Medicina tradicional pode fortalecer a saúde e aliviar sobrecarga da pandemia

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

A medicina tradicional, que utiliza produtos naturais para tratamentos, vem crescendo desde 1978, com a Declaração de Alma-Ata (República do Cazaquistão), onde foi realizada a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um dos pontos do documento diz que os países em desenvolvimento precisam ofertar esse serviço nos sistemas de saúde.

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), criada no Brasil em 2006, integrou ao SUS estas abordagens naturais, mas na época apenas cinco eram ofertadas: homeopatia, antroposofia, termalismo, fitoterapia e acupuntura. Em 2017, uma atualização incluiu mais 14 práticas, e em 2018, mais 10. Hoje são 29 Práticas Integrativas e Complementares (PICs) que estão disponíveis em 9.350 estabelecimentos de saúde, com presença em 54% dos municípios, nos 26 estados e no Distrito Federal.

Com as diversas limitações impostas pela pandemia, como o isolamento, e a sobrecarga de trabalho e atividades domésticas que as pessoas têm recebido, esses recursos se tornaram ainda mais importantes para a manutenção da saúde. As preocupações e estresses do período têm influenciado diretamente o cérebro humano, que está relacionado com a tríade da saúde física, mental e emocional.

O professor Vinícius Bednarczuk, coordenador dos cursos de Farmácia e Práticas Integrativas e Complementares da Uninter, e a professora Carolina Belomo, que é nutricionista, terapeuta floral e atua na Escola Superior de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades, debateram sobre o tema Saúde física e mental: uso das PICs na 2ª Maratona de Saúde sobre “Pandemia: tendências e aprendizados”. A transmissão ao vivo contabilizou mais de 200 acessos simultâneos.

Terapia floral

Os sistemas florais foram descobertos entre as décadas 1920 e 1930 pelo médico britânico Edward Bach, que criou 38 essências. Depois dele, muitos outros surgiram e também são trabalhados por Carolina em tratamentos de mulheres, crianças, mães e gestantes. Apesar de muitas pessoas ainda desconfiarem da eficácia do recurso, a profissional garante que “os resultados são fantásticos”.

Cada uma as essências estão ligadas a uma emoção básica humana, como medo, mágoa, tristeza, raiva, culpa. Bach sempre acreditou que para que o indivíduo tenha integridade e encontre saúde, é necessário ter conexão com o eu interior, estar conectado com a própria essência. De acordo com o médico, muitas doenças e desequilíbrios estão associados com a falta disso. “Com as essências florais, nós vamos trazendo esses equilíbrios”, afirma Carolina.

Neste momento de pandemia, a terapeuta indica alguns florais para manter a estabilidade. Do sistema de Bach, o Star Of Bethlehem pode ajudar com traumas e perdas; o White Chestnut promove o alívio mental para a sobrecarga de trabalho e pensamento acelerado; o Walnut fortalece a individualidade e promoção neste período de adaptação e vulnerabilidade; o Mimulos traz coragem sobre os medos concretos de perda e contaminação.

Já do sistema de Saint Germain, a profissional cita o Populos Panicum para o medo coletivo; o Perpétua para entendimento de saudade e separação física de quem teve perdas; assim como o Melissa para alegria interior. Mas Carolina lembra também da importância de procurar um profissional para uma análise mais profunda, já que cada pessoa tem suas próprias individualidades.

“Às vezes um terapeuta auxilia a gente conseguir enxergar coisas que a gente não consegue, embora o sistema do floral de Bach tenha sido feito para a auto cura, porque ele propõe ‘cura-te a ti mesmo’. Quem sente ‘ah, eu preciso dessa’, pode ir lá tomar, não tem problema nenhum. Mas quem precisa de uma ajuda a mais é muito legal consultar sim um terapeuta, porque ele foi treinado para ajudar a encontrar a solução daquilo que a pessoa precisa, traz esse alívio e ajuda”, explica.

De acordo com Carolina, os florais não têm interações com medicamentos, já que não atuam como medicação. O professor Vinícius ressalta que não são iguais a medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais, pois toda a preparação é diferente. A única ressalva é para casos de pessoas que têm alergia a álcool ou esteja tomando medicações que não permitem a ingestão de álcool ao mesmo tempo, como antidepressivos. Isso porque as flores são conservadas na substância.

“Mas isso não é tanto problema, a gente só retira o conservante da preparação de uso. E aí, aquela quantidade que foi diluída em água não vai fazer reação com medicação. É seguro”, complementa Carolina.

Ainda segundo a terapeuta, é possível misturar mais de uma essência. Cada sistema tem uma forma de ação. No caso de Bach, permite de 6 a 8, já o de Saint Germain, pode chegar a até 15 essências dentro de uma composição floral. “O ideal é que a gente trabalhe com o menos possível de essência, porque quanto menos essências a gente coloca, mais rápido é a atuação, a gente vai trabalhar mais certeiro naquela situação. Quando a gente mistura mais essências, o trabalho vai resultar também, mas pode ser que seja um pouco mais lento”.

Além disso, a terapia floral pode ser trabalhada em conjunto com as práticas meditativas, que auxilia no processo de autoconhecimento do indivíduo.

Práticas Meditativas

As práticas meditativas datam de filosofias e religiões muito antigas, mas foram popularizadas a partir da década de 1970 por Jon Kabat-Zinn, que construiu programas de formação em mindfulness e atenção plena laicos, sem associação a religiões. A prática passou a ser entendida como uma ferramenta para conexão da mente, corpo e o momento presente, com ampliação da capacidade de interocepção. O termo diz respeito a melhor compreensão de todos os sentidos e sinais internos, assim como com todo o externo também.

“Já existem muitos estudos de neurociência que têm demonstrado como é o caminho da atenção plena, como o mindfulness e essas práticas atuam no corpo humano. Hoje a gente já sabe que existe um caminho neural, regiões cerebrais que vão atuar de forma positiva, auxiliando nessa questão de conexão. Esse processo vai ser permeado por um caminho de atuação que trabalha o controle da atenção, regulação da emoção e autoconsciência. Esses três eixos juntos vão trabalhar em uma autorregulação, que é para tudo na nossa vida. A gente começa a entender melhor as coisas”, explica Carolina.

No entanto, as pessoas não têm o costume de praticar, muitas vezes por associar a meditação a um momento de silêncio total, em que devem ficar sentados e de olhos fechados. Ainda que exista essa forma mais tradicional, os professores dizem que a atenção plena pode ser realizada em qualquer atividade do dia a dia, pois se trata de um controle atencional, “trazer o foco para aquilo que você estiver fazendo”. Seja lavando louça, praticando atividade física ou mesmo brincando com os filhos. É perceber outros pensamentos chegando, mas não permitir que eles invadam a mente.

Segundo a terapeuta, o primeiro passo é ter coragem e perseverança, perceber se é o que quer e está bem para praticar no momento, já que é preciso encarar o que vier na meditação. Durante o bate-papo, Carolina fez um exercício de atenção plena com todos os que acompanhavam ao vivo. A transmissão completa segue disponível para acesso na página Maratonas para Desenvolvimento Sustentável Uninter.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Mohamed Hassan/Pixabay e reprodução


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