Autismo: do diagnóstico à inclusão no mercado de trabalho

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

A Uninter se preocupa em propiciar um ambiente de trabalho inclusivo para todos. Não à toa, o primeiro valor da instituição é o respeito às pessoas, que são a razão do negócio acontecer. Na busca por reconhecer e valorizar as diferenças individuais, a área de Gestão de Pessoas, em parceria com o Instituto IBGPEX e a Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL) promoveram a palestra de Inclusão da pessoa autista.

O evento da tarde de 6 de outubro aconteceu para os colaboradores no auditório do campus Garcez da Uninter. O especialista em Educação Especial e professor da ESEHL Bruno Simão, a terapeuta ocupacional e pós-graduada em Neurologia Lilian Wellen, e a especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA) e pedagoga do IBGPEX, Pamella Toski, foram os convidados para abordar o tema.

A palestra foi mediada pela especialista em Educação Especial e Inclusiva e assistente social do IBGPEX, Fernanda Milane, e contou ainda com a abertura realizada pela analista de Gestão de Pessoas da Uninter, Elisandra Wolski, e pela gerente de projetos sociais do IBGPEX, Rosemary Suzuki.

Elisandra, que atua na área de recrutamento e seleção, explica que é cada vez mais comum se deparar com candidatos com o diagnóstico de autismo durante os processos seletivos. Muitos diagnosticados depois dos 20, 30, 40 anos de idade. Isso faz com que se tenha um número cada vez maior de pessoas autistas no quadro de colaboradores que, de fato, estão sendo incluídas na instituição.

Por isso, a profissional afirma que o conhecimento e o debate acerca do assunto se mostram necessários. Para que o ambiente de trabalho seja adequado e para que os colegas saibam acolher, respeitar e lidar com as diferenças.

“É uma oportunidade para aprendermos, crescermos e, acima de tudo, abraçarmos a importância da inclusão e da empatia. Muitas vezes, a falta de conhecimento pode perpetuar estigmas e desigualdades. Esse conhecimento não apenas enriquece nossas vidas, mas também nos capacita para sermos aliados melhores, líderes mais compassivos e colegas de trabalho mais eficazes”, garante Elisandra.

Rosemary salienta que a inclusão desses profissionais é um passo crucial em direção a uma sociedade mais justa e diversa. “A inclusão é um valor fundamental que permeia todas as áreas da sociedade. E quando falamos de inclusão no mercado de trabalho, estamos falando não apenas de equidade, mas também de reconhecimento do potencial e talento que cada indivíduo traz consigo, independentemente de suas diferenças. Estamos comprometidos em criar ambientes de trabalho que sejam acolhedores, acessíveis e capacitados para receber todas as habilidades únicas que os indivíduos podem oferecer”, declara.

Por isso, o Instituto atua na prática da inclusão não apenas na triagem de processos seletivos para pessoas com deficiência (PCDs), trabalho realizado por Fernanda, mas também desenvolveu um projeto pensado para o Grupo Uninter.

O Despertar, coordenado por Pamella, visa a incluir a pessoa neurodiversa e busca o pleno desenvolvimento no mundo do trabalho. Atualmente na terceira turma do projeto, são 25 colaboradores registrados pela Uninter, 11 deles autistas, que recebem uma capacitação ofertada pelo IBGPEX. Além de planejamento de carreira, habilidades técnicas e comportamentais, contam com aulas de arteterapia e informática acessível.

Pamella conta que mais de 60 pessoas foram beneficiadas pelo projeto e 30% já estão no mercado de trabalho, dentro e fora da instituição. Eles têm ainda a oportunidade de estagiar em áreas específicas do centro universitário durante um mês e, nesse processo, alguns já foram efetivados.

“É uma realização. Temos caminhado e estamos lutando a cada dia para que esse projeto dê certo e um dos resultados é esse”, destaca Pamella.

Diagnóstico e tratamento

O professor Bruno explica que o autismo é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, relacionado a etapas do desenvolvimento e apresentado também por meio do comportamento. No entanto, não há cura, pois não é uma doença. E ainda não se tem uma definição real da origem.

“Existem muitas especulações, algumas até absurdas. Não é vacina que gera autismo, não é remédio, não é glúten, não é açúcar. O que se tem comprovado é entender que o autismo tem suas características relacionadas a questões genéticas e de ambiente. Quais ainda não se define”, afirma Bruno.

Pessoas autistas podem ser classificadas em nível de suporte um, quando possui determinada autonomia e possibilidade de se desenvolver maior e mais rápido. Nível de suporte dois, quando precisa do auxílio de outra pessoa, pois pode apresentar alguma dificuldade de comunicação e interação social, por exemplo. E nível de suporte três, em que o indivíduo necessita de alguém para atender todas as demandas, seja em casa, no trabalho ou ambiente social.

Lilian mostra que de 69% a 95% de pessoas autistas apresentam uma disfunção sensorial. De acordo com a especialista, “um número muito alto”, mas que se justifica em estudos que mostram diferenças no sistema límbico. Um conjunto de estruturas cerebrais interconectadas que processam emoções e comportamentos, e que impacta em como a pessoa recebe as informações.

“Tudo é sensorial: falar, ouvir, sentir o cheiro de uma comida, estar sentado. (…) A hiper-reatividade é uma das principais disfunções no sistema sensorial, que é justamente isso de o cérebro receber informações e processar de uma forma exagerada. Então ouve demais, sente demais. Às vezes só de você chegar perto dessa pessoa, pode gerar um desconforto, porque acha que vai tocar nela. Esse toque, que para algumas pessoas é muito bom, para essa pode ser extremamente desconfortável”, explica Lilian.

A sobrecarga sensorial pode ser identificada através de uma crise, quando a pessoa se exclui do ambiente, ou ainda por meio de questões comportamentais, pelo suor ou agitação. Cada um apresenta características próprias dentro de cada nível de suporte necessário e também reage de formas individuais.

O alerta é para aqueles, principalmente adultos, que não têm o diagnóstico e aprendem a mascarar os sintomas. “O que acontece muito é ter essa sobrecarga sensorial à noite, em casa. A pessoa chega com o sentimento de exaustão, parece que passou um trator em cima dela. É por causa da sobrecarga sensorial que teve durante o dia. O nosso cérebro acumula toda essa sobrecarga para que a gente fique tentando mascarar e poder viver em um ambiente social, mas de alguma forma vai reagir”, conclui.

O diagnóstico de TEA é comportamental, a partir das características, e realizado por um profissional de saúde, como neurologista, psicólogo e psiquiatra. Lilian acrescenta que o tratamento e as ferramentas utilizadas dependem da disfunção de cada um para identificar o melhor recurso. Mas é importante que, a partir do diagnóstico, a pessoa faça o tratamento com um terapeuta ocupacional.

Acolhimento e inclusão efetiva

No mercado, existem empresas que são referências em inclusão de pessoas autistas, como a Danone, a Astrazeneca e a farmacêutica Takeda. Para Bruno, uma das vantagens do trabalho de uma pessoa autista é a organização, o detalhamento e a pontualidade para realizar as atividades. Por isso, “dentro de uma empresa grande, fazem toda a diferença. São destaques justamente por causa dessas características”.

Para um ambiente mais acolhedor, além de eventos de conscientização e debates acerca do tema, o especialista diz que o primeiro passo é conhecer essa pessoa. Ouvir e perguntar como pode agir, para assim entender quais são os limites de cada um.

“Conhecendo conseguimos desenvolver melhor suas potencialidades, porque dentro das suas características enquanto autista, ainda pode ter alguma comorbidade, como ser um autista nível um com TDAH. E precisamos entender o que é”, afirma.

Os profissionais ressaltam que é importante ainda ter cuidado com falas que estigmatizam e como o assunto é tratado no ambiente de trabalho. Para que essas pessoas se sintam à vontade para compartilhar a condição e tenham as acomodações sensoriais necessárias. Bruno diz que, às vezes, por falta de conhecimento, alguns colegas apontam essa questão como algum favorecimento dentro das funções.

“Isso já vinha acontecendo, só que hoje a gente tem a clareza do que é [essa dificuldade]. Tentamos, nessa situação, verificar qual é a melhor configuração daquele espaço para ele. Não significa que está tendo privilégios ou algo nesse sentido, muito pelo contrário. Estamos dando acesso a ele, porque entendemos que necessita, e dando oportunidade de que faça parte daquilo que fazemos”, finaliza Bruno.

A previsibilidade também é uma questão, por isso a importância de o profissional entender qual é a rotina dentro do espaço e saber de forma clara o que deve ser desempenhado por ele.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *