinas ajudam na manutenção do status quo e fortalecem a servidão voluntaria, a aceitação sobre as estruturas e os ideais violentos.

“Cada vez mais, quem não tem dinheiro fica excluído e quem tem dinheiro e poder faz mais dinheiro e poder”, diz Rodrigo Otávio dos Santos.

Os acadêmicos ressaltam a importância do combate à desinformação para se construir uma democracia saudável. Rodrigo Otávio dos Santos e Luís Fernando Lopes foram os convidados do programa Atualidades da Educação, exibido pela Rádio Uninter em 15 de fevereiro.

Comandado pelo professor decano da Uninter Alvino Moser, o programa promoveu o debate sobre a servidão voluntária e os problemas encarados pela sociedade no meio digital.

Assista ao programa Atualidades da Educação pelo canal de Youtube da Rádio Uninter.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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