Por que os brasileiros estão comendo menos arroz e feijão?

Autor: Eliane Souza*

O consumo de arroz caiu 4,7% e o de feijão 4,2% no primeiro semestre de 2025, segundo levantamento da Scanntech. O dado ascende um alerta: o que está acontecendo? Esta mudança está relacionada ao menor tamanho das famílias, com menos filhos hoje em dia, ou há outros motivos impulsionando esta tendência?

A vida é cada vez mais corrida, e a rotina mais intensa, deixando cada vez menos tempo para cozinhar. Uma solução tem sido os alimentos práticos e rápidos. Em vez de passar pelo processo de fazer arroz e feijão, mais pessoas estão recorrendo a alimentos processados e refeições rápidas. Faz todo sentido para a mente moderna, programada para conveniência e rapidez. Pegue, por exemplo, as refeições pré-embaladas e congeladas: esse alimento conveniente não é apenas menos nutritivo do que sua contraparte caseira, mas também substitui pratos tradicionais.

A crescente preocupação com a saúde também desempenha um papel importante nesse contexto. Dietas como a low carb, por exemplo, se tornaram populares e incentivam a redução da ingestão de carboidratos, como o arroz e o feijão. Ao mesmo tempo, pessoas com maior poder financeiro buscam por alternativas alimentares consideradas mais “modernas”, como utilizar alimentos diferenciados, como quinoa, grão-de-bico e até produtos de maior valor agregado, afastando-se dos alimentos tradicionais.

No aspecto econômico, a troca do feijão e arroz por outros alimentos também é um contrassenso. O arroz e feijão continuam sendo uma das combinações mais baratas e nutritivas disponíveis, com excelente rendimento para as famílias. Poucos alimentos entregam tanto por tão pouco. Apesar da queda no consumo de arroz e feijão, eles ainda têm um papel cultural e nutricional importante no Brasil. São fontes de proteína vegetal e carboidratos essenciais, especialmente em uma dieta equilibrada.

O que essa queda diz sobre o futuro do nosso sistema alimentar? Que estamos numa encruzilhada. Se continuarmos terceirizando o fogão para a indústria, a tendência é um cardápio cada vez mais individual, embalado e prático, porém pobre em nutrientes e rico em aditivos.

Não precisamos viver no fogão, nem virar chef. Precisamos de atalhos inteligentes que mantenham o que importa. Arroz e feijão são o raro encontro entre saúde, tradição e custo-benefício. Se a vida ficou corrida, tudo bem, só não deixe a pressa decidir o seu prato. Cozinhe um pouco hoje, congele para amanhã e devolva ao seu dia a energia que vem do básico bem-feito.

Dado esse cenário, a inovação no setor de alimentos será essencial para que os alimentos tradicionais continuem presentes na mesa brasileira. A queda no consumo de arroz e feijão também abre portas para a reinvenção desses grãos. O futuro da alimentação no Brasil será marcado por uma combinação de inovação, praticidade, saúde e sustentabilidade, sem perder o vínculo com as tradições alimentares que fazem parte da nossa cultura.

 

*Eliane Souza é graduada em Nutrição, especialista em qualidade na produção de alimentos, mestre em Nutrição Humana e professora do curso de Nutrição da Uninter.

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Autor: Eliane Souza*
Créditos do Fotógrafo: Pexels/Zig Fotografia e Banco Uninter


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