Apostas online e o risco real de dependência

Autor: Viviane Oliveira de Melo (*)

Os jogos de azar são proibidos no Brasil desde 1946, mediante o decreto 9.215. Contudo, em 2018 foi sancionado o decreto 13.756, que criou a modalidade de apostas e estabeleceu a base legal para os sites de apostas. Para funcionarem no Brasil, esses sites devem possuir sistema de cota fixa operando (similarmente às loterias, na previsão de resultados, o que garante diversas apostas). Nos esportes, as apostas vão desde qual time irá vencer uma partida e de quanto até de qual jogador irá fazer o gol.

Assim como os demais jogos, é possível que uma pessoa se torne viciada nesses sistemas de apostas. Assim como uma dependência em substância química, o apostador pode sofrer diversos prejuízos para a saúde física, mental e emocional do dependente, conforme descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V. O indício também consta em pesquisas, como a publicada na revista The Neuroscientist (2016) pelos pesquisadores da universidade canadense de British Columbia W. Spencer Murch e Luke Clark.

Como os jogos ocorrem via internet, por celular ou computador, sem requerer deslocamento físico da pessoa, os sintomas do vício podem passar desapercebidos. Entre os sinais de que uma pessoa perdeu o controle, estão: jogar cada vez mais; jogos em frequência escalonada; utilizar o jogo como uma justificativa para o estresse; jogar para ficar mais calmo e para afastar pensamentos irritantes e frustrantes; ficar ansioso, passando maior parte do dia acompanhando os resultados dos jogos; deixar de realizar atividades com a família e amigos; manter-se socialmente isolado.

Da mesma forma como as demais dependências, o circuito de recompensa cerebral é ativado, atuando sobre os níveis de dopamina. Com isso, o jogador sente prazer, e o estímulo é para que esta sensação se perpetue, fazendo com que as apostas sejam realizadas repetidamente. Porém, a cada jogo, a cada liberação de dopamina para produção dos mesmos efeitos, ao longo do tempo, ocorre o processo de embotamento cerebral. Isto é, os níveis de produção de dopamina atingem um máximo, e a pessoa não sente mais a mesma sensação prazerosa de antes, fazendo com que busque formas de atingir o mesmo prazer, correndo riscos cada vez maiores. Neste estado, a pessoa está viciada e precisa de tratamento, porque a falta do jogo pode, inclusive neste estágio, desencadear sintomas de abstinência, requerendo ajuda de um profissional da saúde mental.

Dentre as terapias que demonstram bons resultados está a Terapia Cognitivo-Comportamental. Como a dependência pode demorar a se mostrar, as pessoas precisam estar atentas e não menosprezar os prejuízos sofridos. É muito importante procurar auxílio assim que perceber que não apostar lhe causa ansiedade e sofrimento.

* Especialista em Neuroaprendizagem, Piscomotricidade, Biotecnologia e tutora dos cursos de Pós-Graduação da Uninter na área de Neurociência.

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Autor: Viviane Oliveira de Melo (*)
Créditos do Fotógrafo: Hirurg/Getty Images


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