A menina que só queria jogar bola e conquistou 15 títulos

Mauri König – Jornalista

Marina nunca deu bola para o preconceito desde que adotou o futebol ainda menina. Foi uma saga conseguir uns poucos flashes numa arena esportiva em que são dos homens todos os holofotes. Se boleiro bom é aquele que defende, ataca, dribla e faz o gol, ela teria de fazer mais do que isso. E fez, como atestam os seus títulos nacionais e internacionais. A ex-zagueira Marina Toscano Aggio de Ponte agora compartilha o que sabe no curso de Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.

Forjada nos campinhos de terra batida de Iretama, cidade de 10 mil habitantes na região central do Paraná, a menina boa de bola fez nos gramados mais do que muitos marmanjos que são hábeis no marketing, mas pipocam em campo. Uma palavra a define. Campeã no Paraná, campeã em Minas Gerais, campeã em São Paulo, campeã no Brasileirão, campeã da Copa do Brasil, vice-campeã na Itália, campeã na Suécia, campeã pela Seleção Brasileira. São 15 títulos. Quinze!

O grande incentivo veio do pai, José Aggio, e da mãe, Luiza Toscano, ambos de ascendência italiana. Aos 60 anos, o pai ainda bate um bolão nos gramados de Iretama nos fins de semana. Se Marina não sofria preconceito dentro de casa, por que aceitaria que viesse de fora? Assim, ela se infiltrava entre os meninos nos campinhos de terra batida para sua grande vocação: jogar futebol. Se olhassem torto, ela nem ligava.

Um dia, o pai chegou com a notícia de que o craque Zico tinha aberto uma escolinha de futebol na vizinha cidade de Campo Mourão, logo ali. Venceu em um ônibus os 60 quilômetros, a primeira viagem da vida. Chegando lá, se deparou com 150 meninos e nenhuma menina. Vencido o receio inicial, deixaram-na treinar. Marina mostrou a que veio e ficou ali por dois anos. O bom desempenho rendeu uma indicação para jogar em Londrina.

Na terra dos pés vermelhos, despertou o interesse de um olheiro do Palmeiras, que tinha instalado ali uma clínica de futebol para revelar talentos. Marina tinha 17 anos e foi levada a São Paulo, onde passou a jogar no Juventus da Moca, à época conhecido como Moleque Travesso.

Permaneceu no Juventus por quatro anos, até se transferir para a equipe do Foz do Iguaçu Futebol Clube. Foi quando se deu a primeira das 18 convocações para a Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Em 2003, foi campeã mineira pelo Santa Cruz. Em 2004 se mudou para a Suécia, onde jogou na equipe Själevads Ik. Ali, jogou a série A em 2004 e 2005 e foi campeã da série B do Campeonato Sueco em 2007. De quebra, foi eleita a quarta melhor jogadora entre as 50 estrangeiras que atuavam no país.

Voltou ao Brasil em 2008 e passou a jogar em Curitiba pelo Novo Mundo FC, pelo qual venceu três vezes o campeonato paranaense. Em outra passagem pelo Foz Cataratas, foi novamente campeã paranaense e ainda acrescentou ao currículo um título da Copa do Brasil. Em seguida, um novo chamado para consolidar a carreira internacional, desta vez jogando duas temporadas na Itália.

Foi vice-campeã no campeonato italiano e vice-campeã da Copa Itália pela equipe Verona Calcio Femminile. A equipe ficou entre as 16 melhores da Europa jogando a Champions League na temporada 2012-2013. Depois dessa experiência bem-sucedida, voltou a jogar no Brasil, agora na Ferroviária de Araraquara. Em dois anos, ganhou três títulos: campeã paulista em 2013, campeã da Copa do Brasil e do Brasileirão em 2014.

Pela Seleção Brasileira, Marina venceu o Campeonato Sulamericano em 2010 e chegou ao vice-campeonato no Torneio Internacional Cidade de São Paulo de Futebol Feminino. Disputou ainda o Campeonato Mundial Universitário Feminino de 2010, realizado na Sérvia. Ela também atuou como árbitra da Federação Paranaense de Futebol Feminino e da Confederação Brasileira de Futebol Feminino.

Depois de exatas duas décadas nos gramados, Marina parou de jogar aos 33 anos. Queria um filho; teve Marcus Henrique, hoje com 1 ano. Muito antes da maternidade, ela já se preocupava com o que faria depois de sair de campo. Nos intervalos entre um título e outro, ia estudando. Formou-se em Educação Física, fez especialização em docência no ensino superior, fez mestrado profissional em processo de ensino, gestão e inovação, tendo como tema o olhar feminino sobre o futebol feminino.

O marido da jogadora, Edu Pontes, mantém um blog especializado em futebol feminino e aborda a necessidade de as jogadoras pensarem no futuro enquanto ainda estão na ativa. “A Marina é um dos exemplos de atleta que aproveitou a chance que o futebol lhe ofereceu para estudar. Algumas equipes de futebol oferecem curso de graduação de graça, basta vontade de estudar. Graduou-se e pós-graduou através do futebol e ainda jogando, mas dessa vez com seus recursos, iniciou e concluiu seu mestrado”, diz.

“Ela, em 20 anos, nunca teve carteira assinada. Se não tivesse estudado, qual profissão teria hoje? Qual seriam seus planos de futuro? Não sei dizer, mas com certeza seriam limitados”, conclui o blogueiro, que é graduando em Marketing, com cursos em Gestão Aplicada ao Esporte e especialização em Marketing Esportivo. “Conciliar estudos e futebol não é fácil, mas é possível”.

Marina recebeu no ano passado o título de Cidadania Benemérita de Iretama, ao lado de Célia Janete da Costa Coppi, ex-jogadora da Seleção Brasileira de Handebol. Desde dezembro ela é tutora no curso de Educação Física da Uninter, atuando nos 19 cursos da área desportiva da instituição.

“Devido à sua formação em educação física, associada à experiência como futebolista, ela dará todo o suporte aos nossos alunos, podendo tanto orientá-los em sua formação como apontar situações reais por ela vivida em sua carreira de atleta”, diz Karina Rodrigues, gestora do Polo CIC da Uninter.

Os títulos de Marina

Campeonato Brasileiro (2014)

Copa do Brasil (2011 e 2014)

Campeonato Paranaense (4 títulos, sendo 2008, 2009, 2010 e 2011)

Campeonato Mineiro (2002)

Campeã Paulista de Society (2002)

Campeonato Paulista (2013, segundo semestre.)

Campeonato Sueco Série B (2007)

Vice-campeonato Italiano (2012)

Vice-campeonato da Copa Itália (2012/2013, primeiro semestre)

Campeonato Sulamericano (2010)

Vice-campeonato Torneio Internacional Cidade de São Paulo (2011)

 

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