La Niña: fenômeno natural intensificado pelas mudanças climáticas

Autor: (*) Anderson Roberto Benedetti

A La Niña está de volta, fenômeno que começou a ressurgir no fim do ano de 2024. Nesse momento, o sistema atua de maneira suave e fraca, mas com possíveis impactos no clima global. Para contextualizar, o fenômeno é caracterizado por temperaturas abaixo da média no oceano Pacífico Equatorial, central e leste central, que ocorre devido ao fortalecimento dos ventos alísios. Tais ventos empurram as águas quentes da superfície oceânica em direção ao Pacífico Oeste, submergindo as águas mais frias à superfície no leste, especialmente, próximo à costa da oeste da América do Sul.  

É interessante observar, que a La Niña não ocorre de forma isolada, pois faz parte de um ciclo maior, conhecido como El Niño-Oscilação Sul (ENOS). O ENOS é caracterizado, basicamente, como uma alternância entre os eventos El Niño e La Niña, havendo condições neutras entre os ciclos. Esta constância pode influenciar a intensidade das tempestades nos países tropicais, o comportamento das monções e, até mesmo, os padrões de cultivo agrícola em várias partes do mundo.

O fortalecimento dos ventos alísios esfria as águas da costa leste e modifica o fluxo de calor e umidade na atmosfera do continente. Tais parâmetros são fundamentais na determinação de onde as chuvas serão mais ou menos intensas. A confirmação da La Niña, neste ano de 2025, ocorreu de forma gradual e lenta. As temperaturas do Pacífico Equatorial estavam em declínio há alguns meses, com as temperaturas de superfície saindo de 4ºC para – 0,7ºC em janeiro de 2025, confirmando o fenômeno.

A atual temperatura do oceano Pacífico na costa do América do Sul tem o poder de influenciar nas movimentações dos ventos e, consequentemente, na circulação atmosférica global. Por estes motivos, a La Niña afeta significativamente o regime de chuvas e a temperatura média de todo o planeta. Ao falar de Brasil, é comum que as regiões norte e nordeste tenham chuvas acima da média, enquanto o sul do país pode enfrentar períodos de estiagem.

Com o aquecimento global atingindo o nível alarmante de 1,6ºC acima da média em 2024 (veja no Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas -C3S), o fenômeno pode se tornar bastante imprevisível,  como o registrado em 2010 para 2011 no Nordeste brasileiro, quando  observamos chuvas intensas que causaram enchentes em diversas cidades. Já no Sul, a seca afetou a agricultura especialmente a produção de grãos, inflacionando o preço dos alimentos e da eletricidade.

O que podemos dizer com certeza é que, com a chegada do La Niña em 2025, é possível que esses impactos sejam mais moderados devido à baixa intensidade do fenômeno, conforme aponta o North American Multi-Model Ensemble (NMME). Mesmo com tais previsões, os setores como a agricultura e a geração de energia devem ficar atentos aos regimes de chuvas locais, principalmente na região Sul, onde a estiagem deve ser o principal inimigo do agricultor.

O mais importante é que o La Niña não deve perdurar, pois deve persistir até abril de 2025 e entrar na fase neutra do ENOS até o fim de maio de 2025, trazendo de volta regularidade nas chuvas por todo o Brasil.

(*) Anderson Roberto Benedetti é biólogo e Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

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Autor: (*) Anderson Roberto Benedetti
Créditos do Fotógrafo: NASA/JPL Ocean Surface Topography Team


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