Os dilemas das escolas cívico-militares

Autor: Sandra Morais Ribeiro dos Santos*

Muito se fala a respeito da efetividade das escolas cívico-militares no país. Inúmeros dilemas, queixas, dúvidas e sugestões são colocados em debate, e, baseados ou não em ideias pedagógicas, são por vezes apenas posições políticas ou partidárias. Sem dúvida, muitas são as vozes que se alçam com prós e contras neste cenário. No Paraná há atualmente 194 escolas cívico-militares, mas esse número deverá aumentar em 2024.

Dentre os inúmeros fatores que mais se destacam para a escolha de matrículas em colégios com esta metodologia encontra-se a busca por um ambiente escolar mais seguro. É assustador deixar um filho ou filha frequentar uma escola sem saber se ele voltará bem para casa. Porém, para muitos pais essa é a única alternativa. Realmente, em comunidades mais fragilizadas e afastadas dos bairros ditos nobres, onde o poder público não consegue atuar com maior eficácia, as escolas cívico-militares tem-se mostrado uma alternativa para coibir a violência no ambiente externo e por vezes interno das instituições escolares.

O modelo cívico-militar não se coloca como única alternativa, porém tem sido um paliativo para comunidades onde crianças e adolescentes tem os estudos como única opção de crescimento pessoal, porém encontram mais do que entraves econômicos e sociais para seu progresso. Infelizmente, um dos grandes empecilhos é justamente a violência e o tráfico de drogas. Os professores e demais profissionais da educação, por vezes acuados, não conseguem alçar sua voz em tais ambientes, visto que também sofrem com a violência.

Um professor prepara-se exaustivamente para ministrar uma boa aula. São anos de estudo, muitos cursos, pós-graduações, mestrados e doutorados, mas nada o prepara para estar à frente de situações de ameaças à sua integridade física e dos seus alunos, num ambiente que deveria ser de acolhimento e aprendizado, mas que por vezes torna-se um local de ameaças e extremas violências.

Neste sentido, a disciplina pode dar suporte ao aprendizado, visto que a metodologia aplicada busca ensinar valores que muitas dessas crianças e adolescentes não vivenciam em seus lares, tais como pontualidade, compromisso com o outro e consigo mesmo, responsabilidade com a escola e com o material escolar, com normas claras e diretas, onde o estudante pode aprender conceitos que levará para toda a sua vida.

Um dos pontos contrários está justamente na imposição de um sistema totalmente militar, com normas extremamente rígidas. No entanto, percebe-se aí um desafio em encontrar um equilíbrio na implementação de normas, visando a um sistema híbrido, com regras mais flexíveis que possam ser alinhadas com todos os envolvidos na proposta político-pedagógica.

Muitos belos documentos podem ser escritos e pensados por políticos e educadores, porém por vezes não atingem a realidade de cada escola em suas particularidades. Em vista a buscar-se uma escola mais segura e planejada, os projetos e objetivos precisam ser pensados coletivamente pela própria comunidade local na qual está inserida, com ações ativas de toda a comunidade escolar: professores, alunos, funcionários, pais e responsáveis. Se a opção desta comunidade for pela implementação de uma escola cívico-militar, com certeza há muitas razões que conduziram a esta decisão, cabendo aos demais da sociedade apenas respeitar tal decisão. Eis a beleza da democracia.

* Sandra Morais Ribeiro dos Santos é Mestra em Teologia. Professora da Área de Humanidades da Uninter,

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Autor: Sandra Morais Ribeiro dos Santos*
Créditos do Fotógrafo: Lucas Fermin/SEED


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