Qual o impacto da pandemia sobre o seu emprego ou negócio?

Autor: Fillipe Borba - Estagiário de Jornalismo

O termo resiliência, dicionarizado como a “capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”, chegou para ficar no mundo corporativo por causa da pandemia de Covid-19. O impacto da pandemia sobre o empego ou negócios foi o tema de uma palestra online que reuniu especialistas e profissionais de mercado no Brasil e em Portugal. Você pode conferir a íntegra do debate clicando aqui.

Conduzido pelo coordenador do curso de Processos Gerenciais da Uninter, Cláudio Hernandes, o debate contou com a participação de dois diretores da Uninter, Elton Schneider (Escola de Gestão, Comunicação e Negócios) e Dinamara Machado (Escola de Educação), além da coordenadora do curso de Administração, Vanessa Rolon, e da professora da PUC-RS Sueli Schmitt, que tem mais de 20 anos na formação de equipes de varejo. Também participou Henrique Castelo Branco, doutorando pela Universidade de Lisboa (Portugal).

Segundo Elton, o encontro online foi uma resposta às pessoas que pediram por um espaço que reunisse profissionais do mercado e da academia para falar de gerenciamento de crise. “As pessoas acham que tem uma bula, uma receita pronta, como se fosse fazer um bolo, para gerenciar as crises. O fato é que uma crise de saúde que afetou a sociedade como um todo aconteceu pela última vez há pouco mais de 100 anos”.

Elton pontua que a crise não impactará a todos do mesmo jeito. Quem conseguir transformar o momento atual em oportunidade, vai sair na frente. Para isso, é preciso pensamento estratégico e planejamento de cenário, uma habilidade que as vezes é negligenciada por parte dos gestores nas empresas. Para Dinamara, é preciso observar a crise sem hipocrisia, pois não há como fugir do cenário atual. Essa observação mais analítica permitirá observar os novos caminhos.

“Nós, no ensino superior, já estávamos caminhando com o EAD, sabendo como trabalhar e mesmo assim tivemos que nos reorganizar. A estrutura de estúdio ficou para trás. De repente, a gente precisou de criatividade. Antes de começar aqui, estava conferindo a iluminação, o áudio do meu microfone, coisas que antes eu não fazia. Para você, o momento atual é de crise ou de criatividade?”, questiona Dinamara.

Elton comentou que melhor que saber aproveitar as oportunidades é saber criá-las. Para o gerenciamento de crise é preciso atuar rapidamente, não se esconder das críticas e estar aberto ao erro, evitar conflitos, envolver o cliente final das empresas nas soluções, oferecer respostas personalizadas e dialogar.

Lidando com a crise

O diálogo foi parte importante da resposta que Portugal deu à crise causada pelo novo coronavírus. Diretamente da terrinha, o professor Henrique explicou como as autoridades lusitanas lidaram com a pandemia. “Portugal sofreu bastante. Entrou mais cedo nessa crise que o Brasil. Houve uma grande obediência às medidas de isolamento. Houve uma integração política. As diferentes frentes não abriram mão de suas visões, mas foram à luta juntos para encontrar a saída”.

A liderança é essencial para o bom andamento de medidas contra a crise instaurada. Suely Schmitt trouxe um olhar sobre a liderança resiliente. “O que mais me surpreendeu nos líderes com os quais tive contato foi a capacidade de adaptação, de bom uso dos recursos de tecnologia que já estavam lá. Nós temos internet, computador, Skype, conhecimento de informática suficiente no nível operacional para lidar com as situações de rotina. Só que esse aparato tecnológico estava subaproveitado. As pessoas tiveram que abandonar as estruturas físicas e continuar as rotinas de trabalho dentro de suas casas”, explica.

Suely contou que o chamado novo normal exige que os profissionais sejam produtivos em novas rotinas, que agora incluem a presença dos filhos e a convivência familiar ostensiva. Elton abordou que o momento pede reação dos profissionais. “Qual a grande característica do empreendedor? Resiliência. Quem quer ter o seu negócio não pode desistir na primeira queda. É preciso reagir o tempo todo buscando novas alternativas para fazer ele dar certo. Começa por aí”.

Vanessa Rolon explicou como se deu o começo do novo normal para os profissionais que fazem home office. “Quando nós viemos para o trabalho remoto, tudo era novo. Havia uma angústia e uma necessidade de fazer as coisas. Em um momento como esse a gente vivenciou a colaboração. Os professores criaram uma sala de compartilhamento de melhores práticas. Acredito que todos nós vamos aprender de uma maneira ou de outra. Saímos da situação de conforto e agora temos que nos virar”, disse.

Segundo Vanessa, as empresas que já olharam para o risk management saíram na frente e ficaram em uma situação melhor nesse novo cenário. O professor Henrique citou as empresas startups como exemplo de organizações que melhor lidaram com a pandemia. “A crise para elas foi um pequeno rearranjo interno. Elas com muita rapidez se colocaram de maneira melhor e mais coerente com o contexto”. O professor acredita que essa facilidade ocorreu por esse tipo de empresa já estar completamente inserida no contexto digital.

O novo líder

Adaptabilidade, resiliência e confiança são habilidades que os profissionais precisam ter. “Resiliência tem a ver com lidar com os problemas e resistir as adversidades. Essas características fazem com que ela aconteça. A questão da atenção é importante, se o líder quer trabalhar bem ele tem que conhecer o que se passa com a sua equipe”, pontuou Henrique.

Suely Schmitt mostrou que as empresas e seus líderes devem olhar para as pessoas em primeiro lugar. “O que eu tenho mais ouvido dos líderes é que eles nunca estiveram tão próximos da equipe, conhecendo mais a vida pessoal dos pares. Pessoas que você lidava todo santo dia e não conhecia tão bem. Isso é lindo. Eu tenho a convicção que nenhum de nós será o mesmo depois dessa fase”.

Vanessa reforça a necessidade de valorização do colaborador. “São seres humanos, qual o impacto emocional, de estresse, de ansiedade em pessoas que querem fazer o melhor nesse novo cenário? Isso deve ser levado em conta”. E reflete que não adianta mais estar preso aos modelos clássicos.

“Aqui, na Uninter, já superamos isso. Esses modelos tradicionais tendem a mudar. A Holanda já está pensando em outro modelo econômico, com decrescimento. Como poderemos ter outro tipo de desenvolvimento? A gente não sabe como se dará o desfecho de tudo isso. Vamos ter que repensar o modelo econômico, educacional e político vigente”, salientou Vanessa.

É o fim do crescimento econômico?

Cláudio Hernandes estudou o decrescimento como forma de desenvolvimento econômico e fez considerações. “O decrescimento já é um tema antigo na Europa. A gente está vendo que isso está ocorrendo conosco por uma falta de opção. Crescer é bom, mas crescer ilimitadamente é um problema. Até no aspecto social. Independente do modelo econômico que vai se seguir tem um detalhe que vai se manter: as pessoas. Estamos afastados fisicamente, mas muito mais próximos virtualmente”, destacou.

O bate-papo, que durou pouco mais de uma hora, abordou o contexto de varejo digital, que é crescente no mundo todo. Elton ainda propôs uma reflexão sobre crescimento pessoal: “Em qual dessas três zonas você está na crise do Covid-19? A zona do medo, a zona de aprendizado ou a zona de crescimento?”

Independentemente dos desdobramentos da crise, uma coisa é clara nas palavras de Dinamara: “Temos que construir uma sociedade de igualdade e equidade”. E esse é um trabalho que exige muita resiliência, mas vale a pena.

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Autor: Fillipe Borba - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Reprodução YouTube


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