Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2021: o show não pode parar?

Autor: Katiuscia Mello Figuerôa*

Já se passaram 125 anos desde o início dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Em todo esse tempo, apenas três vezes eles foram cancelados devido às duas Guerras Mundiais: Berlim-1916, Japão-1940 e Londres-1944. O megaevento esportivo nunca foi cancelado por motivo de saúde pública, tanto é que se aproxima a edição de 2021 que acontecerá de 23 de julho a 8 de agosto próximos. O Japão receberá os Jogos pela segunda vez na história, após um adiamento de um ano e em meio devido à pandemia da Covid-19. E no período entre 24 de agosto e 5 de setembro serão celebrados os Jogos Paralímpicos.

A previsão é de que 80% dos atletas e equipes técnicas dos diversos países que ocuparão a Vila Olímpica estejam vacinados durante o evento, devido a uma parceria entre Pfizer e os Comitês Olímpico e Paralímpico Internacionais. No entanto, a vacinação da população geral do Japão segue em ritmo lento. A previsão de vacinar todos os cidadãos acima dos 65 anos é para o final do mês de julho. Comenta-se que o problema do país é a falta de equipes médicas para aplicação e não a falta de vacinas.

Especialistas da área da saúde já alertaram para os possíveis impactos da realização dos eventos, bem como sobre a possibilidade de surgimento de novas variantes no país. Eles mostram preocupação pela entrada de atletas, comissões técnicas e repórteres, além do público nas competições e comemorações pelas ruas. Vale lembrar que o estado de emergência havia sido suspenso no passado vinte de junho, mas devido ao aumento de casos de Covid-19 em Tóquio agora a cidade retornou à situação faltando quinze dias da cerimônia de abertura.

Nesse cenário de incertezas foram feitas pesquisas com os japoneses e eles continuam receosos com os efeitos da realização dos Jogos no número de infectados no país. Praticamente dois meses antes do evento, mais de 80% dos japoneses declararam ser contrários à sua realização. Destes, 43% sugeriam o cancelamento definitivo dos Jogos e 40% um novo adiamento.

Além disso, aproximadamente 10 mil pessoas entre os 80 mil voluntários que trabalhariam durante os eventos em Tóquio desistiram. Dentre os motivos estão a preocupação com a pandemia, mudança do calendário, serem contrários aos Jogos ou, ainda, em protesto aos comentários sexistas proferidos pelo ex-presidente do evento, substituído em fevereiro após uma renúncia forçada. E soma-se ao cenário uma oposição forte de parte dos ex-atletas olímpicos, e de especialistas da saúde, à realização das competições nesse momento. Mas tanto o governo quanto os organizadores já descartaram um novo adiamento e declararam que um cancelamento só ocorreria em circunstâncias catastróficas.

Os impactos serão enormes e diversos de todas as formas – tendo ou não as Olimpíadas e Paralimpíadas nesse ano. Um exemplo referente à questão econômica é que a previsão inicial, antes da pandemia, era de cerca de 600 mil visitantes estrangeiros assistindo as competições de forma presencial. Agora, faltando poucos dias para o primeiro evento, o público que havia sido liberado (local e limitado a 50% de capacidade, com o máximo de 10 mil espectadores selecionados por sorteio) não participará mais. O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, voltou atrás em sua decisão e vetou a participação do público em Tóquio que estará em estado de emergência até o dia 22 de agosto. Outras cinco cidades seguem se preparando para receber espectadores, mas ainda não tiveram uma confirmação oficial de público.

Não dá para ignorar a previsão de um possível pico de casos de Covid-19 após o encerramento dos Jogos, afetando a crise sanitária e acarretando perdas ainda maiores para o país. Um economista do Instituto Nomura chegou a declarar à imprensa que o cancelamento dos eventos traria menos perdas econômicas do que os danos causados por um possível estado de emergência pós-eventos. Para se ter uma ideia, há estimativas de que o cancelamento dos Jogos custaria ao país-sede aproximadamente 1,81 trilhão de ienes, algo cerca de 90 bilhões de reais.

Assim como vimos acontecer com a Copa América no Brasil – que já registrou aproximadamente quatro vezes mais casos de COVID-19 do que gols –, houve uma pressão da comissão organizadora e dos patrocinadores para que os eventos acontecessem no Japão (e ainda há). Contudo, de acordo com a lógica dos negócios, o show não pode parar. Torcemos para que não seja alto, mas só nos resta saber qual será o preço que os japoneses pagarão pela realização dos Jogos.

* Katiuscia Mello Figuerôa é doutora em Ciências da Atividade Física e Desportiva, professora de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de licenciatura e de bacharelado em Educação Física da Uninter.

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Autor: Katiuscia Mello Figuerôa*
Créditos do Fotógrafo: Gerhard G/Pixabay


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