“Imbecil!” Violência contra as crianças persiste

Autor: *Maristela R. S. Gripp

A morte da menina Isabela Nardoni chocou o país. A menina tinha apenas 5 anos, mas já tinha experimentado a violência física e psicológica, dentro da casa do pai e da madrasta. Em um final de semana, depois de sofrer uma série de violências físicas, a menina acabou sendo jogada da janela, pondo fim a uma vida curta e sofrida.    

Em um outro caso, um adolescente de 13 anos, bom aluno e que sempre tirava notas altas, levou uma surra de cinto dos pais quando apareceu em casa com o boletim, em que havia tirado 9 numa matéria considerada fácil. A mãe assistiu a tudo do quarto ao lado, mas não quis interferir na “disciplina” que o pai aplicava no filho.    

Um casal muito piedoso e temente a Deus, levou ao pé da letra a expressão bíblica “ensina o teu filho com a vara”. O filho do casal, de apenas 1 ano, já havia recebido muitas varadas por não obedecer aos pais. A vara ficava estrategicamente, pendurada numa porta como lembrete.    

O “imbecil” do título desse artigo era um menino que devia ter entre 4 e 5 anos. O dia começou no parquinho onde, além dele, várias outras crianças brincavam e se divertiam. De repente, o menino decidiu ir até o local, onde a mãe estava sentada verificando as mensagens no celular. O menino distraído, como toda criança pequena, pisa nos óculos escuros que havia sido colocado no chão, perto dos pertences da mulher. O que se viu depois disso foi uma cena que chocou quem assistia. A mulher teve um acesso de raiva, ficando totalmente descontrolada! Gritava e se debatia, além de proferir vários palavrões contra o menino: “Seu imbecil! Seu imbecil! Você pisou nos meus óculos! Seu FDP! PQP! Seu imbecil! Seu imbecil! Onde você está?” O menino, assustado, correu e se escondeu atrás de um banner, que dá as boas-vindas ao espaço infantil.    

Infelizmente, a violência contra a criança está em todos os espaços sociais e isso independe do nível educacional ou financeiro dos pais. Muitas crianças vivem num contexto de violência física e/ou psicológica diários. A criança é presa fácil para um adulto descontrolado que, muitas vezes, desconta sobre nela as suas frustrações, cansaço e raiva, acumulados durante um dia/noite difíceis ou como um resultado da sua própria criação.    

De acordo com o autor Dias (2013), o conceito de infância surgiu na Idade Média e separava a vida em seis etapas ou fases. Já a palavra “infância” vem do latim “infantia” e significa “incapacidade de falar”, isto é, a incapacidade de se comunicar e expressar seus sentimentos. Segundo Sônia Kramer, a área da Filosofia vê e constrói uma representação de infância como um período em que a criança não é guiada pela razão, e consequentemente, precisa ser guiada pelos adultos. Atualmente, o conceito de infância tem se ampliado, mas é correto afirmar que, durante esse período da vida, as crianças precisam ser, além de cuidadas, educadas e amadas por um adulto.    

Conforme o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), já existem várias evidências que “demonstram que, no longo prazo, as experiências vividas na primeira infância também estão relacionadas com acontecimentos na vida adulta, como um melhor desempenho escolar e profissional, assim como menos problemas de saúde e até um menor envolvimento com criminalidade e outros fenômenos sociais. Por outro lado, o contrário disso também é verdadeiro: uma criança que é criticada, xingada, ignorada e abusada nos seus direitos tem grandes chances de reproduzir esses comportamentos na vida adulta e fracassar.   

Criar e educar uma criança não é fácil! Exige um enorme investimento financeiro e afetivo por parte de quem cuida dela. Os pais ou os responsáveis vão ser a principal referência dela, durante muito tempo. A criança aprende o que vivencia, mas se o que ela vivência é a falta de respeito e de amor, é isso que ela vai reproduzir!    

Toda criança merece e precisa ser respeitada, acolhida e amada. Precisa ter limites estabelecidos e ser disciplinada sem agressão física ou psicológica. A responsabilidade sobre a construção desse ser humano é dos pais ou dos responsáveis por essa criança. Cabe a eles buscarem ajuda quando perceberem que não estão conseguindo exercer a sua função da melhor maneira. O acesso ao conhecimento sobre como educar um filho está cada vez mais prático. Existem livros, cursos, sites, coachs e documentários que tratam sobre o tema. Por isso, dizer “eu não sabia” ou reproduzir nos filhos situações de humilhações e sofrimento, vivenciados no passado, nunca é a melhor opção!    

Diante de tudo isso, o conhecimento pode ser a chave para uma relação mais equilibrada, respeitosa e amorosa entre pais e filhos. Os danos materiais são contornáveis, mas a falta de afeto e os maus tratos podem se perpetuar por uma vida inteira. Concluindo, pais que se educam, são pais que querem o melhor para os seus filhos e para o mundo.       

 *Maristela R. S. Gripp é Doutora em Estudos Linguísticos, Psicopedagoga e Professora do Curso de Letras no Centro Universitário Internacional UNINTER  

Incorporar HTML não disponível.
Autor: *Maristela R. S. Gripp
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *