Qual o papel do jornalismo na vida das pessoas?

Autor: Fillipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo

O jornalismo como atividade profissional existe há menos de dois séculos. E os desafios da profissão foram se transformando durante esse período. Em partes, por causa dos interesses de quem detém o controle dos veículos de comunicação, historicamente dominados pela elite cultural e política. Mas também pelo avanço da tecnologia que propõe novas formas de levar informação às pessoas.

A pandemia de Covid-19 está acelerando esse processo de transformação do ofício jornalístico. O ambiente de redação está em risco e as produções remotas, mediadas pela comunicação digital, proliferam em todo o mundo. Ao mesmo tempo em que uma crise econômica sem precedentes quebra empresas de comunicação por todo o globo, a busca por informação de qualidade só aumenta. Seria essa a tempestade perfeita do jornalismo?

Para debater esse cenário, os professores de Jornalismo da Uninter Mauri König, Mônica Fort e Karine Vieira se reuniram em um bate-papo, mediado pelo coordenador do curso, Guilherme Carvalho, transmitido pelo canal da Uninter no Youtube.

Guilherme entende o momento atual como o encontro de fatores que contribuem para a instabilidade no setor jornalístico. “São três fatores que se somam: a hiperconcorrência, com o fim do monopólio da circulação de informação em massa; o contexto político, com a descrença nas instituições e ataques governamentais à imprensa; e a pandemia, que trouxe uma redução drástica na receita publicitária que sustenta os veículos, além da necessidade de produção remota”.

O jornalismo está presente diariamente na vida das pessoas, mesmo que elas não percebam, conforme explica König. “A sociedade em geral não se dá conta que está consumindo informações todos os dias e as utiliza para tomar suas decisões. Aí entra a importância da informação qualificada. As notícias falsas promovem uma visão maniqueísta do mundo, que privilegia determinados grupos. A luta entre interesse público e privado na produção de notícias sempre ocorreu”.

Segundo dados do Reuters Institute, mais de 70% da geração Z busca por notícias nas redes sociais. König comentou sobre as redes e sua relação com o jornalismo. “O Facebook não produz conteúdo. É um espaço de difusão dele. Estamos competindo com diletantes da informação. Temos de provar a todo momento que o que produzimos segue um rigor metodológico que deixa a informação qualificada. Ainda mais em um cenário no qual governantes deslegitimam o jornalismo por ele não falar o que eles querem ouvir”.

A professora Karine Vieira complementou a fala do colega. “A questão que se impõe é complexa e a pandemia só potencializou esse cenário. A minha percepção é que a gente está perdendo capacidade de comunicar. Não estamos sabendo fazer isso. Esses outros atores, que competem com os jornalistas, sabem. Estamos lidando com o enquadramento de emoções. As pessoas querem acreditar naquilo que lhe é mais agradável”, pontua.

Como exemplo dessa prevalência da emoção sobre a razão, Karine fala da pandemia de Covid-19. “O que nos impactava em março, nos fazia rezar pela Itália, não impacta agora no Brasil, mesmo com mais de 1.000 pessoas morrendo por dia e o esforço dos jornalistas em contextualizar os fatos. A ciência tem processo, tem método. O jornalismo está fazendo o papel de explicar. Mas infelizmente estamos perdendo espaço”, lamenta.

A professora Mônica Fort reafirmou a importância do método jornalístico, que é o que diferencia um jornalista profissional dos outros atores que atualmente divulgam informações nas diversas mídias. “Precisamos fazer com que as pessoas compreendam o que é notícia. Como identificar algo que foi devidamente apurado. A gente tem técnicas e prezamos por elas. Temos compromisso social e ético. Nós combatemos sempre o sensacionalismo. Claro, devemos aproveitar a oportunidade para comunicar, mas é preciso ter cuidado para não perdermos esse processo técnico”.

Os debatedores concordam que hoje, mais do que nunca, é necessário fazer com que a informação jornalística, baseada em fatos apurados, seja vista como informação útil e assim chegue às pessoas. É preciso defender o ofício jornalístico, pois seu valor na sociedade dificilmente mudará, mesmo que o contexto mundial esteja em constante transformação. A relevância da informação e sua curadoria para o grande público está nas mãos desse profissional: o jornalista.

Você pode conferir o bate-papo na íntegra clicando aqui.

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Autor: Fillipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Elijah O'Donnell/Pexels e reprodução YouTube


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