Psicoterapia afirmativa combate estigmas e promove acolhimento

Autor: Madson Lopes - estagiário de jornalismo

Cuidar da saúde física e mental é garantir que cada pessoa seja ouvida em sua singularidade. Em um país como o Brasil, que enfrenta altos índices de violência contra pessoas LGBTQIAPN+, é fundamental que os serviços de saúde ofereçam atendimento acolhedor e de respeito à pluralidade. Nesse contexto, a psicoterapia afirmativa desempenha um papel crucial. 

Trata-se de uma abordagem que abraça as diversas identidades de gênero e foca no bem-estar e promoção de ambientes seguros, reconhecendo a LGBTfobia e o preconceito como as principais causas de sofrimento desta população.  

Esse foi o tema do programa Pajubá, da TV Uninter, exibido em 15 de agosto, que recebeu a psicóloga Índigo Camarão Grott para discutir como a psicoterapia afirmativa tem ganhado espaço nos últimos anos. Segundo ela, esses avanços foram possíveis graças à criação de clínicas especializadas, à formação de profissionais com conhecimentos específicos e ao fortalecimento de grupos de pesquisa nos espaços acadêmicos. 

Para Índigo, a importância da psicoterapia afirmativa está em reconhecer os efeitos dos estigmas sobre cada grupo que compõem a sigla LGBTQIAPN+. Na prática, isso significa considerar que pessoas lésbicas, gays, bissexuais, não-binárias, transexuais e outras identidades possuem experiências e desafios próprios que devem ser respeitados durante os atendimentos. “Quais são as particularidades da saúde mental de pessoas trans?”, provoca a psicóloga. “A gente tem que ter um preparo adequado e voltado a diferentes grupos.” 

Como exemplo, ela cita o trabalho desenvolvido pelo Grupo Dignidade, organização que oferece serviços gratuitos de apoio e atendimento psicológico à população LGBTQIAPN+. “Quando a gente vai ao Grupo Dignidade, tem um arco-íris pintado em todas as paredes. E isso é um símbolo, né? Você chega num lugar e pensa: ‘que bom! Eu não preciso me esconder, talvez aqui eu seja recebido com a minha cultura’”, afirma. 

Embora reconheça os avanços, Índigo lembra que o caminho ainda é longo. Um dos obstáculos é que a psicologia brasileira, assim como outras áreas da saúde, se construiu a partir de teorias eurocêntricas, voltadas para corpos cisgênero e brancos. As abordagens mais conhecidas — psicanálise, análise do comportamento, TCC — foram moldadas em contextos europeus ou norte-americanos. […] Elas dizem que é importante considerar a cultura, mas, quando você abre um livro clássico, isso ocupa uma linha ou, se tiver sorte, um parágrafo”, explica. 

Um reflexo da falta de representatividade é a escassez de materiais específicos sobre saúde mental da população LGBTQIAPN+. “Quando falamos de livros que abordam a saúde mental de pessoas trans, de diferentes etnias ou sexualidades, estamos falando de publicações recentes, de 2020 para cá”, lamenta. 

Nos últimos anos, iniciativas acadêmicas vêm mudando esse cenário. Índigo destaca as ligas acadêmicas voltadas à diversidade, que criam espaços para estudantes interessados em acolher grupos minorizados. “Quando eu comecei a pesquisar, oito anos atrás, era muito mais difícil. Hoje temos movimentos nas universidades que já olham para essa pauta”, celebra. 

Para ela, o desafio é seguir formando profissionais conscientes das particularidades de cada grupo e comprometidos com práticas inclusivas. “Não existe ninguém que saiba mais sobre a identidade da pessoa do que ela mesma. O nosso papel, como psicoterapeutas, é ouvir, acolher e oferecer um espaço seguro”, conclui. 

Assista à entrevista no canal da TV Uninter no YouTube. 

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Autor: Madson Lopes - estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Youtube


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