O que mudou na mobilidade urbana com a chegada da pandemia?

Autor: Julia Siqueira - Estagiária de Jornalismo

Não é segredo que todo o planeta tem vivido uma nova realidade por causa da pandemia mundial de coronavírus. Desde março, temos visto os efeitos do isolamento social (a maneira mais efetiva de diminuir a propagação do vírus) na economia, no entretenimento, na natureza e, inclusive, na mobilidade urbana.

Luziane Machado, pesquisadora da área, foi a convidada da Uninter no evento Segurança em Debate, que aconteceu entre os dias 20.jul.2020 e 23.jul.2020. Ela explica o que é “mobilidade urbana” com uma simples analogia: a mobilidade é como o sangue que pulsa nas veias das nossas cidades. Em outras palavras, é o que nos faz, como população, transitar na cidade e, consequentemente, dar vida a ela.

Com a chegada da pandemia e o isolamento como medida preventiva, os fluxos de movimento pela cidade foram alterados. Para entender quais são essas alterações e como elas nos afetam, países do mundo inteiro estão realizando pesquisas e levantamentos em relação ao trânsito, acidentes e qualidade de vida. Segundo Luziane, algumas conclusões já foram encontradas:

  1. Houve uma diminuição nos deslocamentos, de maneira geral

A pesquisadora explica que essa diminuição afeta todos os níveis de trajeto. “A gente não está falando apenas de transporte público, nós falamos, inclusive, dos deslocamentos que são pequenos, para ir na padaria, ir fazer compras”, exemplifica.

Falando especificamente do Brasil, a pesquisadora comenta que em Goiânia (GO), segundo dados levantados quando o isolamento ainda não havia sido flexibilizado em todo o país, houve uma redução de 80% nos deslocamentos gerais da cidade.

  1. O número de acidentes fatais no trânsito também diminuiu drasticamente

“Em São Paulo (SP), há indicadores de menos 31,3% de acidentes fatais”, diz ela. Em Curitiba, por exemplo, foi constatado que os acidentes fatais que ocorreram durante o período de pandemia, em sua maioria foram causados por excesso de velocidade.

Ou seja, de um lado temos a diminuição de veículos nas ruas (por causa do baixo número de deslocamentos) e um número menor de acidentes fatais no trânsito, pois eles estão diretamente relacionados à quantidade de veículos circulando. E de outro, temos o aumento de pessoas andando em velocidades muito altas, pois diminui o temor de se atingir outras pessoas, já que existem poucos deslocamentos.

  1. Menos veículos de transporte público estão circulando

Luziane cita que uma das formas mais eficazes de combater o coronavírus é por meio do isolamento social e, pensando nisso, entende-se que ao diminuir a oferta de transporte público, as pessoas vão circular menos. Porém, na prática não funciona tão bem. “As pessoas que utilizariam aquele recurso continuam utilizando os ônibus e metrôs, mas em uma situação mais complicada, pois eles ficam um pouco mais cheios”, esclarece.

  1. Aumento do uso de bicicletas

Este é um dado que vem sendo observado não apenas no Brasil. Cidades como Berlin (Alemanha) e Paris (França) têm inclusive criado ciclovias temporárias para que as pessoas possam utilizar a bicicleta de forma mais segura.

“No entendimento dos pesquisadores da área da saúde, a bicicleta é mais segura do que a própria caminhada, porque na caminhada você acaba tendo um contato mais direto, uma aproximação maior com as pessoas que estão ao seu redor, do que na bicicleta, que você precisa de um distanciamento maior para conseguir fazer o uso”, explica.

  1. Adesão aos serviços de delivery

 As pessoas passaram a usar muito mais aplicativos de entrega, seja para pedir comida ou fazer compras online no mercado, e, por consequência, o número de entregadores também cresceu, principalmente os que utilizam a bicicleta como meio de transporte.

“Isso é muito interessante porque é um objetivo que a gente deveria ter antes mesmo da pandemia. Isso é uma coisa positiva que nós percebemos, que deve se aproveitada e replicada não só no momento de pandemia. Isso faz com que as pessoas andem de bicicleta, sejam mais saudáveis, assim há menos carros nas ruas e menos congestionamentos, proporcionando uma maior mobilidade como um todo, para todos”, explica a pesquisadora.

No momento, pesquisas continuam sendo feitas, inclusive, no Brasil. A Universidade de Brasília, por exemplo, integra uma equipe de pesquisa internacional, organizada pela Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, que busca detectar as mudanças nos hábitos dos usuários de transporte. Qualquer u pode participar da pesquisa pública online respondendo voluntariamente ao questionário de três etapas, clicando aqui.

O que será da mobilidade pós-pandemia?

 Alguns países já estão em fase de readaptação de suas cidades, com uma flexibilização consciente do isolamento social. É a partir desses exemplos que estudiosos vêm desenhando as possibilidades da mobilidade em um cenário pós-pandemia. Na China algumas situações já estão sendo observadas, considerando que o país já está vivendo o período de pós-pandemia.

A primeira delas, como cita Luziane, é o aumento de veículos nas ruas. É previsível que depois de viver um momento de crise sanitária tão delicado quanto uma pandemia, as pessoas fiquem com receio de utilizar os transportes públicos, que antes poderiam ser um local massivo de contaminação. Sendo assim, as pessoas preferiram substituir o uso dos coletivos por automóveis. Essa simples decisão pode ser muito prejudicial para a mobilidade urbana. “Assim a gente agrava a questão dos congestionamentos nos centros urbanos, que é um problema que já é de longa data, conhecido aqui no Brasil”, explica ela.

Vale mencionar outra situação observada, e diretamente relacionada ao aumento de veículos circulando, que é o crescimento do número de acidentes de trânsito. E aqui podemos entrar, mais uma vez, no ciclo de mais carros, mais acidentes.

Luziane ainda menciona um terceiro caso, que é o aumento da emissão de poluentes, possivelmente causada pelo aumento de veículos. “A emissão de poluentes também aumentou e quando eles falam que aumentou, eles não estão comparando com o período durante a pandemia. Eles estão comparando, ainda, com o período anterior a ela”, comenta.

No momento, o que pode ser feito é pensar em maneiras de evitar que essas circunstâncias pós-pandemia cheguem ao Brasil, estudando o cenário chinês e buscando soluções aplicáveis a nossa realidade. Essas possíveis soluções foram debatidas durante uma live do evento Segurança em Debate, organizado pela Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança da Uninter.

A transmissão foi mediada pelo professor Valdilson Lopes e pelo coordenador do curso de Gestão do Trânsito e Mobilidade Urbana, Gerson Buczenko. Eles também expuseram suas perspectivas sobre os efeitos da pandemia na mobilidade urbana e o que pode ser feito para que um cenário mais positivo, após a crise sanitária, seja alcançado no Brasil. Além da conversa sobre a mobilidade e o coronavírus, os três professores debateram sobre a importância da gestão de trânsito, sobre a mobilidade como um agente de bem-estar para a população e algumas questão de segurança no trânsito.

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Autor: Julia Siqueira - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Yuri Catalano/Wikimedia Commons e reprodução Facebook


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