Cão-guia, bem mais que um cachorro

 

Heloisa Alves Ribas – Estagiária de Jornalismo

Ter um cão-guia é a possibilidade de uma qualidade de vida melhor para muitas pessoas com deficiência visual, mas no Brasil este sonho se torna muito difícil — algo próximo do impossível. Sete mil brasileiros com deficiência visual estão na fila de espera por um cão-guia, para uma disponibilidade de apenas 120 animais treinados. Porém, quem tem um sonho não pode desistir.

É o caso de Daniel Marllon Massaneiro, deficiente visual que há 10 anos vislumbrou o seu sonho se tornando realidade. Ele é colaborador do Grupo Uninter no Instituto IBGBEX e, já formado em Direito, e até o fim deste ano concluirá o curso de graduação em Pedagogia.

Daniel fez sua inscrição em uma ONG para adoção de cão-guia no Brasil, mas não obteve resposta. Um tempo depois, por meio da conquista de um amigo, também com a mesma deficiência, conheceu a ONG norte-americana “Pilot Dogs”, que fica em Columbus, no estado de Ohio.

Como no Brasil as chances eram muito pequenas, ele viu no Exterior uma forma de realizar o seu sonho. Mas tinha um empecilho, não sabia falar inglês. “Mesmo assim, mandei um e-mail para a ONG falando sobre a minha vontade e perguntando se seria possível levar um intérprete. Logo depois me responderam dizendo que eles mesmos iriam providenciar um intérprete e que iriam arcar com todos os custos enquanto eu estivesse nos Estados Unidos. Paguei apenas o visto, o passaporte e as passagens de ida e volta ao Brasil”, conta Daniel.

Depois de acertar todo o procedimento, em outubro de 2016 começou a parte burocrática, e essencial, tendo de fazer diversos exames de comprovação de estado de saúde e formulários que confirmassem a cegueira. Tudo isso constando várias assinaturas de testemunhas para cada um dos sete formulários. Quinze dias depois, foi convocado para ir aos Estados Unidos. Contudo, por causa do pouco tempo para emissão do passaporte, não conseguiu ir. Passado alguns meses, em março, foi convocado novamente. Agora, tinha tudo o que precisava em mãos.

“Fiquei admirado com a seriedade e compromisso da ONG, que em todo momento me prestou auxílio e tirou todas as dúvidas. Eles também tiveram a preocupação de confirmar com as minhas testemunhas aspectos sobre a minha personalidade, o que achei muito legal”, diz.

Foram 20 dias de treinamento nos Estados Unidos. Daniel conta que teve seu primeiro contato com Hazel, uma Golden Retriever de 1 ano e meio, logo nos primeiros dias no alojamento. Ele e os outros colegas abandonaram suas bengalas e desde então só puderam andar com seus cães. O contato entre os dois é na língua inglesa, visto que os comandos como “direita”, “esquerda”, “meio fio” foram ensinados nos Estados Unidos.

A volta ao Brasil, agora com sua fiel companheira, fez Daniel ter um frio na barriga, mas só no início. “A Hazel ficou um pouco impaciente quando o avião decolou. Ela estava sentada em uma poltrona do meu lado e ficou agitada. Foi então que lembrei dos biscoitinhos que a ONG havia dado para isso mesmo. Depois que dei para ela, ficou tranquila nas outras conexões”, diz ele. O cão-guia possui um passaporte específico, o que facilitou para esta e as futuras viagens.

Instituto IBGPEX

Adenir Fonseca dos Santos, gestora do IBGPEX, explica que o instituto possui como missão a inclusão social por meio da educação e um dos projetos que constituem a missão é o Projeto Ser Capaz, que visa a capacitação de pessoas com deficiência para o mercado de trabalho e a preparação para a vida em sociedade.

“Como o projeto tem esse objetivo e o Daniel trabalha aqui conosco no IBGPEX, propomos uma parceria de divulgação sobre o cão-guia. Serão várias ações para explicar a importância desse amigo ao deficiente visual, com palestras, vivências, oficinas, dicas de como conviver com a pessoa cega e seu cão-guia. Iremos em todos os nossos campis para que todos tenham a oportunidade de conhecer o que é o cão-guia”, explica Adenir.

Para melhor adaptação do cão-guia na instituição, o IBGPEX buscou auxílio do setor de segurança e inteligência e também do setor de arquitetura. Segundo Adenir, os setores já estão vendo a questão de ambientação de Hazel no espaço em que Daniel trabalha.

Ana de Paula Siqueira, do setor de segurança e inteligência, diz ser importante que as pessoas que convivem em um ambiente que possui um cão-guia saibam como agir, pois ele não é apenas um cachorro, é um cão-guia e está trabalhando. Ou seja, não podem ficar mexendo com o cachorro e nem dar nada para ele comer, por isso serão necessárias essas ações do instituto.

“O Daniel é um menino que tem batalhado muito pela questão de inclusão social das pessoas cegas. Faz bastante tempo que está nesse processo e para nós é muito bom tê-lo aqui no instituto porque além de tudo ele exerce muito bem esse papel de divulgação da inclusão perante nossos colaboradores e perante a comunidade”, conclui Adenir.

Para conhecer a “ONG Pilot Dogs” clique aqui.

Edição: Mauri König

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