Fato e Impacto: Tarifaço revela transição de ordem internacional

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, anunciou em uma carta destinada ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o país norte-americano. A decisão, divulgada na rede Truth Social, no dia 9 de julho, deve começar a valer a partir do dia 1º de agosto de 2025, caso não aconteçam alterações.  

A justificativa se dá em torno de que “essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não-tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, causando esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos”, afirma Trump em carta aberta. A medida se assemelha ao que ele fez com outros países, com porcentagens distintas.

O doutor em Relações Internacionais e coordenador do curso de Relações Internacionais da Uninter, Guilherme Frizzera Loyola, pontua alguns mecanismos que podem ser estudados e utilizados pelo governo brasileiro, em especial no que tange a diplomacia. 

Para além da taxação aplicada, o presidente norte-americano ainda deixa um aviso: “Se por algum motivo você decidir aumentar suas tarifas, então, qualquer que seja o número que você escolher para aumentá-las, será adicionado aos 50% que cobramos”. E embora alguns especialistas acreditem que o impacto negativo na economia brasileira tende a ser pequeno, o estoque de mercadoria que deveria ser enviada para os EUA começa a dar sinais. 

Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima uma queda de até 75% das exportações, assim como a retração de até 0,41% no Produto Interno Bruto (PIB). Nesse cenário, a carne, o café e o suco de laranja seriam os principais afetados, pois já passam por uma tarifa mais alta. No entanto, após o cancelamento de clientes norte-americanos no dia 11 de julho, 95 toneladas de mel também ficaram encalhadas em porto do Ceará.  

O doutor em Relações Internacionais analisa que essa rusga entre os dois países pode ampliar para outras esferas, visto que na carta enviada ao governo brasileiro, Trump menciona outras pautas para justificar a taxação, como a economia e o meio ambiente. O PIX e a pirataria são alguns dos motivos pelos quais o presidente norte-americano abre uma investigação sobre o Brasil. 

Em meio a essa situação, alguns reflexos já começam a aparecer também para os cidadãos estadunidenses ou imigrantes que residem no país. Com a soma de outras barreiras tarifárias à alta da inflação, os EUA se tornam um lugar cada vez mais caro para se viver. Essa é a primeira das implicações que Frizzera cita ao falar sobre os riscos de uma escalada nas medidas protecionistas para a economia e diplomacia global. 

Frizzera observa uma transição de ordem internacional, de onde vêm esses primeiros impactos. Para o profissional, nessas primeiras décadas do século 21, é possível verificar que o mundo baseado em sistemas de normas, regras, multilateralismo, cooperação e organizações internacionais acaba aos poucos. A previsibilidade e estabilidade que essa ordem proporciona tem passado por uma rápida mudança. Os EUA, país que deu início à construção desse sistema após a 2ª Guerra Mundial, é também o precursor do fim.

Dessa forma, o docente vê dois lados. Um no qual a diplomacia de um dos polos de poder busca o isolacionismo, no caso dos EUA, em uma cadeia de decisões unilaterais, e outro no qual o mundo tende a se contrapor, buscando alterativas a esse protecionismo. Assim, é possível que os países mais afetados pela taxação busquem alternativas, muitas delas passando pelo outro polo, a China, que pode se tornar o maior parceiro comercial do mundo contemporâneo. 

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Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen e Gabrielle Piontek


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