O jornal impresso pode até acabar, mas não hoje

 

Denise Becker – Estagiária de Jornalismo

Uma ameaça ronda o jornalismo impresso mundo afora desde meados da década de 1990. A internet e os avanços tecnológicos têm mudado a forma como as pessoas consomem informações. Juan Luis Cebrián, diretor do grupo Prisa/El País, prevê o fim dos jornais em papel em 15 anos. Já Phillip Meyer, estudioso do assunto, diz que o prazo para a extinção dos jornais impressos não chegará a 25 anos.

No Brasil, o leitor diário de jornal tem curso superior e renda superior a cinco salários mínimos. Representa 15% da população. Metade dos brasileiros usa a internet, mas só 10% para ler jornais digitais. A televisão e o rádio são os meios predominantes de comunicação, mas o impresso continua sendo o meio mais confiável, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (PBM).

Mesmo diante dos piores prognósticos, há quem os contradiga na prática. Jornalista brasileira que vive em Londres, Cristiane Lebelem compartilhou com estudantes de Jornalismo da Uninter na terça-feira a sua experiência como diretora de um jornal na Europa. Justamente num momento em que o jornalismo passa por uma “crise do papel”, ela traz uma proposta inovadora, o “Notícias em Português”, um  jornal impresso baseado em Londres, feito de forma comunitária e que tem sido referência há 16 anos para quem fala português no reino Unido.

Cristiane compartilhou com os estudantes vários exemplares de jornais impressos e revistas. Segundo ela, cerca de 350 mil brasileiros e mais de 90 mil portugueses vivem em Londres e não havia um jornal para esse público. Ela diz que a relação dos britânicos com o jornalismo é muito forte. “Sempre foi assim. A maneira como as pessoas vivem, a sociedade já está estruturada para os hábitos de leitura. O transporte público é muito utilizado e as pessoas pegam muito o jornal para ler”, relata.

Comparado ao cenário brasileiro, a jornalista diz que as mídias digitais de lá têm uma velocidade diferente do que em países latino-americanos e que estamos vendo isso hoje no Brasil. “O custo digital é muito mais baixo, o que o faz ganhar mais espaço em detrimento do impresso”. Cristiane complementa afirmando que lá o modelo de negócio no jornalismo está estruturado nos dois meios – digital e impresso. “Mas lá é hábito das pessoas pegarem  no papel para se informar”, completa.

Cristiane tem bons motivos para acreditar que o jornal impresso não vai acabar tão cedo – se acabar. O “Notícias em português”, por exemplo, é sustentado por meio de anúncios publicitários, pois cerca de 4,8 milhões de pessoas utilizam o transporte público por dia em Londres e costumam passar longas horas em deslocamento. Os jornais prestam serviços com diversas informações, distribuídos gratuitamente.

“Esse é o jornalismo comunitário, pois temos um público que não fala inglês, não consegue se situar e nem obter informações. Eles precisam da gente. A função comunitária fica cada vez mais forte, porque a pessoa vai pegar o nosso jornal porque precisa da informação”, conclui.

A inciativa da palestra foi do coordenador do curso de Jornalismo, Guilherme Carvalho, e contou com a presença de professores e alunos no auditório do campus Tiradentes. Silvia Valim, professora de Jornalismo, considera importante essa aproximação com a jornalista que atua numa cidade multicultural como Londres. “Reconhecer possibilidades para o jornalismo abre campo, expectativas e amplia sonhos para o futuro jornalista. Percebemos que o aluno fica motivado conhecendo mais uma forma de atuar na profissão”, diz.

Edição: Mauri König

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