Ainda somos os mesmos? Do mimetismo à metamorfose na educação

Autor: Dinamara Machado, Gisele Cordeiro e Waldirene Bellardo*

Em 1976, Belchior deu vida a versos – posteriormente imortalizados na voz de Elis Regina – que nos provocam a refletir sobre o “velho”, o “novo” e a indissociabilidade entre ambos.

Você pode até dizer que eu tô por fora

Ou então que eu tô inventando

Mas é você que ama o passado e que não vê

É você que ama o passado e que não vê

Que o novo sempre vem

Como aludem as palavras do cantor, o devir como potencialidade e possibilidade concreta é um fenômeno permanente, mas não natural, eis porque, inexoravelmente, forças irão se opor a ele. De resto, no deslinde do litígio entre o “velho” e o “novo”, teremos, no mínimo, três prospecções de presente: a eliminação prematura do “novo”; a permanência do “velho” com aparência de “novo” – sob o efeito de uma espécie de “mimetismo”; ou, ainda, o surgimento genuíno do “novo”, fruto de uma metamorfose necessária, urgente, mas raramente consensual.

Na educação, repisa-se com frequência que um de seus princípios basilares refere-se à certeza de que “mudar é possível”. Dito de outra forma, compreende-se que a ação pedagógica é sempre transformadora e que a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, criando e ampliando as capacidades humanas. Mas a mudança provocada pelo ato educativo não é obra do acaso tampouco transcorre naturalmente, é preciso agir intencionalmente para fazer brotar o “novo”.

Portanto, a luta entre o “novo” e o “velho” não se ancora no campo da mudança per si, mas aloja-se na direção, no horizonte, nos rumos, no caminho que está sendo gestado e, inevitavelmente, nas alterações que o caminho novo impõe ao “jeito” de caminhar.

Há séculos, as sociedades descobriram o papel indelével das escolas na formação das novas gerações. No mesmo interregno, pululam exemplos que ilustram a importância de um bom professor, de uma boa professora, na vida de crianças, jovens, adultos e idosos. Em apertada síntese, um bom professor é aquele profissional que, em seu fazer cotidiano, não dissocia corpo e mente, conhecimento e emoção, saber e sentir, conhecer e agir, cultura e experiências pessoais. E, por conseguinte, consegue, com a maestria que lhe é singular, mobilizar forças e capacidades até então desconhecidas pelos seus alunos.

Mas, por diferentes razões – que fogem ao escopo desse artigo –, o modelo de escola democratizada a partir do advento da Revolução Industrial não consegue mais, hodiernamente, cumprir com seu papel institucional. Depreende-se de tal fato, ao lado da necessária proteção e valorização, a urgência em asseverar o indispensável processo de transformação da escola.

O século XXI, especialmente pós-pandemia, expõe a magnitude das mudanças almejadas, trata-se de alterações profundas no jeito de conceber a natureza e a especificidade da educação, no seu modo de organização e funcionamento em detrimento a modificações superficiais. Ao longo da história da educação brasileira, vivemos um “mimetismo pedagógico” com mudanças pontuais (ora de método, ora de recursos, ora de programas, ora unicamente de nomenclatura, teóricos ou infraestrutura predial) que não lograram alterar o “modus operandi” das escolas.

Por fim, sem perder a esperança que nos move e acreditando no devir da borboleta, a despeito da beleza dos versos de Belchior, desejamos que a educação encontre, em breve, um desfecho diferente:

Nós ainda somos os mesmos e vivemos

Ainda somos os mesmos e vivemos

Ainda somos os mesmos e vivemos

Como os nossos pais.

 

* Dinamara Pereira Machado é licenciada em Letras Português-Inglês, Pedagogia, Geografia e História, mestre, doutora e pós-doutora em Educação. Diretora da Escola Superior de Educação da Uninter.

* Gisele do Rocio Cordeiro é licenciada em Pedagogia, Educação Artística e Filosofia, mestre e doutora em Educação. Coordenadora da área de Educação da Uninter.

* Waldirene Sawozuk Bellardo é graduada em Pedagogia, mestre em Educação e doutora em Políticas Educacionais. Pedagoga da Rede Municipal de Ensino de Curitiba e professora da área de Educação da Uninter.

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Autor: Dinamara Machado, Gisele Cordeiro e Waldirene Bellardo*


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