A queda de Vander, o impulso e o salto para o mundo da robótica

Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo

Reinventar-se profissionalmente e ingressar na faculdade vinte anos após a conclusão do ensino médio é desafiador. Mas, também pode reservar um futuro de realizações profissionais. É o que mostra a história de Vander da Silva Gonçalves, morador de Paranavaí (PR).

Em fevereiro de 2018, aos 37 anos, ele interrompeu um curso técnico em eletrônica para seguir seu sonho de ingressar no ensino superior e iniciou o curso de Engenharia Elétrica da Uninter, na modalidade de educação a distância.

Casado com Andreia Silva Avanci, 32 anos, e pai de Pedro Otto Avanci Gonçalves, 14, Vander valoriza todas as circunstâncias que contribuíram para a transformação da sua vida, que ocorreu por meio da dedicação e do amor pela sua graduação.

O estudante afirma que levou muitos tombos, literalmente, para tomar a decisão de aprimorar sua qualificação e ter uma melhor condição de vida. “Durante muitos anos tive uma microempresa, por meio da qual prestava serviços de instalação para companhias de telecomunicação. Era bem remunerado, mas não me realizava”, explica.

Parece contraditório, mas foram quedas sofridas em acidentes de trabalho que o impulsionaram para a profissão que segue hoje. “Sofri dois acidentes com queda de altura, o primeiro em outubro de 2017 e outro cerca de um mês depois. Encarei as situações como um sinal. Eu tinha que sair daquela vida. Assim, criei coragem para ingressar na faculdade, pois era meu sonho de infância”, conta o futuro engenheiro.

Engenharia Elétrica toma a frente

Já no seu primeiro ano de graduação, ele teve a ideia de aliar os conhecimentos da engenharia à sua outra ocupação como músico no Centro de Atendimento à Criança e ao Adolescente de Paranavaí (Cecap), organização que atende crianças e adolescentes com serviços de proteção social básica, convivência e fortalecimento de vínculos.

Mesmo sem a estrutura de um laboratório, o universitário começou a dar aulas para cerca de 200 crianças. Utilizando materiais recicláveis, passou a aplicar os conceitos básicos de eletrônica à robótica e ensinar programação para as crianças. Um dos seus projetos de destaque foi a construção de uma maquete automatizada, com 78 pontos de programação, que podia ser operada por até seis crianças simultaneamente. O trabalho chamou atenção da comunidade de Paranavaí e trouxe reconhecimento ao trabalho de Vander.

Um ano após o início das aulas de robótica, foi montado uma estrutura laboratorial para dar sequência ao trabalho e preparar a criançada para a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Infelizmente, a chegada da pandemia trouxe novos desafios e adiou os planos de participação na olimpíada.

A baixa adesão às aulas on-line, devido à dificuldade de acesso a dispositivos com internet pelo público do projeto, levou Vander a buscar novas formas de disseminar dos conceitos de robótica durante o período de isolamento social.

Nem sempre um mar de rosas

Nesse meio tempo, apesar da satisfação profissional, Vander cogitou trancar a graduação e interromper os estudos, devido às dificuldades financeiras e ao orçamento familiar apertado. Foi quando se dirigiu ao polo de apoio presencial da Uninter e conversou com o gestor Daniel Lucio Ferrarese sobre essa possibilidade. Prontamente, Ferrarese reverteu a situação, incentivando e acolhendo o aluno.

“Eu sempre busco prestar um atendimento humanizado para todos os alunos que me procuram, pois o que as pessoas precisam é de alguém que as ouça. Com a chegada da pandemia, isso se tornou mais que necessário, valorizo muito isso. O que mais quero é ver qualquer aluno se formando, vejo o crescimento dele e onde ele quer chegar. Não poderia deixar de incentivá-lo a seguir adiante”, afirma Ferrarese.

Cocriando em tempos de pandemia

E foi com a divulgação dos seus projetos em um canal do YouTube, chamado Vander_lab, além da proposição de discussões sobre engenharia elétrica em suas redes sociais, que ele ganhou visibilidade.

O seu trabalho chegou longe. Ele foi notado por uma empresa nacional fabricante de kits para ensino de robótica educacional, a Modelix. Posteriormente, o mesmo aconteceu com o Instituto Newton C. Braga (INCB), referência no ensino de eletrônica, mecatrônica, elétrica e tecnologia no país.

No final de 2020, ele participou de uma live do INCB sobre robótica nas escolas, a convite do diretor de marketing e conteúdo do instituto, Renato Paiotti, e com o professor e fundador da entidade, Newton C. Braga, autor de mais de 150 livros técnicos traduzidos para vários idiomas, além de três mil artigos já publicados em diversas revistas técnicas.

“A minha saga é buscar talentos para colaborarem com as lives do INCB. O Vander interagia muito no chat das nossas transmissões pelo YouTube, o que me chamou atenção para acessar o canal dele também. A qualidade do material disponibilizado por ele é muito boa”, comenta Paiotti.

A parceria trouxe bons frutos. No ano seguinte, Paiotti o convidou para escrever um artigo para a revista Mecatrônica Jovem. Logo na primeira edição, lançada em 15 de setembro de 2021, ele abordou a produção Rover VL, protótipo de um robô projetado para andar sozinho com o apoio da Modelix.

Nas edições seguintes, o aluno da Uninter colaborou com mais dois artigos. Um deles, o Wacky Races – Corrida Maluca, aborda os protótipos de carros elétricos temáticos construídos remotamente com a utilização de materiais recicláveis. Já o Montando o Creeper VanderLIX apresenta o projeto de construção de um animatrônico (robô que reproduz o comportamento de algum ser vivo) recriando o Creeper, uma criatura fictícia do videogame Minecraft.

“Ao longo da amizade construída com Renato Paiotti, consegui demonstrar meus trabalhos e hoje faço parte do Instituto Newton C. Braga, no qual também realizo lives semanais, com montagem de projetos de robótica ao vivo. Estou muito realizado”, garante Vander.

Atualmente, Vander é professor de robótica para crianças em situações de vulnerabilidade, em duas entidades, tanto no Cecap, quando na Associação Agentes da Paz (Agepaz) ambas de Paranavaí. Faz parte do Clube Mecatrônica Jovem do INCB, um clube voltado aos amantes de ciência e tecnologia, com foco em mecatrônica e ainda integra o time de colunistas do periódico .

“Eu admiro muito o dinamismo e a didática do Vander. Engenharia de modo geral é muito difícil de ser ensinada, e ele consegue lecionar de forma clara, explicando tudo com cuidado. Os métodos aplicados por ele com os alunos de Paranavaí engaja-os às novas diretrizes do ensino médio. Eles chegarão melhor preparados, pois ele os instrui de forma correta”, diz Paiotti.

“Minha vida mudou desde que iniciei meus estudos na Uninter. Hoje, dou aulas para crianças carentes, de forma lúdica e divertida. Através dos conceitos da robótica, exercito nelas pensamento crítico e disciplina. Acredito que inovar faz parte do aprendizado, consigo ensinar matemática, analisando a queima de fogos de artifício, por exemplo. Como muitos vivem sob privações, além de serem criados às vezes sem pai, ou somente com a presença da avó, eu quero dar meu melhor a eles. Eu estou vivendo o meu sonho”, conclui o acadêmico.

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Autor: Sandy Lylia da Silva – Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri Konig
Revisão Textual: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


2 thoughts on “A queda de Vander, o impulso e o salto para o mundo da robótica

  1. Realmente um excelente trabalho, as crianças adoram!
    Mais admirável ainda, é ver a articulação que faz com as demais oficinas e com o trabalho realizado pelas educadoras sociais, atrelando em tudo isso os eixos e objetivos do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. É admirável de ver, admiro muito!

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