Saúde mental no jornalismo: uma pauta necessária

Autor: Izadora Alves Lopes - estagiária de jornalismo

Exercer a função de jornalista na atualidade pode exigir um esforço além da capacidade do corpo e da mente. Entre pautas e agendas, ali está o profissional que precisa buscar formas de conciliar profissão e bem-estar. Os desafios ficaram maiores no cenário de isolamento social ocasionado pela Covid-19, que transformou muitas histórias e afetou a saúde mental de muitos profissionais. A pandemia perdeu força, mas os efeitos do período de reclusão persistem.

O desenvolvimento social está relacionado à forma como o indivíduo reage às exigências da vida e como harmoniza desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções dentro da sociedade, conforme a Secretaria de Saúde do Paraná. Mas, com as longas jornadas, a saúde mental acaba ficando em segundo plano.

E para priorizar ao leitor a possibilidade de estar conectado a tudo e a todo momento, o jornalista dedica-se a buscar a informação com urgência, deixando de observar as consequências do excesso de trabalho a longo prazo.

De acordo com a pesquisa da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), realizada com 457 profissionais de jornalismo, a sobrecarga de tarefas e a cobrança tiveram um aumento de 55% na pandemia da Covid-19. Esgotamento mental, preconceitos, problemas pessoais e profissionais são alguns dos diversos desafios que o profissional encontra pelo caminho. E ainda, a estabilidade no emprego foi abalada neste período, fazendo com que os responsáveis pelo sustento de lares precisassem adaptar-se a diversas mudanças ao mesmo tempo.

Além de estar relacionado a problemas de saúde, os estudos do Fórum Econômico Mundial e da Escola de Saúde Pública de Harvard publicados pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), apontam que o impacto das doenças mentais dos colaboradores afetará também a produção econômica, com um valor estimado em US$16,3 trilhões entre 2011 e 2030.

Segundo a tutora do curso de psicanálise da Uninter, Raquel Berg, a saúde mental foi afetada por diversos fatores. No entanto, alguns dos principais aspectos estão relacionados ao medo de perder pessoas próximas, à instabilidade econômica e também o receio em perder a vida.

De acordo com Raquel, o principal fator é o autoconhecimento e saber gerenciar suas emoções, equilíbrio entre corpo e saúde mental. “Isso não significa saber se controlar, mas conhecer suas necessidades e seus limites nesse espaço. Estabelecer rotinas que façam sentido, buscar uma alimentação equilibrada, incluir a prática de algum exercício físico mesmo dentro de casa. Buscar falar com outras pessoas também é fundamental: família, amigos, pessoas que sejam importantes e com quem você possa falar sobre diferentes assuntos auxiliam no cuidado com a saúde mental”, explica

Já na reta final para concluir a graduação em Jornalismo da Uninter, Bruno de Oliveira Rocha, conhecido como “Bruno Cidadão”, não ficou imune aos efeitos negativos da pandemia. Inicialmente, Rocha comenta que não teve grandes dificuldades com as novas organizações de trabalho, pois já atuava com trabalho remoto como editor assistente num coletivo de checagem de fatos. Mas, ao acompanhar diariamente a soma de vidas perdidas por conta da Covid-19 e a falta de imunizantes suficientes para a a população, seus dias tranquilos se tornaram momentos de ansiedade e aflição. Somando a este fator, o impacto econômico chegou antes mesmo que pudesse evitar danos maiores.

“Tem sido complicado lidar com ansiedade nos dias atuais. O isolamento fez com que dependêssemos ainda mais da tecnologia”, relata o estudante. Se por um lado, a tecnologia contribui para agilizar processos, por outro, a cobrança por prazos e resultados ficou maior. Na visão de Bruno, o imediatismo ganhou mais espaço no mundo. “Parece que neste momento pós-pandemia algumas coisas ficaram acumuladas, tendo que realizar tudo de forma extremamente ágil. Quando o nosso corpo não consegue acompanhar, isso é frustrante. Antigamente, quando me colocava a uma carga horária maior eu me sentia menos pressionado se comparado à carga reduzida que faço nos dias atuais. Ainda estou em processo de aprendizado para criar uma estrutura de como lidar com esta situação”, afirma o futuro jornalista.

Assim como nas pautas profissionais, os jornalistas devem estar sempre atentos à checagem dos fatos que os impulsionam a querer continuar na profissão. O equilíbrio entre a vida e o trabalho precisa ser construído, buscando sempre o crescimento sem privar-se do caráter ético da profissão.

Ainda este ano, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) promove a 5ª conferência sobre a saúde mental (CNSM), com o tema: “A Política de Saúde Mental como Direito: Pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial”. O evento está previsto para os dias 08 a 11 de novembro de 2022.

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Autor: Izadora Alves Lopes - estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pexels


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