Brasil registra baixos índices de representação feminina na política e expõe falhas das cotas de gênero
Autor: Madson Lopes - Estagiário de Jornalismo
O Brasil ocupa a 133ª posição no ranking mundial de participação feminina na política. Mesmo sendo maioria da população e do eleitorado, as mulheres representam apenas 18,1% das cadeiras na Câmara dos Deputados, média semelhante nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. No Senado, a participação é de 19,8%. Os números demonstram porque o assento mais importante do Poder Executivo, a presidência, foi ocupado por uma mulher apenas uma vez.
Os dados são do TSE Mulheres e foram debatidos no programa Café e Conhecimento, da TV Uninter, em 17 de setembro. Apresentado pela professora Daniele Assad, o programa é uma iniciativa da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança da Uninter. A edição recebeu a cientista política Karolina Roeder, professora dos cursos de Ciência Política e Gestão de Partidos Políticos da Uninter.
Embora perceba avanços a cada pleito, Karolina explica que os números são alarmantes. “De todos os países da América Latina, o Brasil é o pior. A nossa média é pior do que a média do continente africano. É 10 pontos percentuais menor do que as América do Norte. Então sim, nós temos um caso seríssimo de sub-representação de mulheres”, lamenta.
A professora afirma que há forte interesse das mulheres neste meio, pois ocupam boa parcela das filiações partidárias. Mas, para alcançar cargos maiores, sofrem resistência dos próprios partidos, que pouco se esforçam para lançar candidatas. “As mulheres gostam de política, só que elas encontram um ambiente que não é propício para escuta, não tem acolhida, não tem o mínimo para que possam participar daquele ambiente”.
Os partidos aprenderam, inclusive, a burlar as cotas de gênero. Criadas para garantir igualdade de representação, essas cotas determinam a reserva de no mínimo 30% e no máximo 70% de candidaturas de cada sexo. Mas, num artigo publicado no periódico Party Politics em 2022, duas pesquisadoras mostram como essa lei vem sendo subvertida.
“Elas analisaram várias eleições do Brasil e mostraram que em vários níveis [as cotas] estão sendo subvertidas por meio de laranjas. Então, colocam candidatura fictícia e às vezes a mulher nem sabe que é candidata ou sabe, mas foi coagida ou colocada de última hora. Acontece muito isso e tem até muitas mulheres sendo penalizadas […] e isso pode acarretar perdas de direitos importantes, inclusive o direito político”, afirmou.
Soma-se a isso a fragilidade e a desorganização interna dos partidos, que sofrem para formar lideranças femininas. Segundo Roeder, essa formação acaba sendo feita por organizações suprapartidárias, o que pode ser visto até como algo proposital, já que é confortável para os partidos afirmarem que não possuem estruturas suficientes.
Apesar do cenário, a professora aponta caminhos para mudar essa realidade. A solução passa pela adoção de mecanismos mais rigorosos de fiscalização, mas também pelo reconhecimento da própria população de que as lideranças políticas devem refletir a diversidade social. “Seria bom a gente ter uma representação que espelhasse mais a sociedade. As mulheres têm uma vivência diferente dos homens. Então, sua vivência numa sociedade, sobretudo, machista e patriarcal, vai dar um olhar para a mulher que nem sempre o homem vai ter”.
Assista à entrevista completa no canal do YouTube da TV Uninter.
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução/YouTube


