Seis em cada dez crianças já passam tempo excessivo em frente às telas no Brasil

Autor: Cláudio Aurélio Hernandes*

Seis em cada dez crianças brasileiras de até 6 anos passam mais tempo diante de telas do que recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria — no máximo 1 hora por dia para crianças de 2 a 5 anos e nenhum tempo para bebês. Na prática, a média chega a duas ou três horas diárias, mesmo entre os muito pequenos: 78% das crianças de até 3 anos têm contato diário com telas.

O quadro é semelhante entre crianças mais velhas e adolescentes: dados da TIC Kids Online Brasil 2023 mostram que 95% dos jovens entre 9 e 17 anos usam internet, com acesso cada vez mais precoce e quase sempre via celular — muitas vezes sem a devida supervisão. O neurocientista francês Michel Desmurget, no livro A Fábrica de Cretinos Digitais, é categórico: “A avalanche digital que atinge nossas crianças não é neutra. Afeta seu cérebro, seu corpo, sua saúde mental e sua cultura. Pela primeira vez na história, uma geração corre o risco de ter um QI inferior ao de seus pais”.

Consequências já observadas incluem ansiedade, distúrbios do sono, queda na atenção, irritabilidade e até comportamentos agressivos — especialmente quando o consumo é passivo ou sem acompanhamento. Na escola, notificações constantes, vídeos automáticos e feeds infinitos competem com o foco necessário para aprender. Para as crianças que vão além do consumo passivo de mídia, a lista de riscos está também a exposição ao assédio, bullying e interações com desconhecidos.

Mas a tecnologia não precisa ser vilã. O uso bem orientado e seletivo pode oferecer ganhos: 46% dos jovens entre 15 e 17 anos encontraram apoio online para lidar com problemas de saúde física ou emocional. Conteúdos educativos de qualidade — sobre ciência, cultura, esportes ou bem-estar — podem ampliar vocabulário, conhecimento digital e curiosidade intelectual.

Confira três pilares para um uso saudável:

  1. Sono protegido – nada de telas no quarto e desconexão total pelo menos 1 hora antes de dormir;
  2. Movimento diário – trocar parte do tempo online por atividades físicas e brincadeiras ao ar livre;
  3. Socialização presencial – priorizar refeições, jogos e conversas sem distração digital.

Além disso, a co-mediação ativa — assistir, jogar e conversar junto com a criança sobre o conteúdo — potencializa o aprendizado e reduz riscos. Rituais sem tela (refeições, trajetos, “hora do tédio criativo”) e higiene digital (sem autoplay, com controle parental e curadoria de conteúdo) completam a estratégia.

Se nada mudar, corremos o risco continuar formando uma geração mais ansiosa, com menor capacidade de concentração e fragilidades emocionais. Com regras claras e letramento digital, a tecnologia pode deixar de ser ameaça e se tornar aliada — ajudando a formar jovens criativos, críticos e bem-preparados para o mundo conectado em que vivem.

*Cláudio Aurélio Hernandes é doutor em Administração, professor e coordenador do Curso de Bacharelado em Psicanálise da Uninter.

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Autor: Cláudio Aurélio Hernandes*
Créditos do Fotógrafo: Pexels/cottonbro studio


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