Concurso Cultural - Egresso

Estudar de casa, uma facilidade que mudou minha vida

Autor: Carlos Marques Fernandes - egresso de Administração e Gestão do Conhecimento (Recife - PE)

Na obra-prima “Morte e Vida Severina”, João Cabral de Melo Neto leva o leitor a acompanhar a difícil trajetória de Severino – personagem principal – que sai do sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. O poema tem início com a apresentação do retirante e a sua primeira dificuldade, que ele assim explica: “Como há muitos Severinos […] como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias?” Embora nem de longe a minha história se assemelhe à do personagem, também tenho uma trajetória de vida e aqui estou para contá-la.

O ano é 2012. Tenho 46 anos, dois filhos, estou separado e moro com a mãe em Recife, quente capital de Pernambuco. Colho os frutos de todas as decisões que tomei até aqui, as acertadas e as nem tanto assim. Ao longo da vida, iniciei vários cursos superiores e, por falta de interesse, de dinheiro ou de qualquer outra coisa que pudesse evitar o abandono, até então não havia concluído nenhum. Mas, finalmente, depois de muita luta, concluí a Licenciatura em Ciência da Computação pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Mas vamos retroagir alguns anos mais na linha do tempo. Desde 1999, quando fiquei quatro meses desempregado – algo que me afetou muito –, prometi a mim mesmo nunca mais passar por aquela situação. A partir de então sempre tive dois empregos fixos e fazia várias prestações de serviço. Sou autodidata em assuntos de tecnologia da informação, com bons conhecimentos de programação, redes e conserto de computadores, o que me garantia um serviço extra aqui ou ali. Além disso, sempre que possível trabalhava como instrutor de cursos livres nas disciplinas que dominava, como redes de computadores, programação e outros.

Voltando a 2012, foi um ano especial para mim. Além de me formar, depois de várias tentativas e muito estudo, passei em um concurso público, consegui a vaga de técnico de computadores da Universidade Federal de Pernambuco, uma grande vitória. Antes disso, trabalhava como analista de suporte sênior em uma empresa desenvolvedora de softwares e dava aulas nos cursos técnicos de informática do SENAC.

Ao longo da vida, construí várias amizades com pessoas ligadas à educação. E esses contatos me renderam boas oportunidades. Uma delas foi o convite para lecionar na pós-graduação de uma escola bem qualificada em Recife: ensinar sobre um assunto do qual eu tinha muito conhecimento,  redes de computadores construídas com produtos da Microsoft. Trabalhei mais de 20 anos administrando e montando redes, frequentemente com produtos Microsoft. A oportunidade era excelente e o valor da hora aula era o dobro do que eu recebia no SENAC. Entretanto, havia um problema: eu não tinha pós-graduação. O colega que me indicara disse: “sem uma pós-graduação, nada feito”. O que fazer, então?

Lembrei que em 2006, quando entrei na graduação, uma professora de engenharia de software apresentou aos alunos plataformas de software para ensino a distância. Isso foi algo impressionante para mim, um novo mundo de cursos em que os alunos pudessem assistir às aulas pela internet, onde quer que estivessem. Se eu tivesse acesso a um recurso desses antes, já teria me formado há mais tempo, pois durante minha turbulenta vida acadêmica, uma das coisas que me atrapalhava era o fato de ter que ir assistir às aulas presencialmente, o que implicava em um deslocamento – com todo o custo envolvido nisso – e, o que era um agravante, eliminava a oportunidade de ter alguma atividade remunerada naquele horário.

Independentemente da oportunidade que perdi de dar aulas na escola de cursos superiores, tinha me decidido a fazer um curso de pós-graduação. Comecei a procurar alguma escola que oferecesse, na modalidade de ensino a distância, um curso relacionado à minha área, reconhecido pelo MEC e cujo valor eu pudesse pagar. Pesquisei muito, até que encontrei a Uninter em Recife, polo Boa Vista.

O atendimento foi muito bom e me entregaram folders e panfletos explicativos. Levei para casa e passei alguns dias pesquisando e pensando no assunto, até que me decidi pelo curso de MBA em Administração e Gestão do Conhecimento. Essa pós-graduação tinha duas vantagens para mim: era um MBA – entre as pós-graduações lato sensu, o MBA agrega mais valor ao título; e era na área de administração e gestão, o que facilitaria uma eventual transferência de área no trabalho, visto que é comum, no ramo de tecnologia da informação, um técnico ir para a área de gestão com o avançar da idade. Além disso, era administração e gestão do conhecimento, ou seja, relacionado com ensino, principalmente com o ensino corporativo, área em que tenho um grande interesse.

Entretanto, não foi fácil fazer essa pós-graduação. Eu tinha o trabalho, as aulas que eu dava como instrutor e agora as aulas que tinha que assistir pelo computador no ambiente virtual de aprendizado (AVA) da Uninter. Como o AVA é um ambiente muito leve e agradável, sendo possível acompanhar às aulas no computador ou no celular, não tinha desculpas para não assistir às aulas.

A rotina era simples, a cada dois meses fazia as provas e iniciava uma nova unidade (confesso que tive que fazer recuperação de algumas disciplinas). Ao final do curso, consegui o diploma e me habilitei para lecionar como professor de pós-graduação, graças ao curso a distância.

Os anos se passaram e a luta continuou. Em 2014 tentei o mestrado na UFRPE, universidade onde me graduei, mas não fui selecionado. Em 2015 tentei novamente, e dessa vez consegui. Dois anos e meio de muito estudo, dedicação e alguns “aperreios”, como se diz aqui no Nordeste. Em 2017 defendi a minha dissertação e fui aprovado. A meta agora era tentar concurso para professor de uma escola ou universidade federal. Nesse período, houve um concurso para a UFRPE – seria um sonho passar na escola onde me formei –, fiz minha inscrição, estudei, fiz as provas, mas não deu.

Mais um concurso aberto, desta vez para o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). Era a minha segunda tentativa, e dessa vez eu consegui! A ansiedade foi grande enquanto aguardava ser chamado. Em 2018, fui convocado para assumir a vaga em uma cidade a 370km de Recife, Afogados da Ingazeira. E lá vamos nós, em busca de realizar o sonho: burocracia de dezenas de documentos para entregar, exames de saúde e, finalmente, a posse no cargo de professor do IFPE. Foi assim que, em agosto de 2018, tornei-me oficialmente professor de uma escola federal. Apesar da viagem, duas vezes por semana, de 370km indo e voltando, o prazer de estar fazendo algo para o qual estudei uma vida toda não tem preço.

Como forma de diminuir a distância, me mudei para outra cidade, em Pernambuco mesmo, chamada Caruaru. Essa mudança significou uma redução de 120km de trajeto e uma melhor organização da vida doméstica, pois minha esposa (me casei novamente em 2013) já trabalhava em Caruaru, também como professora, e a adaptação à nova cidade não foi difícil.

O tempo passou e as instabilidades políticas e econômicas do nosso país foram se intensificando. Preocupado com o meu afastamento da iniciativa privada, pois meu concurso exige dedicação exclusiva, pesquisei e percebi que, na minha área, o marketing digital estava em alta, então procurei novamente a Uninter e descobri, satisfeito, que havia um polo em Caruaru. Não tive dúvidas, corri e fiz minha inscrição na pós-graduação em Marketing Digital.

Hoje, tenho um mestrado e duas pós-graduações, ambas na Uninter, e tenho colocado em prática tudo o que aprendi nesses dois cursos nas aulas que ministro. Minha esposa sempre diz “O tempo vai passar do mesmo jeito, quer você faça ou não”. Então por que não fazer algo de bom e útil para você? Para mim, a melhor coisa a ser feita é estudar e, se possível, fazer isso em sua própria casa.

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Autor: Carlos Marques Fernandes - egresso de Administração e Gestão do Conhecimento (Recife - PE)
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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